quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Mais sobre o comércio carioca

O olhar de Carlos Drummond de Andrade destaca outra loja, dentre as pioneiras e importantes lojas cariocas.

Em uma de suas crônicas, consciente das metamorfoses, o autor analisa as transformações impostas pelo processo de modernização da cidade, reconhecendo que a morte da cidade é também a sua própria morte. Tal descoberta ocorre quando o cronista constata a demolição de O camiseiro, “uma loja tão dentro da vida carioca”

O CAMISEIRO foi loja fundada pelo português Agostinho Pereira de Souza, que teve seu primeiro emprego na Alfaiataria "O Fonseca", na rua do Ouvidor. Depois, passou por várias outras firmas, como  "Barbosa Freitas", "Camisaria Universo", "Fábrica Confiança", "O Cisne" e por fim a "Camisaria Brandão", de onde saiu para fundar a sua própria firma, O Camiseiro, em 1.° de maio de 1919, na Rua da Assembléia, Centro do Rio.



Rua da Assembléia, no início do séculoXX
A loja chegou a ser uma das maiores firmas no mercado de confecções de camisas no Rio de Janeiro. Agostinho foi o criador de grandes promoções, como "As Loucuras de Maio", festejando anualmente o aniversário da firma, com preços muito abaixo do custo, arrastando verdadeiras multidões à sua casa comercial.

Em 1937, depois de uma briga entre clubes cariocas e a conseqüente cisão de quatro anos de duração, Vasco e América conseguem a reconciliação no futebol do Rio de Janeiro. Graças à iniciativa dos presidentes de Vasco e América, respectivamente Pedro Pereira Novaes e Pedro Magalhães Corrêa, no dia 29 de julho, foi criada a Liga de Football do Rio de Janeiro. Para comemorar a vitória fora de campo, os dois times se enfrentaram em São Januário, dois dias depois da criação da Liga, em partida com renda recorde na cidade.

Em 31 de julho de 1937, com 25 mil presentes e salva de 21 tiros, São Januário foi palco da festa que selou o fim da crise no futebol da então capital do país. Promotores da concórdia, Vasco e América se enfrentaram no primeiro jogo de uma melhor de três. O vencedor ficaria com o Troféu da Paz, homenagem de O Camiseiro.

Um reclame da época do rádio dizia

Quem vai ao Camiseiro
Vai de vento em popa

Com pouco dinheiro

Traz muita roupa


Uma curiosidade: a concorrência se inspirava e copiava a criatividade de O Camiseiro.

A Camisaria Cruzeiro, na mesma rua e calçada,  pra concorrer com as Loucuras de Maio, se antecipava e lançava os Escândalos de Abril





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