quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

FELIZ RIO

 O blog vai dar uma parada e deseja a todos um 

E mais do que isso... um FELIZ RIO

  Pra essa
Cidade de vida
Cidade de garra
Que vence na marra
Não se entrega, não.

Ah... esse RIO
que mora no coração da gente
Ah... esse RIO QUE MORA NO MAR...



DEZEMBRO, NOEL ROSA, O POETA DA VILA, 100 ANOS










sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Complexo do Alemão, o início de uma história

Os tristes episódios desse final de novembro, na Vila Cruzeiro, expondo a ferida latente da marginalidade na cidade, nessa favela da Penha - Penha significa pedra -  subúrbio carioca, dá vontade de saber a origem dessa região.

O Complexo do Alemão abrange os bairros da Penha, Olaria, Ramos, Bonsucesso e Inhaúma e possui 12 comunidades.

São elas: Morro da Baiana, Morro do Alemão, Alvorada, Matinha, Morro dos Mineiros, Nova Brasília, Pedra do Sapo, Palmeiras, Fazendinha, Grota, Vila Cruzeiro e Morro do Adeus

O seu núcleo é o Morro do Alemão, cuja denominação foi adotada para todas as áreas adjacentes, as quais integram o  Complexo e localizado nas terras da Serra da Misericórdia.

A Serra da Misericórdia é uma formação geológica de morros e nascentes naturais, quase toda destruída pela construção do Complexo, mas ainda assim, a última área verde da Leopoldina. É um território de 43,9Km2, localiza-se numa faixa de planície entre a Baía de Guanabara e parte do Maciço da Carioca, sendo entrecortada pela Ferrovia da Leopoldina.

Desde o século XVII servia como divisor entre as importantes freguesias rurais de lnhaúma e Irajá, que mais tarde se converteram em freguesias urbanas e finalmente em bairros da cidade do Rio de Janeiro. Restam nela poucas áreas verdes  e alguns pontos de nascentes de rios que são usados como fonte de água pela população. Uma pena que logo após a nascente, os rios já se tornem valões de esgoto. A Pedra da Penha e a Pedra Bicuda ainda resistem. A primeira por abrigar a Igreja da Penha, e a segunda por obra e graça da sociedade civil organizada.

Também, boa parte da serra foi destruída devido às pedreiras, muito comuns na segunda metade do século XX, hoje proibidas na região, considerada Área de Proteção Ambiental, embora subsistam algumas ilegamente.

A história do  nome ALEMÃO remonta à década de 20  - do século XX - , no período após a 1ª Guerra Mundial, quando um imigrante de origem polonesa, Leonard Kaczmarkiewicz, chegou ao Rio de Janeiro e adquiriu terras na Serra da Misericórdia, que correspondia à região rural da Zona da Leopoldina. Até o final da década de 40, essa área tinha esta vocação rural.

Branco, alto, sotaque estrangeiro, faziam com que os moradores da região passassem a se referir ao proprietário da fazenda, Leonard Kaczmarkiewicz, como o "alemão". E,  a localidade como "Morro do Alemão".

A partir de 1951, Kaczmarkiewicz resolveu dividir o seu terreno em lotes e  vendê-los. Famílias que buscavam moradias baratas na Zona Norte, ali se instalaram e  na década de 60, um grande fluxo de migrantes nordestinos se fixou no local.

Uma nobreza esquecida

Em meio a casebres na Favela da Fazendinha, em Inhaúma, no Complexo do Alemão, um casarão antigo se destaca.  Segundo o historiador Milton Teixeira  ele foi construído no início do século XX.

Típico chalé suburbano, provavelmente parte de uma chácara, hoje desmembrada, nela, morou a viscondessa de Embaré -  Josefina Carvalhais Ferreira -  viúva de Antônio Ferreira da Silva, o visconde de Embaré.
A casa é o último resquício do passado no Alemão, onde Josefina morreu na primeira década do século XX, com cerca de 80 anos. Mas ainda em vida, a viscondessa doou os bens da família, em Santos (onde o marido havia nascido) e no Rio, para caridade.

No casarão, no Alemão, funciona a Associação Mantenedora Casa Nossa Senhora de Piedade e permanece a maior parte do tempo fechado e por vezes abriga eventos comunitários, como festas juninas. No seu jardim maltratado, há uma imagem da santa que dá nome à associação.

Os moradores mais antigos sempre aprenderam que  Carlota Joaquina, mulher de dom João, morou na casa. A informação até hoje não encontrou confirmação histórica. Quem sabe?

A ignorância sobre a história do local - mais uma vez culpa da falta de respeito e preservação da memória -  faz com que os moradores da comunidade digam que o imóvel é mal-assombrado. Eles  o chamam de asilo, porque já foi usado como abrigo para idosos.

Foto Marcos Tristão_GloboOnline/ reprodução
 

A Vila Cruzeiro

A sua ocupação se deu, no final do século XIX, com escravos fugidos, que tinham a proteção do Padre Ricardo, que era republicano e abolicionista.

Ele os abrigava em sua casa, e depois passaram a ocupar o morro. Sendo assim, o lugar ficou conhecido como Quilombo da Penha

A Penha, ainda com características rurais 


A Vila Cruzeiro início da ocupação

Nos anos 80, o número da população aumentou de forma bastante significativa, na localidade, em decorrência das invasões que ocorreram, autorizadas pelo então Governador do estado do Rio de Janeiro, o funesto Leonel Brizola. E junto, como toda herança deixada por esse lamentável (des)governo, a desordem, o descaso, a falta de infraestrutura, que se seguiram nos governos seguintes de seus herdeiros políticos, igualmente populistas e incapazes, forasteiros, de outras terras.

Trinta anos de gente descomprometida com a realidade carioca. Com o amor a essa terra.

NOVOS TEMPOS! SEJAM BEM-VINDOS!




quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Esse fim de semana tem Feira da Providência...

atualizado em NOV2017



... e é a de número 50, nesse ano de 2010.

A primeira Feira da Providência foi no Piraquê.1961. Quem lembra?

Primeiro cartaz

Em 62, na Sociedade Hípica Brasileira. Nessa, EU FUI!



E também estive em  63,  no Iate Clube do Rio de Janeiro, e em 64, no Parque Lage. A cada ano o local crescia e a feira ficava cada vez mais entupida.

De 65 a 77 , a feira aconteceu na avenida Borges de Medeiros, onde era o maior barato!

O footing na orla da Lagoa, os importados tão inacessíveis e cobiçados que provocavam empurrões. Ah! o chocolate belga ... quanta fila... Tempos românticos, de quando se fechava a Lagoa por 3 dias. Nos dias atuais, nem pensar.

Saudades... 


Cartaz da primeira Feira da Providência na Lagoa, em 65



Desde 1978, a feira é realizada no RioCentro.
Uma pena.
Mas a finalidade da feira continua bonita, grandiosa e nobre,
como sonhou D. Helder Câmara.














A última Feira da Providência, que se despediu da Zona Sul, foi em 1977.
Quem ia por lá todos os anos, sabe que era muito bom!






quarta-feira, 24 de novembro de 2010

E por falar em casas...

O casario do posto Seis, em Copacabana, nas lentes de Augusto Malta.
Em destaque a avenida N S de Copacabana com terrenos vazios.


Reprodução
 
 
 
 

sábado, 20 de novembro de 2010

As últimas casas do Leblon

Uma das últimas casas das quadras paralelas à Praia do Leblon vai ao chão em breve para dar lugar a mais um prédio de apartamentos de alto padrão.

Localizado na Rua José Linhares 21, o imóvel de dois andares e subsolo foi vendido há três meses à construtora Concal, que pretende erguer no local um empreendimento com três apartamentos - dois duplex e um triplex.

( Foto: Marcelo Piu - O Globo) 

Fora do perímetro da Área de Proteção ao Ambiente Cultural (Apac) do Leblon e a poucos metros da orla, a casa, erguida num terreno de cerca de 200 metros quadrados, foi negociada numa transação milionária, cujos valores são guardados a sete chaves pela construtora.(*) Batizado de Conde San Remo, o novo prédio já teve as unidades vendidas - por valores variando entre R$ 4,5 milhões e R$ 6,5 milhões - antes mesmo de o imóvel ser demolido.


A  casa pertencia ao jornalista Ricardo Boechat ( na foto toda pichada) e  o prédio, a ser construído, terá 25 metros de altura - o máximo permitido para a rua pelo Plano de Estruturação Urbana (PEU) do Leblon. Os apartamentos terão entre 195 e 321 metros quadrados e pelo menos duas vagas de garagem cada um.

Casas fora da Apac são cobiçadas por construtoras

As casas da praia ou próximas a ela não são os únicos alvos do mercado imobiliário no Leblon. Com os espaços para construção ficando cada vez mais escassos no bairro, os olhos das construtoras têm se voltado aos pequenos prédios não protegidos pela Apac. De acordo com o presidente da Concal, de 50 a 60 pequenos imóveis multifamiliares são considerados hoje potenciais negócios futuros. Eles reúnem condições favoráveis por não contarem com garagens ou elevadores, acumularem problemas de conservação ou dívidas em tributos ou terem proprietários mais permeáveis a negociações. Só a Concal ergue no momento cinco obras na área, sendo quatro no Leblon e uma em Ipanema. E está em negociação avançada com os donos de outros três imóveis.

- Essas cinco obras estão totalmente vendidas antes de estarem prontas. Para cada unidade construída hoje no Leblon, temos uma lista de espera de três pessoas - diz Caldas.

Raridades no bairro, poucas casas ainda resistem aos apelos do mercado imobiliário.

Com a iminente demolição na José Linhares 21, restarão ainda, nas quadras da praia, um conjunto de três casas: na esquina das ruas Rainha Guilhermina e General San Martin, duas delas ocupadas por empreendimentos comerciais; uma na Rua Aristides Espíndola 19, onde funciona o tradicional restaurante Antiquarius; dois imóveis geminados na Avenida Delfim Moreira; e as casas de vila da Rua Leblon.

FONTE: OGlobo Online


(*) Um adendo:não saiu por menos de R$ 5 milhões, pelos preços de mercado

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Comida carioca


Os pratos típicos cariocas, influência  da colonização portuguesa  estão sumindo dos nossos restaurantes. Infelizmente. O fast food, cardápios europeus e orientais são facilmente encontrados no Rio. No entanto, o gosto das nossas tradições lusas, das receitas dos nossos antepassados estão sumidos.
Como é difícil encontrar uma boa rabada, língua ensopada, bife de fígado, sardinhas fritas, ensopadinhos, picadinhos, dobradinha, mocotó, bife de panela,...

Nada contra kebabs, temakis, yaki, wok (sobas) , hots, shakes, burguers, e outras diversas opções. Mas perde-se a tradição dos sabores de 445 anos de história. Sabores nos dias de hoje muito escassos, principalmente pela  morte de estabelecimentos centenários, como um Penafiel -   e sua deliciosa gastronomia portuguesa -  que não se sustentaram aos modismos.

Atualmente, estão querendo tombar a culinária francesa como Patrimônio Imaterial da Humanidade. E com razão, pois as tradições dos paladares, da mesa, mostram muito bem a história de um lugar.

Muitos da cidade ou que vêm à cidade não comem mais ou nunca comeram, provaram ou sequer ouviram falar dessas delícias, que hoje só existem nas mesas de famílias, que preservam as receitas das vovós. Algumas iguarias ainda resistem em cardápios de poucos bares e restaurantes tradicionais da cidade, como o Lamas no Flamengo, ou o Bar Brasil, o Bar Luiz, e o Nova Capela no Centro.

Uma pena...

Mas pra quem provou e ainda come... vai aí um ensopadinho de chuchu com camarão?



Que tal? Hummmmmm.....

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Anos 70

Os anos 70 marcaram várias modificações no Rio de Janeiro , e em seus costumes, que definiriam uma nova cidade.

Muito do traçado carioca foi alterado, como a duplicação da Avenida Atlântica, um novo acesso à Barra, o Túnel sob o Joá - veja no post - ;  a ponte Rio-Niterói, o início das obras de construção do metrô, o aparecimento das passarelas, a invasão dos fuscas, o aparecimento dos shoppings, a ousadia nas praias com o surgimento da tanga.

Mas muitas idéias não sairam do sonho. Veja só a imagem abaixo.

A foto montagem ,ao lado,  de 40 anos atrás,  revela projetos que nunca se concretizaram.

(Clique na foto pra vê-la maior)


Na foto, à esquerda, a Igreja de Santa Terezinha do Menino Jesus, à entrada do Túnel Novo e a seu lado o terreno vazio, onde mais tarde se reergueria o Shopping RioSul. À direita, dois túneis, ladeando a Ladeira do Leme, que nunca foram abertos.

Que tal? Você soube disso?


sábado, 13 de novembro de 2010

Rio em 360º

Aprecie a Cidade Maravilhosa.
Sempre faz bem.



terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tunel do Joá


Essa foto de 1970 mostra a construção do Tunel do Joá, e o elevado de acesso.
Essa opção de chegada à Barra da Tijuca e zona Oeste tão utilizada nos dias atuais foi grande novidade há 40 anos.

sábado, 6 de novembro de 2010

Samba Carioca

Foi em um dia 6 de novembro, em 1916 - há 94 anos -  que Donga -  Ernesto Joaquim Maria dos Santos -  registrou como sua composição na Biblioteca Nacional, o primeiro samba do Brasil , o Pelo Telefone, que teve sua primeira gravação feita pela banda da Casa Edison.

Esse gesto, à época,  foi amplamente contestado pelo grupo que considerava a música uma reunião de vários estribilhos ouvidos, assim uma criação de caráter coletivo, nascida em reuniões de música, na casa de Tia Ciata.


O Brasil inteiro cantou esse meio maxixe, que estourou no carnaval de 1917 ,  que muita gente conhece e que virou um clássico da MPB.




 O chefe da polícia
Pelo telefone
Manda me avisá
Que na Carioca
tem uma roleta
Para se jogá...

que mais tarde apareceu uma outra versão para a letra,
(não tão saborosa quanto a primeira, que narra  um episódio acontecido)

 O chefe da folia
Pelo telefone
Manda me avisá
Que com alegria
Não se questione
Para se brincá...


O vídeo abaixo é um clássico da antiga TV Record de São Paulo, que vale a pena ser visto e revisto. Esse encontro histórico de bambas da música brasileira se deu em um programa da Hebe Camargo,  em 1966. Aqui, no Rio, a programação da Record era transmitida pela extinta TV Rio, canal 13.
No dia que aconteceu, eu, da sala da minha casa assisti. Meninos eu vi!






sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O abraço do Cristo

O lançamento de uma campanha resultou em um belo espetáculo, quando oito projetores envolveram a estátua do Cristo Redentor com imagens da cidade do Rio de Janeiro e de animações em 3D, culminando com um "grande abraço".

Música de Villa Lobos, Bachianas Brasileiras no. 7.

A campanha Carinho de Verdade teve a direção do cineasta Fernando Salis.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Raquel de Queiroz, atualíssima


A crônica “Votar”
da  escritora Raquel de Queiroz, 
publicada na revista “O Cruzeiro”, 
em 1947, 
com o objetivo de alertar os eleitores 
da importância do voto.
Parece ter escrito hoje!



  • “Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama govêrno democrático, ou govêrno do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato. No entanto, talvez não exista, mais do que esta, expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: govêrno do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVÊRNO.
    Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar pro determinado prazo de tempo.
    Escolhem-se pelo voto aquêles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas - e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, até o ar que se respira e a luz que nos alumia, até os sete palmos de terra da derradeira moradia.
    Escolhemos igualmente pelo voto aquêles que nos vão cobrar impostos e, pior ainda, aquêles que irão estipular a quantidade dêsses impostos. Vejam como é grave a escolha dêsses “cobradores”. Uma vez lá em cima podem nos arrastar à penúria, nos chupar a última gôta de sangue do corpo, nos arrancar o último vintém do bôlso.
    E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhem-se não só aquêles que vão receber, guardar e gerir a fazenda pública, mas também se escolhem aquêles que vão “fabricar” o dinheiro. Esta é uma das missões mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos. Pois se a função emissora cai em mãos desonestas, é o mesmo que ficar o país entregue a uma quadrilha de falsários. Êles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje não vale mais zero.
    Não preciso explicar muito êste capítulo, já que nós ainda nadamos em plena inflação e sabemos à custa da nossa fome o que é ter moedeiros falsos no poder. (E pensar que isto foi escrito ainda em 1947!)
    Escolhem-se nas eleições aquêles que têm direito de demitir e nomear funcionários, e presidir a existência de todo o organismo burocrático.
    E, circunstância mais grave e digna de todo o interêsse: dá-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de tôdas as fôrças armadas: o exército, a marinha, a aviação, as polícias.
    E assim, amigos, quando vocês forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes fêz um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que é tão amável, parou o automóvel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufrágio - lembrem-se de que não vão proporcionar a êsses sujeitos um simples emprêgo bem remunerado. Vâo lhes entregar um poder enorme e temeroso, vão fazê-los reis; vão lhes dar soldados para êles comandarem - e soldados são homens cuja principal virtude é a cega obediência às ordens dos chefes que lhe dá o povo. Votando, fazemos dos votados nossos representantes legítimos, passando-lhes procuração para agirem em nosso lugar, como se nós próprios fôssem. Entregamos a êsses homens tanques, metralhadoras, canhões, granadas, aviões, submarinos, navios de guerra - e a flor da nossa mocidade, a êles prêsa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra nós e nos destruir, como o mostro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador.
    Votem, irmãos, votem. Mas pensem bem antes. Votar não é assunto indiferente, é questão pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e meçam os candidatos, com muito mais paciência e desconfiança do que se estivessem escolhendo uma noiva. Porque, afinal, a mulher quando é ruim, dá-se uma surra, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o govêrno, quando é ruim, êle é que nos dá a surra, êle é que nos põe na rua, tira o último pedaço de pão da bôca dos nossos filhos e nos faz aprodecer na cadeia. E quando a gente não se conforma, nos intitula de revoltoso e dá cabo de nós a ferro e fogo.
    E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo é muito honesto. Meu amigo e leitor, se você estiver comprometido a votar com alguém, se sofrer pressão de algum poderoso para sufragar êste ou aquêle candidato, não se preocupe. Não se prenda infantilmente a uma promessa arrancada à sua pobreza, à sua dependência ou à sua timidez. Lembre-se de que o voto é secreto.
    Se o obrigam a prometer, prometa. Se tem mêdo de dizer não, diga sim. O crime não é seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da seção eleitoral, você depende e tem mêdo, não se esqueça de que DENTRO DA CABINE INDEVASSÁVEL VOCÊ É UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada à fôrça, e escute apenas a sua consciência. Palavras o vento leva, mas a consciência não muda nunca, acompanha a gente até o inferno”.
(Grafia original mantida)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Nossa Senhora Aparecida


ROGAI POR NÓS!








segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A ENCRENCA é carioca

O uso de estrangeirismo costuma ampliar o vocabulário, enriquecer o idioma. São palavras facilitando a comunicação, a exposição de ideias e simplificando a linguagem.

Muitas nasceram em terras cariocas, fruto de um caldo de vários temperos.

Um delas acabou em... encrenca.
Muitos já conhecem a história, mas vale recordar.

Em meados do século XIX chegavam imigrantes ao Brasil, entre eles judias pobres que acabaram se prostituindo e que ficaram conhecidas como "polacas".

As "polacas" chegaram ao Rio de Janeiro por volta de 1867 e boa parte delas chegava ao Brasil depois de passarem pela cidade de Buenos Aires. Habitavam os bordeis na zona do mangue da cidade, e dái a palavra "zona" passar a significar local de prostituição e as expressões "caiu na zona" ou "uma mulher da zona" ser sinônimo de uma mulher que se prostituíra.

A linguagem das polacas para comunicação entre si era o iídiche, língua bastante utilizada pelos judeus da Europa Central e Oriental, e por aqui, para darem recados entre si.

Na Zona do Mangue, as doenças venéreas eram muito comuns e ao suspeitarem de que um cliente portava algum tipo de doença venérea, elas chamavam o sujeito de “ein krenke”, que em iídiche, o termo era comumente utilizado para definir a ideia de “doença”.

Também usavam a expressão para espantar a polícia, que dava incertas nos bordéis.
Elas gritavam
"ein krenke, ein krenke, ein krenke..."

como um aviso sobre eventuais clientes contaminados, que todos entendiam ... ENCRENCA.

Daí que se conclui que a ENCRENCA é... carioca.

Encrenca que inspirou pinturas de primeira linha.

Quando Lasar Segall chegou ao Rio de Janeiro, no final de 1923, conheceu a região do Mangue. As impressões dessa zona de prostituição carioca resultaram em pinturas, em uma coleção de gravuras executadas em metal e madeira, a partir de 1928, na França, e no álbum Mangue, de 1943. Nas gravuras da série Mangue, os corpos femininos são traçados por linhas arredondadas, guardando sua sensualidade natural, mas as cenas são formalmente tensas. As mulheres se oferecem semiencobertas por venezianas, escondidas por cortinas, de costas ou apenas vislumbradas nas soleiras das portas. Nos anos 1950, o tema da prostituição inspira a série das Erradias.


Xilogravura - Lasar Segall


Di Cavalcanti
foi outro frequentador que com suas geniais curvas e tintas registrou a Zona do Mangue: Mangue, de 1929, grafite e aquarela sobre papel.





sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Primeiro Grande Prêmio de Automobilismo no Rio...


 Atualizado em outubro de 2020



...aconteceu em 1933, e foi vencido por Manoel de Teffé, no dia 8 de outubro, pilotando um Alfa Romeo, no Circuito da Gávea.


Manoel De Teffé ao volante de seu Alfa Romeo campeão


Manuel Antônio de Teffé  (Paris, 30 de março de 1905 — Rio de Janeiro, 1 de janeiro de 1967) que  foi um diplomata e piloto automobilístico brasileiro -  que corria na Europa - teve a idéia de se trazer para o Brasil o circuito de corridas de automóvel, para que o evento tivesse repercussão internacional.

O Automóvel Club do Brasil organizou, então, a prova que fez parte do calendário oficial da Federação Internacional do Automóvel : o Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro.

Devido a seu sucesso nas provas, Teffé, na época com 28 anos de idade, convenceu o prefeito do então Distrito Federal, Pedro Ernesto, a realizar uma prova que tivesse caráter internacional. A ideia foi aceita, sendo então criada a Quinzena do Automobilismo, que consistia na realização de três provas: o Quilômetro Lançado, a Subida da Montanha e o I Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro, no dia 8 de outubro de 1933. 

O I Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro tornou-se a primeira corrida automobilística brasileira de nível internacional, e a primeira a fazer parte do calendário da Association Internationale des Automobile Clubs Reconnus, precursora da Federação Internacional do Automóvel (FIA). 

O local escolhido foi o Circuito da Gávea, um traçado de rua com mais de 11 quilômetros que contornava o Morro Dois Irmãos. A largada era na Rua Marquês de São Vicente, quase em frente a então sede antiga do Automóvel Club do Brasil , seguia pelas Avenidas Bartolomeu Mitre, Visconde de Albuquerque, Niemeyer e Estrada da Gávea, onde hoje é a favela da Rocinha.

Tinha mais de 100 curvas e um traçado desafiador de diferentes tipos de piso: asfalto, cimento, paralelepípedo e areia .

Ainda, no local de largada, os carros tinham de cruzar os trilhos de bonde, muito escorregadios.
Tudo isso junto rendeu ao Circuito da Gávea, o apelido de “Trampolim do Diabo”

O vencedor Manoel de Teffé recebeu os cumprimentos de Getúlio Vargas, presente ao evento, e também um telegrama de felicitações enviado por Benito Mussolini, premier da Itália, o país fabricante da Alfa Romeo com que correu.

Diplomata de carreira, Teffé foi promovido a embaixador dois anos antes de falecer, com quase 62 anos de idade, no Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro e foi sepultado em Petrópolis.

Duas curiosidades:

1. 
No dia 30 de outubro de 1951, chegou ao Brasil a milionária tcheca Dana Edita Fischerova, vinda do México, onde havia se separado de seu terceiro marido, o jornalista mexicano Carlos Denegri. No Rio, em um jantar de gala, conheceu o diplomata Manuel de Teffé e começaram um romance; casaram-se seis meses depois no México, para onde ele foi designado segundo secretário da embaixada brasileira.


O casamento de Dana e Teffé durou até 1960 ou 1961, e eles não tiveram filhos. E ela continuo a usar o sobrenome Teffé apesar da separação.

Em junho de 1961, Dana de Teffé desapareceu. Ela foi vista com vida pela última vez aos 48 anos, no dia 29 de junho de 1961, quando embarcou no carro de seu advogado e namorado, Leopoldo Heitor, em Copacabana. 

Foi supostamente assassinada quando viajava de carro pela Via Dutra, em direção a São Paulo, em companhia de seu advogado, Leopoldo Heitor. Ele cuidara da separação e a representava, inclusive com procuração para cuidar de seus bens - e que ele passou para seu nome tão logo ela sumiu. Leopoldo Heitor chegou a ser acusado e preso, tendo contado três versões completamente diferentes para o desaparecimento de Dana, mas em julgamentos posteriores acabou sendo absolvido, pois nunca encontraram o corpo dela.


2.
O pai de Manuel, o embaixador Oscar de Teffé, construiu um castelo em estilo escocês em Petrópolis: o Castelo São Manoel - o qual ele nomeou em homenagem ao filho. A propriedade foi vendida posteriormente pela família, tendo sido comprada pela Companhia Brasileira Cinematográfica, pertencente a Francisco Serrador.

A área do prédio e o seu entorno hoje correspondem ao bairro petropolitano de Castelo São Manoel. No interior do castelo se encontrava a imagem de Nossa Senhora de Copacabana, trazida de Copacabana, Bolívia, por mercadores do Peru, para o Rio de Janeiro, ainda no século XV. Foi em homenagem à virgem que o bairro carioca de Copacabana passou a ter esse nome. Para abrigar a santa, foi construída uma capela onde hoje se encontra o Forte de Copacabana. Em 1916, quando a capela foi destruída, a imagem foi novamente confiada à família Teffé, que a conservou no Castelo São Manoel.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A linda restinga da Marambaia...

...que nessa primavera vale recordar.


Recebi esta foto de Ricardo Zerrenner, inserida em um bonito pps sobre a Baía de Sepetiba. A restinga da Marambaia é um belo local preservado do Rio.

Aliás, a Marambaia foi fonte de inspiração e título da composição de Henricão ( Henrique Filipe da Costa) e Rubens Campos - uma das primeiras composições da dupla - gravada por Carmen Costa em 1942 .

Elis Regina
no histórico show Saudade do Brasil, no Rio de Janeiro, no Canecão, em 1980, incluiu essa canção. Veja aqui.

Eu tenho uma casinha
lá na Marambaia
Fica na beira da praia,
só vendo que beleza

Tem uma trepadeira
que na primavera
Fica toda florescida
de brinco de princesa

Quando chega o verão
eu me sento na varanda
Pego um violão
e começo a tocar

E minha morena
que esta sempre bem disposta
Senta ao meu lado
e começa a cantar


Quando chega a tarde
um bando de andorinhas

Voa em revoada
fazendo verão

E lá na mata
o sabiá gorjeia
Uma linda melodia
pra alegrar meu coração

Às seis horas da tarde
o sino da capela
Bate as badaladas
da ave-maria

E a lua nasce
por detrás da serra
Anunciando
que acabou o dia!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

No Balanço de João Roberto Kelly

No FESTIVAL DO RIO, neste mês de outubro, está sendo exibido um curta sobre o grande compositor carioca JOÃO ROBERTO KELLY - No Balanço de Kelly, de Andre Weller - com suas histórias, suas músicas.



Vale conferir!



Pra dar água na boca, dois trechos.






sábado, 2 de outubro de 2010

Ainda em tempo de eleições

Há 100 anos, uma campanha para as eleições de 1910 marcou a história do Brasil:
a de Rui Barbosa à Presidência da República.


Nessa campanha, a Campanha Civilista - uma oposição civil à candidatura militar do Marechal Hermes da Fonseca, apoiado pelo então presidente da república Nilo Peçanha - Rui tinha como candidato a vice-presidente, o presidente do estado de São Paulo, Albuquerque Lins, o que provocou uma ruptura da política dos estados e da política do café com leite. São Paulo e Minas Gerais em campos opostos nesta eleição, que se realizou em 1 de março de 1910.

Rui Barbosa percorreu o Brasil em busca de apoio popular, fato até então inédito na vida republicana brasileira, e assim, há cem anos, Rui lançou o marketing político: sua campanha tinha bottons e distribuição de santinhos.



Botton


Santinho



Com grande capacidade de mobilização, Rui deu início à era dos grandes comícios, reunindo dezenas de milhares de pessoas nas ruas das capitais e grandes cidades.
No Rio de Janeiro, cerca de 30 mil foram ouvir Rui Barbosa na Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco.

Sua campanha com grande conteúdo - diferencial primordial e escasso até hoje- levava sua mensagem de mudança num corpo a corpo inédito, o que marcou a campanha para as eleições de cem anos atrás.

Sem nenhuma surpresa, Rui Barbosa perdeu para Hermes da Fonseca, que foi eleito presidente, em um processo eleitoral viciado. Filme repetido e muito visto pelas nossas terras. Infelizmente.

sábado, 25 de setembro de 2010

Saudades do cinema PAX


O PAX foi inaugurado em 1952, em frente à Praça Nossa Senhora da Paz, no bairro de Ipanema, em terreno de propriedade da Igreja Católica. Seu empreendimento foi um dos investimentos do Frei Leovigildo Balestieri, pároco da Igreja de Nossa Senhora da Paz.
Na cidade, aliás, havia outros cinemas da Igreja Católica: o Santo Afonso, o Fátima e o Roma. Todos foram demolidos no final dos anos 70.
No lugar do cinema está o Forum de Ipanema, point da moda e sofisticação.
Eu me lembro do último filme que ali passou: À procura de Mr Goodbar. Fui ver, claro, pra me despedir.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dia da Árvore

Nesse Dia da Árvore,
lembramos uma das árvores mais populares no Rio:
o algodoeiro da praia.

Hibiscus tileacius, seu nome científico, está presente em toda a cidade e, muito, ao longo da orla carioca, quando a queda de sua flores enfeitam e criam um belo tapete amarelo nos mosaicos das calçadas.



Flor localizada na Cidade Universitária, na Ilha do Fundão - Foto UFRJ/ Reprodução

domingo, 19 de setembro de 2010

Elton Medeiros



Nascido no bairro carioca da Glória e considerado um dos melhores melodistas e ritmistas da história do samba, Elton Medeiros foi um dos principais frequentadores do ZICARTOLA, o restaurante musical de Cartola - de quem é parceiro na linda O sol nascerá - , localizado em um sobrado na Rua da Carioca, no início dos anos 60.

Em 1965 participou do lendário musical Rosa de Ouro, e é o autor da musica-tema, em parceria com Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, um dos criadores do show.

Elton Medeiros completou 80 anos em julho e o programa Sarau, da Globonews produziu, em duas partes, uma bela homenagem. Nele, a presença maravilhosa de Hermínio Bello de Carvalho e duas lindas canções que há muito não se ouvia - Psiquiatra e Folhas no Ar - na bela interpretação de Zé Renato, outra fera da nossa música.

Vale a pena ver e rever. Clique e curta!



sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Saudades da Atlântida...sempre!

No dia 18 de setembro de 1941, a Atlântida Empresa Cinematográfica do Brasil, que criou a chanchada, foi fundada no Rio de Janeiro por Moacir Fenelon e José Carlos Burle.


Abertura dos filmes da Atlântida, no cinema


Durante quase dois anos ela produziu somente cinejornais, o primeiro deles, o Atualidades Atlântida.

O primeiro grande sucesso da empresa, por incrível que pareça foi um drama, Moleque Tião , lançado em 1943, baseado na vida do ator Grande Otelo e por ele estrelado. Hoje, infelizmente, não existe nenhuma cópia do filme.

Aos poucos a linha dos filmes da produtora foi se modificando e ficando mais leves, trazendo o humor inocente e a influência dos musicais da Broadway.

Dois pontos foram importantes na trajetória da Atlântida: o filme Tristezas Não Pagam Dívidas, de 1944, quando Oscarito e Grande Otelo atuaram juntos pela primeira vez e a estréia de Watson Macedo, em 1945, que se transformou num dos grandes diretores da companhia.

Mas é com Este Mundo é um Pandeiro, de 1947, que a chanchada transforma-se na marca registrada da companhia. Nele, Watson Macedo delineia com grande precisão as características fundamentais das chanchadas como a paródia à cultura estrangeira, Hollywood em particular, e crítica às mazelas da vida pública e social do país.

Desse filme, consta a cena clássica em que Oscarito imita Rita Hayworth no fime Gilda.

Com a saída e Watson Macedo, estréia na Atlântida, em 1953, outro jovem diretor, Carlos Manga. Seu primeiro filme na companhia, A Dupla do Barulho, foi um grande sucesso.

E depois, vários outros vieram... Nem Sansão Nem Dalila, paródia do clássico Sansão e Dalila, de Cecil B. DeMille, Matar ou Correr, sátira do longa Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann, famoso nos anos 50 pelo gênero faroeste; Carnaval Atlântida, uma brincadeira contando a história da produtora de um tal "Cecílio B. de Milho". Também curtimos Colégio de Brotos, De Vento em Popa - com Oscarito dançando rock´roll- , O Homem do Sputnik, Os Dois Ladrões, e a impagável "cena do espelho" com Oscarito imitando os trejeitos de Eva Todor e vários outros. A lista é longa: 66 filmes até 1962.

Cena do espelho em Os Dois Ladrões


Que bom que vi muitos e muitos deles. E revi vários!

Ah! filmes da Atlântida...
... de doces lembranças de Oscarito e Grande Otelo, Cyll Farney, Anselmo Duarte, Eliana, Fada Santoro, Adelaide Chiozzo, Sonia Mamede, José Lewgoy, Renato Restier, Jaime Filho, Violeta Ferraz, Zezé Macedo e várias estrelas de uma constelação especial que encantava minhas matinês de infância.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Flamengo com e sem aterro

Pra quem morou no bairro do Flamengo, como eu, nos anos 50 e 60, ver as duas fotos abaixo, bate grande recordação. Arrepia.





Praia do Flamengo em 1950, sem aterro.

Aterro do Flamengo, em construção, em 1960
O Monumento aos Pracinhas coberto por andaimes.


domingo, 12 de setembro de 2010

DELICADEZA, SEMPRE!!!

Vale nesse domingo recordar a bela crônica de Affonso Romano de Sant'Anna, In Tempo de delicadeza. Mais uma crônica de todos os tempos.




"Sei que as pessoas estão pulando na jugular uma das outras.
Sei que viver está cada vez mais dificultoso.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas
Mas talvez por isso mesmo ou, talvez, devido a esse maio azulzinho, a esse outono fora e dentro de mim, o fato é que o tema da delicadeza começou a se infiltrar, digamos, delicadamente nesta crônica, varando os tiroteios, os seqüestros, as palavras ásperas e os gestos grosseiros que ocorrem nas esquinas da televisão e do cinema com a vida.



Talvez devesse lançar um manifesto pela delicadeza. Drummond dizia: "Sejamos pornográficos, docemente pornográficos". Parece que aceitaram exageradamente seu convite, e a coisa acabou em "grosseiramente pornográficos". Por isso, é necessário reverter poeticamente a situação e com Vinícius de Morais ou Rubem Braga dizer em tom de elegia ipanemense:

Meus amigos, meus irmãos, sejamos delicados, urgentemente delicados.
Com a delicadeza de São Francisco, se pudermos.
Com a delicadeza rija de Gandhi, se quisermos.


Já a delicadeza guerrilheira de Guevara era, convenhamos, discutível. Mas mesmo ele, que andou fuzilando pessoas por aí, também andou dizendo: "Endurecer, sem jamais perder a ternura".
Essa é a contradição do ser humano. Vejam o nosso sedutor e exemplar Vinícius, que há 20 anos nos deixou, delicadamente.
Era um profissional da delicadeza. Naquela sua pungente "Elegia ao primeiro amigo" nos dizia:

Mato com delicadeza.
Faço chorar delicadamente.
E me deleito.

Inventei o carinho dos pés; minha alma
Áspera de menino de ilha pousa com delicadeza sobre um corpo de adúltera.
Na verdade, sou um homem de muitas mulheres, e com todas delicado e atento.
Se me entediam, abandono-as delicadamente, despreendendo-me delas com uma doçura de água.
Se as quero, sou delicadíssimo; tudo em mim
Desprende esse fluido que as envolve de maneira irremissível
Sou um meigo energúmeno. Até hoje só bati numa mulher
Mas com singular delicadeza. Não sou bom
Nem mau: sou delicado. Preciso ser delicado
Porque dentro de mim mora um ser feroz e fratricida
Como um lobo.

Esta aí: porque somos ferozes precisamos ser delicados. Os que não puderem ser puramente delicados, que o sejam ferozmente delicados.
Houve um tempo em que se era delicado. E Rimbaud, que aos 17 anos já tinha feito sua obra poética, é quem disse um dia: "Por delicadeza, eu perdi minha vida."
Intrigante isso.
Há pessoas que perdem lugar na fila, por delicadeza. Outras, até o emprego. Há as que perdem o amor por amorosa delicadeza. Sim, há casos de pessoas que até perderam a vida, por pura delicadeza. Não é certamente o caso de Rimbaud, que se meteu em crimes e contrabandos na África. O que ele perdeu foi a poesia. E isso é igualmente grave.
Confesso que buscando programas de televisão para escapar da opressão cotidiana, volta e meia acabo dando em filmes ingleses do século passado. Mais que as verdes paisagens, que o elegante guarda-roupa, fico ali é escutando palavras educadíssimas e gestos elegantemente nobres. Não é que entre as personagens não haja as pérfidas, as perversas. Mas os ingleses têm uma maneira tão suave, tão fina de serem cruéis, que parece um privilégio sofrer nas mãos deles.
Tudo é questão de estilo.
Aquele detestável Bukovski, sendo abominável, no entanto, num poema delicado dizia que gostava dos gatos, porque os gatos tinham estilo. É isso. É necessário, com certa presteza, recuperar o estilo felino da delicadeza.
A delicadeza não é só uma categoria ética. Alguém deveria lançar um manifesto apregoando que a delicadeza é uma categoria estética.
Ah, quem nos dera a delicadeza pueril de algumas árias de Mozart. A delicadeza luminosa dos quadros dos pintores flamengos, de um Vermeer, por exemplo. A delicadeza repousante das garrafas nas naturezas mortas de Morandi. Na verdade, carecemos da delicadeza dos adágios.
Vivemos numa época em que nos filmes americanos os amantes se amam violentamente, e em vez de sussurrarem "I love you" arremetem um virótico "Fuck you".
Sei que alguém vai dizer que com delicadeza não se tira um MST - com sua foice e fúria - dos prédios ocupados. Mas quem poderá negar que o poder tem sido igualmente indelicado com os pobres deste país há 500 anos?
Penso nos grandes delicados da história. Deveriam começar a fazer filmes, encenar peças sobre os memoráveis delicados. Vejam o Marechal Rondon. Militar e, no entanto, como se fora um místico oriental, cunhou aquela expressão que pautou seu contato com os índios brasileiros:
"Morrer se preciso for, matar nunca".
A historiadora Denise Bernuzzi de Sant'Anna anda fazendo entre nós o elogio da lentidão, denunciando a ferocidade da cultura da velocidade. É bom pensar nisso. Pela pressa de viver as pessoas estão esquecendo de viver. Estão todos apressadíssimos indo a lugar nenhum.
Curioso.

A delicadeza tem a ver com a lentidão. A violência tem a ver com a velocidade. E outro dia topei com um livro, A descoberta da lentidão, no qual Sten Nadolny faz a biografia do navegador John Franklin, que vivia pesquisando o Pólo Norte. Era lento em aprender as coisas na escola, mas quando aprendia algo o fazia com mais profundidade que os demais.
Sei que vão dizer: "A burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados."
- E eu não sei?

Mas de novo vos digo: sejamos delicados.

E, se necessário for, cruelmente delicados. "

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O BRASIL ESPERA QUE CADA UM CUMPRA O SEU DEVER(*)

"A ignorância é uma calamidade pública como a guerra, a peste, os cataclismos, e não só uma calamidade, como a maior de todas, porque as outras devastam e passam, como tempestades seguidas de céu bonança; mas a ignorância é qual o câncer, que tem a volúpia da tortura no corroer célula a célula, fibra por fibra, inexoravelmente o organismo; dos cataclismos, das pestes e das guerras se erguem os povos para as bênçãos da paz e do trabalho: na ignorância se afundam cada vez mais para a subalternidade e a degenerescência.

Imaginemos - quod Deos avertat - que somos surpreendidos um dia por uma irrupção inimiga.

Que faremos?

Do nada tudo até eliminá-la do solo sagrado. Por que pois a passividade ante as tremendas conseqüências da ignorância? Ou o Brasil a encara como uma calamidade nacional e lhe acode com o socorro imediato ou estará irremediavelmente batido na concorrência com as nações cultas. (...)"


Essas palavras são do Dr. Miguel Couto, primeiro ministro da Saúde do Brasil. Poliglota e ícone da medicina, que além de sanitarista tinha uma visão espiritual incomum.

Carioca, morou muitos anos no palacete na Praia de Botafogo, localizado próximo à Rua Marquês de Olinda.

Casa onde morou Miguel Couto


Hoje, em frente à rua, há um monumento, no jardim central da Praia de Botafogo, em sua homenagem.
Foto/Reprodução antigo jornal Diário de Notícias


O monumento a Miguel Couto foi idealizado e executado pelo escultor Heitor Usal. Mede quase sete metros desde a base, tendo a estátua de bronze, três metros e meio de altura. A base foi trabalhada em granito, trazido de Petrópolis.

(*)o título desse post é a frase célebre de Almirante Barroso.

domingo, 5 de setembro de 2010

Uma rua carioca de muitas histórias



A Rua Sete de Setembro, no centro histórico da cidade do Rio de Janeiro, inicialmente, foi um caminho aberto para a passagem de um cano de pedra que dava vasão às águas da Lagoa de Santo Antonio, um banhado que existia onde hoje é o Largo da Carioca. Ficou, por isso, sendo a Rua do Cano. Ligava a praça da Constituição (atual praça Tiradentes) à rua do Carmo.

Na realidade, o cano era uma vala, que durante a segunda metade do século XVIII, recebeu um revestimento de pedra e cal. A partir de 1790, foi coberta pelo Conde de Resende.

Uma curiosidade: esse governante mandou prender em 1794 um conhecido morador do local, o poeta Manuel da Silva Alvarenga, pois era considerado suspeito na caça às bruxas após a Inconfidência.
O Conde de Resende, D. José Luís de Castro, foi Vice-Rei entre 1790 e 1801. O acontecimento de maior notoriedade de seu governo foi a devassa e processo dos envolvidos na Inconfidência Mineira e consequente execução de Tiradentes.

A Rua do Cano era limitada pelo muro de uma capela construída entre o Convento do Carmo e a Capela Imperial - vendida, em 1635, pelos frades, a D. Maria Barreto, e posteriormente transferida à Irmandade do Senhor dos Passos - e em 1857 demolida para que a rua pudesse alcançar o Largo do Paço (hoje, Praça XV). Interessante é que, em seu lugar, ficou um passadiço com janelas, por dentro da qual passava a familia real para ir à Capela, sem necessitar pisar o chão do Largo, livres do assédio do povo, como o do Palácio para o Convento, desde os tempos da residência da Rainha D. Maria, a Louca.

Esse passadiço foi demolido no início da república.

A Rua Sete de Setembro, também, por um tempo, denominada ainda como Rua de Trás de São Francisco de Paula, pois a Igreja da Ordem Terceira do santo deste nome, fica de fundos para esta rua.

Em 1877 foi feita uma renumeração dos imóveis da cidade. A esse tempo a rua já era mista, comercial e residencial, com 100 prédios térreos e 94 sobrados.



Alargamento nos tempos de Pereira Passos - foto Augusto Malta



Cartão postal mostra a rua em 1908




sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um novo astro carioca se lançava há 50 anos

Capa do LP


O cantor carioca Miltinho, nome artístico de Milton Santos de Almeida, se lançou no Rio de Janeiro, com o LP solo "Um Novo Astro", há 50 anos, em 1960, com sua voz marcante, anasalada e ritmo diferenciado.

Desde a década de 40 já havia participado como ritmista e vocalista de importantes grupos musicais, como Namorados da Lua, Anjos do Inferno e Quatro Ases e Um Coringa. e também entre 1950 e 1957 tinha sido crooner da Orquestra Tabajara, de Severino Araújo e do grupo Milionários do Ritmo, de Djalma Ferreira. Mas esse LP sedimentou, definitivamente, sua carreira.


Seu maior sucesso foi a composição de Luiz Antônio, "Mulher de Trinta".

Nesse LP, também outras faixas que foram grandes sucessos:
Ri – (Luiz Antonio)
Idéias Erradas – (Dolores Duran & J. Ribamar)
Teimoso – (Luis Bandeira & Ari Monteiro)
Menina Moça – (Luiz Antonio)
Ultimatum – (Alcebíades Nogueira & Waldemar Gomes)
Triste Fim – (Carlos Sant’anna & Jaime Storino)
Fechei a Porta – (Sebastião Motta & Ferreira Dos Santos)
Você Só Você – (Waldemar Gomes & Luis Bandeira)
Fica Comigo – (Luis Antonio)
Volta – (Luis Antonio)
Eu e O Rio – (Luis Antonio)


Ouça Eu e O Rio em recente gravação junto com Emílio Santiago.

Este disco todo pode ser buscado AQUI!