Dois de setembro de 2004 é uma data que a diarista Maria José da Costa e Silva jamais vai esquecer.
Naquela terça-feira, por volta das 9h, quando chegou à casa de seu patrão, o estilista
Amaury Veras, ela encontrou inclinado sobre o corpo inerte de Amaury, que tinha um corte profundo acima do supercílio esquerdo e um sulco arroxeado em torno do pescoço, o ex-companheiro dele, o empresário argentino
Frankie Mackey tentava reanimá-lo fazendo respiração boca a boca. Maria desceu até a portaria e pediu ao zelador, Severino Sabino, que chamasse a polícia.
Na sua vez de depor, Frankie deu a entender que Amaury havia se matado porque atravessava uma crise financeira e enfrentava problemas de saúde.
Figuras conhecidíssimas na alta roda carioca, os dois imprimiram seu nome na moda do Rio ao inaugurar a marca Frankie Amaury, de roupas de couro, cujas peças se tornaram um must entre as celebridades dos anos 1980.
Juntos havia mais de 30 anos, eles chegaram a levar uma vida de casados. Desde sempre, porém, o relacionamento dos dois era turbulento, cheio de idas e vindas. O estilo de vida tipo montanha-russa de Frankie ganhava potência graças ao uso abusivo de álcool e cocaína.
Na ocasião da morte trágica de Amaury, os dois ainda brigavam, mas havia muito tempo que a relação era só de amizade. Por causa da falência financeira (maior) de Frankie, Amaury tinha aceitado acolhê-lo em casa.
Na primavera de 2004, as brigas tinham chegado ao fim. Ou melhor, ao fim de Amaury. Frankie, o sobrevivente, fazia tudo para convencer as autoridades que o amigo havia se enforcado. Argumentava que o ferimento na testa era decorrência do tombamento do corpo de Amaury no momento em que ele, Frankie, o liberou da echarpe de seda que o mantinha pendurado pelo pescoço acima da porta da sacada do quarto.
Ao tentar provar o que dizia, Frankie enveredava por relatos improváveis, controversos. Suas versões para os fatos mudavam em questão de horas e, assim, em pouco tempo a hipótese de suicídio deu lugar à suspeita de homicídio.
No fim de 2005, ele deixou o Brasil dizendo que ia passar o Natal com a família em Rosario, a 280 km de Buenos Aires, e não voltou mais.
A defesa usou os problemas psíquicos de Frankie para tentar extinguir o processo, mas não funcionou.
Em decisão de 2009, o juiz acatou a denúncia do Ministério Público do Rio, segundo a qual Francisco Agustin “Frankie Mackey “consciente e voluntariamente (…) desferiu forte golpe com instrumento contundente na região frontal, sobre o supercílio esquerdo da vítima, Amaury Veras, causando-lhe uma ferida na forma de fenda, medindo 37 mm por 11 mm (…). Igualmente com o ânimo de matar, asfixiou-o mediante enforcamento, colocando um laço em torno de sua garganta, pendurando-o na porta de seu quarto pelo pescoço (…)”. Em outras palavras, ele era acusado de homicídio triplamente qualificado – por motivo torpe, emprego de meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima.
Depois de agravos negados em todas as instâncias, o júri finalmente foi marcado para o dia 27 de março de 2014. Como duas testemunhas faltaram, o MP pediu que as substituíssem pelos peritos que trabalharam no caso. Assim, o julgamento foi adiado para o dia 5 de fevereiro de 2015.
No dia 1º de janeiro, aos 63 anos, Frankie Mackey morreu, na Argentina, em decorrência de problemas cardíacos. Seu advogado, Luciano Saldanha Coelho, apresentou o atestado de óbito na véspera do julgamento.