sábado, 28 de fevereiro de 2015

RIO 450...2


DOMINGO, 1° DE MARÇO,
NOSSA QUERIDA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
VAI COMEMORAR 450 ANOS. 


Pintura a aquarela de Elizabeth Dias



Em homenagem à data, ao longo dos próximos dias todos os posts falarão um pouco da visão em 1965, quando comemoramos 400 anos. Vale recordar!

*************  

Em 1965,
 Juarez Galvão Ferreira
(engenheiro, escritor, teatrólogo, musicólogo, historiador do Rio),
redigiu um poema denominado
“Aos Fundadores”,
que vale hoje,
50 anos depois, recordar.


 Aos fundadores 

  Juarez Galvão Ferreira



Canto I - A Missão

São poucos os homens, mas são destemidos!

Perigo não há que lhes dome a vontade!

A missão que traziam, com sonhos crescidos,

Era entrar pela terra e fundar a cidade.

Às vezes alguns demonstravam receio,

Que os filhos da terra jurassem vingança.

Mas logo acudia, co' a voz em gorjeio,

José de Anchieta, ensinando a esperança.

A luz do cruzeiro era um guia luzente,

E então, que importavam Aimberê, Guaxará !

Tocados de fé, aguardavam somente

A voz de comando de Estácio de Sá !



Canto II - Um marco no Cara de Cão

Entraram na barra, do lado do oeste,

Um "graças a deus" se escutou como um brado.

Em março, a primeiro, cumpriram a lei:

Desceram à terra, ignota e agreste,

Fundaram a cidade, em nome do rei !

Roçaram a terra, cortaram madeira.

"pensar em perigos, ninguém é capaz"

Do chefe as palavras fizeram bandeira:

"da instância não haja fazer pé atrás"!

Bem cedo fizeram humilde capela,

Lá junto do morro da "cara de cão".

Deixaram p'rá sempre o povo à tutela

Do santo e do mártir, São Sebastião!



Canto III - O Confronto

Que lutas tiveram! Que fome passaram!

Zuniam dos índios as flechas certeiras,

E tiros se ouviam, de algum arcabuz!

Na terra e no mar assaz pelejavam,

Deixavam à mostra as almas guerreiras,

Ornadas de escudos em forma de cruz !

Dois anos tiveram de lutas cruéis.

Dois anos buscaram a vitória final.

E até as saudades no peito escondiam,

Contanto que ao rei ficassem fiéis.

Por trás da tranqueira de seu arraial,

Guardavam o inimigo,mas não o temiam



Canto IV - Guanabara de sangue

Em meio a esta luta, tão dura e tão má,

Recebem de longe o auxílio almejado:

Chegava a armada em que vem Mem de Sá,

Trazendo o reforço a tanto esperado !

Dois dias depois, a luta começa:

Com dois batalhões, atacam a trincheira

Que tem por comando Birá - u - açu.

Se tinem espadas, as setas sibilam,

De ambas as partes a alma guerreira

Estruge no peito, indômito e nu !

Estrondam pelouros, e aos gritos de guerra

O chão vai ficando de sangue marcado

De tantos heróis ! Que importa, porém,

Se o fim colimado é a posse da terra !

No instante final, com o forte tombado,

Estácio tombara, ferido também !
   
Canto V - O Fundador

Em tosca choupana, Estácio morreu.

Certeira flechada ferira-lhe a face.

Suave perfume, a alguns pareceu

A bênção divina, no seu desenlace.

Ninguém percebera, nas mãos bem guardada,

Do bravo, do heróico, do audaz capitão,

Pequena semente, coberta de louros,

Que junto ao seu corpo seria plantada.

A flor que brotasse teria um pendão:

"fundar a cidade, de exemplo aos vindouros !"

Por todos os séc'los o sonho estará

Presente na alma de um povo presente,

Nascido na flama de audaz combatente,

Regado c' o sangue de Estácio de Sá ! 


Juarez Galvão Ferreira,
nascido em Fortaleza / CE em 14/10/1919, veio para o Rio num “Ita” em 1927, concluiu o ginásio no Colégio São Bento, em 1938, formou-se em Engenharia Civil em 1943, na antiga Escola Nacional de Engenharia (hoje UFRJ). Foi também escritor, musicólogo, discófilo, bibliófilo, teatrólogo. Foi empresário privado, ingressou por concurso no antigo Depto Nacional de Portos (depois Portobrás) e presidiu por 11 anos a Companhia Brasileira de Dragagem. Foi casado com a professora primária Maria Luiza Cordeiro Dias Ferreira, falecida em 06/09/1996. O casal teve apenas um filho, Gil Cordeiro Dias Ferreira, Oficial de Marinha e Administrador.
Juarez faleceu em 20/10/2007, aos 88 anos.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Rio 450...1


O Rio de Janeiro de 1965, no IV Centenário
 




A cidade em 1965 tinha cerca de quatro milhões de habitantes. Hoje, a população já passa dos 6,4 milhões, segundo estimativa de 2014 do IBGE.

Eram 570 praças e largos. Hoje, são 2.020, de acordo com balanço do Instituto Pereira Passos (IPP). Nas ruas, os bondes cediam espaço aos ônibus. Além disso, a cidade se expandiu, principalmente em direção à Zona Oeste, onde Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes se consolidaram como novos bairros da classe média.

O Rio tinha passado pelo trauma de ter perdido o status de capital do país, em 1960. O Rio era então o Estado da Guanabara.

Também houve transformações na maneira de vestir dos cariocas. No Rio de Janeiro de 1965 a moda vai a reboque dos novos papéis da mulher na sociedade, com sua inserção no ensino superior e no mercado de trabalho.

A moda da época é exemplar, ao propor um desnudamento do corpo feminino e um relaxamento da moda masculina, com o uso de cores variadas, estampas, tecidos fluidos, cabelos longos. Chega por fim ao estilo chamado unissex, no qual homens e mulheres se vestiam praticamente de forma igual. No Rio do IV Centenário, as jovens encurtavam as saias cada vez mais nas universidades - as mínis, no entanto, só chegaram com força pouco tempo depois. Foi na mesma época que se tornou comum o uso de calças, em especial os jeans importados.



 

O concurso de Miss Guanabara tinha uma passarela reproduzindo o símbolo do IV Centenário.


Revista Manchete de 3/7/1965


A jovem Maria Raquel Helena de Andrade, Miss Botafogo - hoje a socialite Maria Raquel de Carvalho  -  foi eleita Miss Guanabara 1965 e, também, a Miss Brasil de 1965.








As praias da Zona Sul, como Copacabana, Ipanema e Arpoador, as boates e os bares da cidade eram alguns espaços privilegiados para a exposição do corpo, para a exibição dos novos modelos de vestimenta que vinham da Europa e dos Estados Unidos. Isso reforçava o cosmopolitismo do Rio, ampliando o seu protagonismo na difusão de tendências comportamentais

A praia preferida da população no IV Centenário era a de Copacabana, com uma avenida Atlântica estreita, sem calçadão central. 


A trilha sonora da época do IV Centenário incluía alguns temas hoje grandes clássicos da bossa nova

e ...

...o Campeão Carioca de Futebol de 1965 foi o Flamengo, com 10 vitórias em 14 jogos.

FLAMENGO CAMPEÃO CARIOCA DE 1965 
 O Timaço,
da esquerda para a direita:

Waldomiro, Ditão, Jaime, Silva, Nelsinho, Neves, Carlinhos, Almir,
Paulo Henrique, Rodrigues e Murilo

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Do Leme ao Pontal, três mosaicos diferentes nas calçadas da orla carioca


Calçadão foi redesenhado em 1970 por Burle-Marx,
que inverteu a posição do desenho, deixando as ondas de pedra paralelas às ondas do mar
Sebastião Marinho / Agência O Globo

Quem já visitou a Praça do Rocio, em Lisboa, certamente lembrou-se do calçadão da Praia de Copacabana. A associação é imediata, já que o traçado em pedras portuguesas é o mesmo nos dois lugares. Em Portugal, o desenho simboliza o encontro do Tejo com o oceano. No Rio, representa as ondas do mar. A ideia de homenagear nossos colonizadores foi do então prefeito Paulo de Frontin, no início do século passado. Foi ele quem escolheu o traçado, conhecido como “Mar Largo”, para ilustrar a calçada da avenida que estava sendo ampliada. Não poderia imaginar que criaria o principal símbolo do bairro — e também da praia mais famosa do mundo.


 


Calçadão de São Conrado imita o de Copacabana
Luiz Ackermann / Agência O Globo


 
Vista do calçadão da praia de Ipanema: no vizinho Leblon, o desenho é o mesmo
Guilherme Leporace / Agência O Globo

As pedras portuguesas à beira-mar tornaram-se uma tradição na cidade. Tanto que, nas décadas seguintes, novos desenhos surgiram. Apenas um repetiu o de Copacabana: o da Praia de São Conrado. Em Ipanema e Leblon, o desenho foi criado há cerca de cinco décadas. Nos praias da Zona Oeste (Barra da Tijuca, Recreio e Macumba), a ideia foi bem diferente: em vez de ondas ou formas geométricas, o então prefeito Marcello Alencar escolheu, no fim dos anos 1980, um traçado em forma de peixes.


Na Barra, Recreio e Macumba, o calçadão tem o desenho de peixes  Bianca Pimenta / Agência O Globo

sábado, 21 de fevereiro de 2015

O frescobol, um esporte que tem a cara do Rio, está oficialmente declarado pela prefeitura como patrimônio cultural imaterial da cidade.

 Criado há 70 anos, foi reconhecido pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade como parte do “estilo de vida” do carioca e totalmente associado à paisagem das praias.

O frescobol é um esporte, um lazer, também é uma reunião social. 

Foi inventado  nas areias da Praia de Copacabana, abril de 1945, por Lian Pontes de Carvalho, que morava no edifício de n.º 1496, na Avenida Atlântica, esquina de Rua Duvivier, já demolido.

Lian, frequentador do local e dono de uma fábrica de móveis de piscina, pranchas e esquadrias de madeira, na Rodovia Presidente Dutra, confeccionou as primeiras raquetes após a exposição do que era o “jogo de raquetes” por oficiais franceses, espanhóis e ingleses (é interessante assinalar a existência de divertimentos e jogos de raquete, desde o século XV, no norte da França).

Frescobol em Copacabana, anos 1950

Apesar do novo status, as regras para o convívios dos praticantes com os banhistas não mudam. Desde 2009, o frescobol não pode ser praticado na beira do mar entre 8h e 17h. 

Na lista do patrimônio cultural imaterial da cidade estão os vendedores de mate, biscoitos de polvilho, a festa de Iemanjá, as marchinhas e os blocos carnavalescos Cordão da Bola Preta e Cacique de Ramos; a obra literária de Machado de Assis e a procissão de São Sebastião.

 DIA 10 DE JULHO É O DIA ESTADUAL DO FRESCOBOL.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Quarta-Feira de Cinzas de 1965

No quarto centenário do Rio,
Antonio Olinto publicava...






Antonio Olinto 
,  um dos mais notáveis escritores brasileiros
         ( 1919-2009 )







terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Café Nice

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Uma noite no Café Nice

 Bernardo Argento


Todo mundo frequentava o Nice, mas as mulheres eram minoria
Todo mundo frequentava o Nice, mas as mulheres eram minoria


O que Ary Barroso, Noel Rosa, Cartola, Mário Lago, Pixinguinha e Donga tinham em comum, para além de terem seus nomes gravados entre os maiores mitos da música brasileira?

Todos eles frequentavam o extinto Café Nice.

O local funcionava como uma espécie de “mercado musical”, no qual diversos artistas trocavam experiências e vendiam seu peixe – ou seus sambas. Novas composições, caitituagens e muita conversa fiada rolavam até altas horas da madrugada. Os músicos faziam do lugar um verdadeiro templo.

Às vezes, rolava um palpite certeiro para terminar um samba meio encalacrado. Em outras, a oportunidade de ver sua composição na voz daquele astro do rádio da mesa ao lado. Mas tudo no sapatinho, porque, como se dizia, “as paredes do Café Nice têm ouvidos”.
 
Inaugurado em 18 de agosto de 1928, na Rio Branco, 174, o Café Nice nasceu na época em que o Rio completava seu processo de reurbanização, seguindo o modelo parisiense. Portanto, nada a estranhar no nome francês.

Havia, na época, toda uma etiqueta – regulada por lei, inclusive, para frequentar o Centro da cidade. Chapéus e paletós eram indispensáveis. Os boêmios também se enquadravam na “linha”. A avenida Rio Branco, construída no começo do século XX, era o palco maior dessa cidade renovada. A localização privilegiada ajudou o Nice a ter um lugar de destaque na história carioca até ser fechado em meados da década de 1950.


“Em frente ao Café Nice ficava o Cinema Parisiense. Foi o primeiro a ser instalado na Rio Branco, em 1907. Ao lado ficava o Cineac Trianon. Nesse trecho ainda tinha a Rádio Clube do Brasil e o Theatro Municipal mais à frente. Então, era um ponto de encontro maravilhoso, que teve uma representatividade muito grande na história do Rio de Janeiro, para a boemia e o lazer”, conta o radialista e pesquisador Osmar Frazão – apelidado pelo apresentador Flavio Cavalcanti, em cujo programa foi jurado, de “Enciclopédia da Música Popular Brasileira”.

Frazão lembra, com a saudade gravada na voz, uma história presenciada no Café Nice:

“Eu era garotinho em 1944, tinha uns oito anos. Estava sentado ali, com minha família, e Francisco Alves, o ‘Rei da Voz’, pediu licença e subiu na nossa mesa. Minha mãe ficou danada da vida. Ele cantou: ‘Que Rei sou eu, sem reinado, sem coroa, sem castelo e sem rainha, afinal que rei sou eu?’. Minha mãe aborrecida falou ‘por que esse cara subiu nessa mesa, com tantas mesas em outros lugares?’ e o meu pai disse: ‘Deixa, é meu amigo, Francisco Alves, o Rei da Voz”.
O ambiente era diversificado. Do lado de fora, havia mesas e cadeiras de vime. Na parte interna, dois espaços diferentes: um mais sofisticado, servindo lanches, chás e bebidas finas; outro, mais popular, com a tradicional média com pão e manteiga, cafezinho e bebidas simples. Este local era o preferido dos intérpretes e compositores.
 
E por que se dizia que as paredes do Nice tinham ouvidos?

“Um tinha medo de que o outro tomasse a música. Tinha gente que não era compositor, mas frequentava o local pela boemia, como o Kid Pepe e o Germano Augusto, que chegaram a assinar algumas canções (o primeiro, por exemplo, é comprositor de ‘O orvalho vem caindo’, em parceria com Noel Rosa). Até porque, compositor não era profissão. E o direito autoral não sustentava ninguém nesse tempo. Por isso, às vezes, se vendia a parceria para outro. Quando havia uma música boa, alguém oferecia dinheiro em troca do nome no disco”, conta Frazão.
 
Outra história clássica do Nice envolve o compositor Haroldo Lobo, um dos grandes nomes da música de Carnaval no Brasil.

Um de seus parceiros, Nestor de Holanda, teve uma ideia e convidou o mestre para conversar sobre ela no Nice. Empolgado, ele mal viu o parceiro e perguntou, já cantarolando: “Rapaz, o que você acha dessa ideia: ‘quem tem culpa tem medo’?”

Malandro mais experiente, Haroldo, que foi, inclusive, guarda civil, advertiu: 
“A ideia é ótima, mas vamos falar bem baixinho”.
Segundo conta Nestor, o receio fez com que eles tomassem apenas um cafezinho ali antes de ir para a sede da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais) para trabalhar a canção numa sala da instituição.

Chegando lá, encontraram o também compositor Zé da Zilda, que mostrou-lhes uma marchinha que estava compondo e que começava com o verso: “Quem tem culpa tem medo…”.

 Perguntado como teve a ideia, disse que... tinha sido um velhinho vindo do Café Nice.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Um ano com dois carnavais.


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CARNAVAL 2015


Não é de hoje que o carioca transforma adversidades em mote para exercitar sua vocação para a festa. 

Em 1912, a morte de um homem público querido de verdade – o barão do Rio Branco – teve um efeito dos mais inesperados:

um ano com dois carnavais.

 O inusitado fato foi cantado numa marchinha que ainda por cima serviu para a população se vingar de um governante não exatamente dos mais amados na capital da República, o marechal presidente Hermes da Fonseca:

Com a morte do Barão
Tivemos dois Carnavá;
Ai! Que bom! Ai! Que gostoso!
Se morresse o Marechá!

Na manhã de sábado, 10 de fevereiro de 1912, o Barão, que era ministro das Relações Exteriores havia dez anos, deu seus últimos suspiros no Palácio do Itamaraty, na rua Marechal Floriano.

 Barão do Rio Branco

O luto depressa tomou conta da capital. O comércio foi fechado e a população, consternada, se preparou para os funerais do diplomata que garantiu o Acre e muitos outros territórios para o Brasil. A Gazeta de Notícias informou que “toda a cidade estava assim: triste, triste de fazer chorar”.

Na terça-feira, o ministro foi enterrado, com todas as honras de Estado. Nesse dia, um boato corria a cidade: o carnaval, que começaria no domingo seguinte, seria adiado em respeito ao luto pelo Barão.

Os muitos jornais que circulavam pela capital se dividiram; autoridades se manifestaram; os presidentes de clubes e sociedades carnavalescas opinaram… A maior parte considerava um absurdo que os festejos de Momo se dessem sobre o túmulo ainda quente do herói brasileiro e defendiam o adiamento para abril. Outros contemporizavam, dizendo que o carnaval só começaria depois do luto oficial; assim, o adiamento era desnecessário. Um grupo, mais severo, ou doente do pé, dizia que o carnaval sequer deveria ser festejado naquele ano.

Durante toda a semana, houve incerteza em relação ao adiamento ou não da festa. Chefes de repartição disseram que iriam cobrar o ponto na segunda e na terça-feira. Presidentes de sociedades declararam que não iriam desfilar em respeito ao barão. Questionado, o presidente declarou para A Noite que o carnaval é “uma festa do povo; e ao povo que cabe adiar ou não”.
 
Quando chegou o domingo, o Centro estava cheio de foliões, muitos deles mascarados – que circulavam sobretudo na avenida que, apenas três dias antes, tinha ganhado seu nome atual, justamente em homenagem ao falecido: Rio Branco. Os bailes elegantes, os desfiles de carros das grandes sociedades – os Fenianos, os Democráticos e os Tenentes do Diabo – não aconteceram, mas a população não se absteve de seus três dias de festa em fevereiro. Os ranchos Pombinhos de Ouro e Heróis da Conceição, entre outros, desfilaram com garbo e elegância.

Os jornais reagiram com surpresa. O Jornal do Brasil declarou que tinha acontecido uma festa “absolutamente popular”. Diante disso, quem não brincou em fevereiro quis se vingar em abril.

O chefe de polícia, Belizário Távora, concedeu quase 300 licenças para desfiles de grandes e pequenas sociedades. Os bailes foram programados. Os ranchos que não saíram se prepararam para ir à avenida; os que saíram, para voltar. E, no sábado de aleluia, recomeçou a festa, com desfiles de agremiações como os Pingas Carnavalescas e os Resistentes da Piedade.

 O Correio da Manhã declarou sobre a movimentação na noite de segunda-feira:

“A Avenida! Que sonho! Que delícia! Que maravilha! Como era doce gozá-la na sua policromia de luzes, toda ela a vibrar apoteoticamente em honra a Momo!”.

E na terça-feira os Tenentes do Diabo encerraram a festa com um desfile de gala, com cerca de 15 carros, com destaque para uma alegoria em homenagem… ao Barão do Rio Branco.


domingo, 15 de fevereiro de 2015

A mulher do tricô no Carnaval carioca

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Teve um tempo que era hábito passear na avenida Rio Branco, nos dias de carnaval. 
Andar pra lá e pra cá. Era um footing.Pra lá se ía, ver as fantasias,a decoração da cidade, os blocos, rir com a ironia dos grupos.
Fiz muito isso na minha infância. Saía com o tradicional saquinho de filó, que ganhava, cheio de confete e serpentina e jogava ao longo do passeio em outras crianças - também recebia tantos outros -  e era uma diversão.

Muitos personagens eram os mesmos.
Lá estavam eles na sua folia particular. Como... a mulher fazendo tricô, de pé, no Theatro Municipal.




Solitária, totalmente introspectiva, nada olhava ao redor. Parecia que nada ouvia.Podia passar um super bloco e sua bateria potente, mas ali permanecia ela a tricotar e olhar fixamente as suas agulhas e sua linha. Sempre de cabelos presos, vestido, comprimento abaixo do joelho, de manga (fizesse o calor que fizesse) e lenço no pescoço.
Ficava em pé (!)  no parapeito da lateral do teatro, pessoas ao seu redor .Não sambava, não cantava, não respondia a perguntas, brincadeiras.

Uma figura intrigante.

Eu a vi ao longo de vários carnavais e até o final dos anos 60. Depois passei a não mais ir à cidade no carnaval e um dia, por conta do ofício, nos anos 70, trabalhando na estrutura do carnaval -  passei pela Rio Branco e dela me lembrei. Não estava mais lá. 
Quem era, porque fazia aquilo, nunca disse, nunca ninguém soube. Tentei muitas vezes recuperar uma imagem dela, uma figura emblemática do carnaval carioca e esse ano consegui. E resolvi compartilhar essas memórias.

QUEM CONHECEU? QUEM LEMBRA?
 Doces tempos do carnaval carioca da minha infância.

em pé (!)  no parapeito

e o saquinho com  a malha tricotada


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O samba de sambar

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Poetas do Estácio criam nova forma de tocar samba e mudam o carnaval

Armando Marçal, Paulo e Alcebíades Barcelos, o Bide entre as pastoras: fundadores da Deixa Falar
Armando Marçal, Paulo e Alcebíades Barcelos, o Bide entre as pastoras: fundadores da Deixa Falar


O bairro do Estácio marcou seu nome na história pela criação da primeira escola de samba do país, a Deixa Falar. 

Mas sua importância não se resume a isso. Os bambas da região mudaram a forma de fazer samba e influenciaram o gênero de forma definitiva, determinando o modo de se brincar carnaval que conhecemos até hoje.

Durante os anos 20, a região era o berço da boemia carioca. Reduto da batucada e dos terreiros de candomblé, o Estácio atraía intelectuais, malandros, trabalhadores braçais, profissionais liberais, prostitutas e música... muita música. 

Por lá alguns compositores despontavam com um samba marcado, mais acelerado: “o samba de sambar”, diferente do praticado pela turma de Donga, Caninha e Sinhô, dançado nos salões num ritmo mais lento, semelhante ao maxixe.

Foi com esse compasso moderno que um grupo do Estácio criou em 12 de agosto de 1928 a Deixa Falar, a primeira escola de samba do país. Era um bloco, mas chamado de escola por seus próprios fundadores: Ismael Silva, Bide, Mano Rubem, Marçal, Paulo Barcellos e Brancura, entre outros. Eles se diferenciavam das outras agremiações carnavalescas pela organização: tinham diretoria própria, com cada membro responsável por uma função; e não permitiam a entrada de integrantes forasteiros em suas alas.



A Praça Onze na década de 1930
A Praça Onze na década de 1930

Cada sócio pagava 5.000 réis de mensalidade, e a sede ficava na casa de um sargento da polícia — quase uma ironia, já que os órgãos públicos ainda perseguiam as manifestações carnavalescas.



Ismael Silva: líder da Deixa Falar
Ismael Silva: líder da Deixa Falar
Entre 1929 e 1931, a Deixa Falar fez desfiles memoráveis como bloco pela Praça Onze e pelo Estácio. Três ou quatro sambas eram tocados, com refrão e um solista improvisando o restante dos versos.
Em 1932, o jornal “Mundo Sportivo” organizou o primeiro concurso entre escolas de samba. Mas a Deixa Falar não quis participar – preferiu se inscrever na competição dos ranchos, mais prestigiada na época. O desfile foi desastroso, e a agremiação nem foi classificada. Passado o carnaval, a Deixa Falar entrou em crise e enrolou a bandeira no mesmo ano. Mas serviu de exemplo para outras agremiações. Formou alunos, fez escola. E entrou para a história.

A Deixa Falar não deixou apenas o ritmo mais acelerado e marcado de seu samba. Outra importante herança está até hoje nas baterias das escolas de samba: o surdo, introduzido por Bide, na época feito com uma lata grande e redonda de manteiga, dois aros e um couro esticado. Usado em orquestras até então, o instrumento ajudava no desfile para manter a cadência e podia ser ouvido por todos os componentes — não existia sistema de som antigamente na Praça Onze.
Outro clássico da bateria, a cuíca também tem um pai do Estácio. Foi João da Cuíca que colocou pela primeira vez o instrumento nos desfiles, quando os jornais ainda o chamavam de “puíta”, o instrumento que emitia um “som diferente”.

A Deixa Falar não deixou apenas o ritmo mais acelerado e marcado de seu samba. Outra importante herança está até hoje nas baterias das escolas de samba: o surdo, introduzido por Bide, na época feito com uma lata grande e redonda de manteiga, dois aros e um couro esticado. Usado em orquestras até então, o instrumento ajudava no desfile para manter a cadência e podia ser ouvido por todos os componentes — não existia sistema de som antigamente na Praça Onze.
Outro clássico da bateria, a cuíca também tem um pai do Estácio. Foi João da Mina que colocou pela primeira vez o instrumento nos desfiles, quando os jornais ainda o chamavam de “puíta”, o instrumento que emitia um “som diferente”.

Fonte: Carnaval Histórico/ExtraOnline

 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Rio ontem e hoje na imagem


 Da demolição de cortiços à abertura da Avenida Rio Branco. Fotógrafo oficial do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, o alagoano Augusto Malta documentou, a pedido do prefeito Pereira Passos, as transformações da capital no início do século 20. Quase 100 anos depois, o fotógrafo e designer Marcello Cavalcanti, de 34 anos, decidiu juntar o antigo e o novo mesclando a obra de Augusto com fotografias atuais da cidade,

Um interessante trabalho.

Vista do Vidigal contrasta o Leblon inabitado do início do século passado com a Ipanema tomada por edificações de hoje


Vista do Vidigal, na Zona Sul do Rio (Foto: Augusto Malta / Marcello Cavalcanti)


Praia do Leblon atualmente e há 100 anos

Praia do Leblon há 100 anos e atualmente (Foto: Augusto Malta / Marcello Cavalcanti)

Av. Vieira Souto nos dias de hoje e na década de 30
Avenida Vieira Souto, em Ipanema, na década de 30 e nos dias de hoje (Foto: Augusto Malta / Marcello Cavalcanti)

Registro antigo e atual da Cinelândia e Theatro Municipal

Registro antigo e atual da Cinelândia e Theatro Municipal (Foto: Augusto Malta / Marcello Cavalcanti)

Avenida Vieira Souto

Retrato da Lagoa Rodrigo de Freitas nos dias de hoje e antigamente (Foto: Augusto Malta / Marcello Cavalcanti)

Centro do Rio

Registro antigo e atual do Centro do Rio (Foto: Augusto Malta / Marcello Cavalcanti)

Posto 8 de Ipanema fotografado em 2014 e 1928

Posto 8 de Ipanema fotografado em 1929 e em 2014 (Foto: Augusto Malta / Marcello Cavalcanti)

Lapa

Augusto Malta (Foto: Augusto Malta / Marcello Cavalcanti)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

VAMOS CANTAR!

O que estão chamando de crise hídrica,
e na  realidade o nome é
INCOMPETÊNCIA e DESCASO,
nos dão um enorme repertório
para (re)cantarmos nesse carnaval,
desenterrando sucessos dos anos 40 e 50!

"Lata d'água na cabeça" - sucesso do carnaval de 1952
   Luis Antonio e Jota Jr.,  na voz de Marlene


  http://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,morre-candeias-junior-compositor-de-lata-dagua-na-cabeca,310000
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Lata d'água na cabeça
Lá vai Maria, lá vai Maria
Sobe o morro e não se cansa
Pela mão leva a criança
Lá vai Maria
Lata d'água na cabeça
Lá vai Maria, lá vai Maria
Sobe o morro e não se cansa
Pela mão leva a criança
Lá vai Maria
Maria lava roupa lá no alto
Lutando pelo pão de cada dia
Sonhando com a vida do asfalto
Que acaba onde o morro principia

"Vagalume" - sucesso do carnaval de 1954  
    Victor Simon
e Fernando Martins, na voz de Violeta Cavalcanti 





Rio de Janeiro
Cidade que nos seduz
De dia falta água
De noite falta luz.

Abro o chuveiro
Não cai nem um pingo
Desde segunda
Até domingo.
Eu vou pro mato
Ai! pro mato eu vou
Vou buscar um vagalume
Pra dar luz ao meu chatô.


"Allah-lá-ô" - sucesso do carnaval de 1941
   Haroldo Lobo e Nássara, na voz de Carlos Galhardo




Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô

Mas que calor, ô ô ô ô ô ô
Atravessamos o deserto do Saara
O sol estava quente
Queimou a nossa cara

Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô

Viemos do Egito
E muitas vezes
Nós tivemos que rezar
Allah! allah! allah, meu bom allah!
Mande água pra ioiô
Mande água pra iaiá
Allah! meu bom allah

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

100 anos da Casa Turuna

Os foliões mais tradicionais ou as pessoas que costumam frequentar a Saara, região de comércio popular do Centro do Rio de Janeiro, conhecem bem a mais tradicional casa de venda de fantasias do Rio de Janeiro, a Casa Turuna.

O que muitos não conhecem talvez seja a longevidade do estabelecimento
que, este ano, completa 100 anos.


1921


CASA TURUNA, 105 ANOS DE CARNAVAL. Uma... - Suvaco do Cristo ...


A Casa Turuna surgiu em 1915, da iniciativa de dois imigrantes portugueses. Apesar de investirem em tecidos e outros artigos para casa, as fantasias eram o destaque principal da loja. Isso, provavelmente, se devia à localização do estabelecimento: a Praça 11, lugar tradicional no desfile de cordões carnavalescos no começo do século 20.

O nome Turuna surgiu graças ao bloco dos Turunas, que desfilava na região. O nome pegou porque um dos donos da loja também tinha o apelido de "Turuna", que significa valentão, de acordo com o vocabulário da época.

A proximidade entre as famílias dos dois imigrantes portugueses fez com que o filho de um dos sócios se casasse com a filha de outro, tornando a loja um empreendimento familiar, como permanece até hoje.

Além da Praça 11, a Casa Turuna passou pela Rua da Alfândega até chegar ao local que ocupa desde a década de 40, na esquina da Rua Senhor dos Passos com Avenida Passos, na Saara.

O carnaval é onde está a tradição da loja. Ela vende tecidos e fantasias durante ano todo, mas o forte é o carnaval. É onde está a tradição dela. Templo das fantasias , na Casa Turuna tudo o que brilha e tem cor forte sai como água: chitões, brocados, lamês. E há, também, pedras e lantejoulas de todos os formatos e tamanhos.

A loja hoje é de propriedade de Marcelo Servos, bisneto dos fundadores e trabalha com a variedade de fantasias, da colombina às temáticas anos 60, os tradicionais piratas ou presidiários, as tendências de moda e mais pedidas como a Branca de Neve e Mulher Maravilha.
Chapéus, plumas, máscaras,
perucas e até macacões de vaca,
pendurados no teto
e espalhados por toda a loja,
lembram alegorias de escolas de samba;
a concentração de pessoas ali dentro
com certeza se assemelha a de um bloco.



Marcelo Servos, o atual administrador da Casa Turuna, abraçado com manequins com fantasias de Chiquinha e anjo (Foto: Cristina Boeckel/ G1)



Mas a sucessão familiar na Casa Turuna deve parar em Marcelo Servos.
Marcelo Servos trabalha na loja da família há 30 anos, mas suas lembranças relacionadas ao lugar são muito mais antigas. 

“Comecei com 16 anos de idade e hoje estou com 46. 
A minha lembrança mais antiga relacionada a loja é, 
desde pequeno, vir brincar aqui”.


 A família tem apenas um sobrinho, que não se interessa pelo trabalho no comércio. Ele acredita que, após sua aposentadoria, a loja fechará ou será vendida.