sexta-feira, 29 de abril de 2016

Adeus ao Jornal do Commercio do Rio de Janeiro


Circula nesta sexta-feira a última edição do “Jornal do Commercio”, do Rio de Janeiro, cuja primeira edição foi publicada em 1º de outubro de 1827.
O diário com foco em economia, ao longo de sua história teve papel importante no movimento que culminou com a abdicação de D. Pedro I ao trono. Seu filho e sucessor, D. Pedro II , lá, escreveu sob pseudônimo e passaram pelo jornal colaboradores como José Maria da Silva Paranhos (Barão do Rio Branco), José de Alencar, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Visconde de Taunay, Euclides da Cunha entre outros.


Resultado de imagem para jornal do commercio de 1 de outubro de 1827


Avisos, anúncios e notas publicadas no Jornal do Commercio se tornam curiosas e interessantes leituras para se conhecer a sociedade carioca de outros tempos.


" REMÉDIO CERTO 
Aviso importante: as pessoas sujeitas a constipações, gripes, irritações na garganta ou no peito encontrarão o remédio certo e infalível no uso do Xarope de Nafé de Delangrenier. Este xarope, que tem por base o fruto de nafé, pode ser dado às crianças, mesmo as menores, sem qualquer tipo de reação. Por isso, é recomendado à toda a família. Na rua do Ouvidor, número 127 
. ESPELHO DE AMOR 
 Saiu à luz e está à venda na casa dos editores E. e H. Laemmert, nesta corte do Rio de Janeiro, a interessante obra Novo Espelho de Amor, ou A Arte de fazer a corte às mulheres e conquistar-lhes o coração. O livro dá conselhos aos homens para que sejam vitoriosos no amor e consigam concluir um feliz casamento com uma dama exigente. A obra original é francesa e está muito bem traduzida ao português 
. SALA  
Atenção: aluga-se uma bonita sala, com alcova, na Rua das Laranjeiras, número 2, em ótimo local desta corte do Rio de Janeiro. Na frente há um grande terraço, com linda vistas e bons ares. O preço é dos mais moderados, inclusive pela beleza e qualidade da casa e de suas cercanias. Quem a pretender pode ir à própria casa, que fica próxima à nova igreja do Campo do Machado 
. LIÇÕES  
Dão-se lições de música, piano, canto e flauta em casas particulares desta corte do Rio de Janeiro e cercanias. O método é dos mais efetivos, permitindo ao aluno aprender com brevidade e não esquecer do que aprendeu. Para tratar é necessário ir à Rua do Fogo, número 47, 1º andar, na capital do império. O professor pode dar fiança de seus conhecimentos e de sua conduta com os alunos 
. RETRATISTA  
O retratista Emil O. Bauch, de volta de uma longa viagem, participa ao respeitável público, e em especial aos seus fregueses habituais e amigos na corte do Rio de Janeiro, que mudou seu endereço para a Rua do Sabão, número 66, 2º andar. Neste novo endereço ele se compromete a manter a qualidade de seus serviços, o bom preço e o atendimento que sempre dispensou a todos."


Em tempo:

. Rua do Fogo ... também chamado Caminho Prás Pedreiras, no Largo do Capim,  é a atual Rua dos Andradas, onde viveu Machado de Assis logo após se casar com sua amada Carolina, em 1869.

. Rua do Sabão... foi, inicialmente, denominada Antigo Caminho do Cruzeiro da Candelária e, depois, Caminho de Gonçalo Gonçalves. Foi também conhecida como Travessa do Azeite do Peixe, depois mudando para Rua dos Escrivães e Rua de Bom Jesus. Depois de por muito tempo ser denominada de Rua do Sabão da Cidade Velha, em 1870 passou finalmente a se denominar Rua General Câmara, desapareceu completamente quando da construção da Avenida Presidente Vargas, na década de 1940.

. Campo do Machado ...   quando foi fundada a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1565, ali existia um grande terreno alagadiço, tendo sido denominado Lagoa do Suruí e depois, Lagoa da Carioca, em função do Rio Carioca que ali desaguava para formar  um delta, seguindo vários caminhos, ou vertentes .

Após aterramento passou a ser denominado Campo das Pitangueiras, depois Campo das Laranjeiras e  mais tarde ser o Campo ou Largo do Machado e,  a partir de 1843, passar a se chamar Praça da Glória, após a construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória.

A partir do falecimento do General Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias - Patrono do Exército Brasileiro, passou a se chamar Praça Duque de Caxias, para final e definitivamente voltar a ser conhecida por um dos anteriores nomes; Largo do Machado.



quinta-feira, 28 de abril de 2016

Enfim, chegou o outono?



Aguardemos para saber se o calorão realmente se foi.




Copacabana com céu cinza e...

... a ressaca no Arpoador

 - A chegada de uma frente fria trouxe ventos fortes e  agitou o mar do Arpoador  . Foto: Fábio Motta/Estadão


segunda-feira, 25 de abril de 2016

Engenho da Rainha... que rainha deu nome ao bairro?

Em suas origens, a região hoje denominada Engenho da Rainha fazia parte da Freguesia de Inhaúma, criada em 1743, e ganhou este nome quando esta Freguesia foi desmembrada, resultando nos atuais bairros de Pilares, Tomás Coelho e parte de Inhaúma.

A região acolhia uma residência adquirida pela...Rainha Carlota Joaquina, esposa de D. João VI, por volta de 1810, com o objetivo de nela descansar.

A região próxima à fazenda era habitada pelos índios tamoios. Como herança, tem-se muitas ruas com nomes ligadas a este fato - Rua Bororó, Xerente, Canitar, Flexal, dentre outras.A Fazenda da Rainha Carlota Joaquina, além do engenho de cana-de-açúcar, tinha também plantação de café e a mão-de-obra escrava era a responsável pela economia rural. O rio Faria, hoje bastante degradado, banha o bairro.



O casarão no início do sec XX

Ao final do século XIX, a fazenda Palmeiras é adquirida pelo Visconde de Embaré, provedor da Santa Casa de Santos. Com sua morte, a viúva Josefina Carvallhais Ferreira, Viscondessa de Embaré, vem residir no Casarão. Com o seu falecimento, a Condessa de Modesto Leal compra a residência e inicia trabalhos sociais.

Por volta de 1944, a Condessa de Modesto Leal inicia atividades de abrigamento de idosos, sendo então fundada a Associação Mantenedora da Casa de Nossa Senhora da Piedade, com o apoio da Ordem de Santa Cruz dos Militares, sendo ela a primeira Presidente da Instituição.

Em 1949, assume a direção do Casarão a Princesa Maria Francisca Amélia de Orléans e Bragança, que amplia em muito os trabalhos da Associação Mantenedora, que hoje, com 71 anos de existência, continua a prestar serviços à comunidade.

O casarão nos tempos atuais, onde funciona
o Casarão da Cultura

A Serra da Misericórdia, situada na Freguesia de Inhaúma, era o local onde os negros escravos procuravam se esconder quando fugiam da Fazenda.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Avenida Niemeyer, Gruta da Imprensa

O lastimável desabamento, ontem,
da ciclovia da Avenida Niemeyer,
nos revela a bela e  segura engenharia centenária do local.



A Avenida Niemeyer foi inaugurada em 1916. Há 100 anos. Fará em outubro. Seu nome é uma homenagem ao Comendador Conrado Jacob de Niemeyer.

O comendador  Niemeyer (dono de grande extensão de terras na região, chegando até a Estrada das Canoas, e o próprio bairro de São Conrado) , em 1915, doou as terras da encosta à Prefeitura - visando a valorização das suas terras -  para que pudesse ser estendida, até a Praia da Gávea -  nome antigo do atual bairro de São Conrado - , uma estrada que partiria do final do Leblon.

O traçado da futura Avenida começou com o projeto para uma estrada de Ferro em 1891 (Cia. Viação Férrea Sapucaí), que por ali faria a ligação de Botafogo a Angra dos Reis. Chegou a ter seus 800 metros iniciados construídos em 1913, porém, a companhia desistiu do empreendimento, por novas exigências da Prefeitura.


construção da avenida Niemeyer

Na entrada do Túnel da Barra existe, até os dias atuais, um grande túnel cavado na rocha, parte integrante da estrada de ferro que seria construída. A entrada do túnel, atualmente, está lacrada com uma grade de ferro para evitar invasões.


Em 1920, quatro anos após a inauguração, a Avenida sofreu uma grande reforma, foi alargada, sendo praticamente reinaugurada por causa da visita do Rei Alberto da Bélgica  e o projeto do engenheiro Paulo de Frontin.
O viaduto que  retificava uma curva
sob uma antiga reentrância no costão do Morro Dois Irmãos
homenageia o ilustre visitante: Viaduto Rei Alberto,
nome hoje praticamente esquecido

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foto Augusto Malta, setembro 1920 -  reprodução


Ao longo do tempo a Avenida foi ganhando melhoramentos, como

Carlos Sampaio,  entre 1920 e 22, colocou nela acostamento.

.  Alaôr Prata, entre 1922 e 1926, abriu ali o Circuito da Gávea  - corridas automobilísticas de rua, fazendo parte do circuito do Rio de Janeiro a partir de 1933 e  que só acabaram em 1954.
Nessas corridas as largadas se davam próximo do antigo Hotel Leblon, passavam pela Gruta da Imprensa, seguiam a Rocinha, voltando pela Rua Marquês de São Vicente.

Na altura do Viaduto Rei Alberto foi inaugurada a Gruta da Imprensa, assim chamada pois ali ficavam diversos repórteres para tirar fotos das corridas. 







A visita do Rei, além de turismo nos trópicos tinha a missão de explorar o potencial brasileiro para a aplicação dos recursos financeiros belgas.

Os mirantes construídos na via logo atraíram a nova burguesia motorizada da cidade para a realização de piqueniques na deserta e aprazível via, a aproveitando esse potencial a administração Alaor Prata (1922-1926) urbanizou a área aos pés do viaduto, criando um novo mirante que rapidamente entrou na moda, piqueniques em seus terraços foram muito comuns até o fim dos anos 40, quando esse tipo de evento começou a sair de moda.

O local começou a ficar esquecido e ser frequentado mais por pescadores do que veranistas e seus quitutes, de turismo apenas rápidas passagens para fotografias. Também crimes no local, que ganharam manchetes, ajudaram a esvaziar ainda mais o local.

 A nova ciclovia de 3 meses desabou. A construção centenária continua lá. De pé. Pra nos contar uma história.





terça-feira, 19 de abril de 2016

Hoje, 19 de abril,o poeta Manuel Bandeira faria 130 anos



Carioca de coração, que declarou-se tanto a essa terra em seus textos , infelizmente não é mais tão lembrado, nesses tempos de tão pouca memória, de tão pouca cultura, de tão pouca poesia.

Em 1966, há 50 anos, nos 80 anos de Manuel Bandeira,  o escritor Antonio Olinto, escreveu  
a ele um texto - LOUVAÇÃO PARA MANUEL BANDEIRA -  fazendo um paralelo a seu lindo poema, em homenagem ao quarto centenário do Rio, publicado um ano antes, em 1965.


   


(recorte/ Jornal O Globo de 19/4/1966)



Austregésilo de Athayde, então presidente da Academia Brasileira de Letras, também escreveu

"Bendito seja o mundo que vivemos porque nele vive Bandeira e muito particularmente Bendito seja o Brasil, porque é a terra de Bandeira. 
Ao completar oitenta anos você é o mais jovem dos poetas brasileiros, aquele em quem a esperança não morre, em quem não diminui o entusiamo pela beleza, aquele que melhor exprime e comunica. 
Ocupa um lugar imenso no coração de sua Pátria, de que é, sob tantos aspectos, um símbolo perene, sobretudo nesse amor à liberdade pela qual se bate em prosa e em verso, tenazmente, como Dante ou Milton.... 

Com você aprendemos amar e a honrar a vida do espírito, a prezar a inteligência acima de tudo, a cultivar a gentileza, a amabilidade e o companheirismo..."

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NOSSA...OUTROS TEMPOS!

VIVAS A
MANUEL BANDEIRA!



sábado, 16 de abril de 2016

O que passava na TV carioca há 50 anos







A TV Globo engatinhava e a TV RIO dominava, com a maravilhosa programação .

        Programas que não se falam mais, como...

. Tevefone

Foi um programa com cerca de duas horas de duração, apresentado por três famosos disc jockeys cariocas da época: Luiz de Carvalho, Jonas Garret e Mário Luiz .Eles tocavam as músicas sugeridas pelos telespectadores que telefonavam para o programa.

. Clube do Titio

Programa infantil que exibia desenhos animados, gincanas e seriados 
O titio era Hélio Ribeiro, à esquerda na foto acima.

. Festa do Bolinha, era o programa jovem, de rock, de Jair de Taumaturgo, na TV-Rio carioca.

. Papai Sabe Nada , sátira do seriado Papai Sabe Tudo, com Renato Corte Real, dividindo  a tela com o humorista Jô Soares.

Corte Rayol Show  da TV Record,  com com Renato Corte Real e o cantor Agnaldo Rayol uma espécie de versão tupiniquim de Jerry Lewis e Dean Martin.



. Bossaudade, programa com artistas da "velha guarda", comandado por dois ícones da nossa música - Elizeth Cardoso Cyro Monteiro - e que conseguiu a proeza de agradar a todo mundo: jovens e "coroas".







terça-feira, 12 de abril de 2016

E o Rio ficou a ver navios na passagem do cometa Halley em 1986

 

Há 30 anos cariocas se mobilizaram, lotando praças e praias 
para assistir ao espetáculo no céu, que acabou sendo...
 um fiasco



O anúncio de que o “cometa do século”, batizado de Ison, poderia ser visto entre fins de novembro e início de dezembro de 2013 nos céus do Rio fez os cariocas de mais de 30 relembrarem a visita do Halley, em 1986. 

Mais célebre cometa da História — o primeiro registro sobre sua existência é de 240 a.C. —, o Halley era aguardado com ansiedade, e começou a aparecer, timidamente, em 9 de fevereiro, quando chegou ao seu ponto mais próximo do sol, o periélio. 

No 11 de abril de 1986, quando, segundo os cientistas, estaria mais próximo da Terra, praias e parques ficaram lotados. O Planetário do Rio recebeu dez mil pessoas na semana do cometa, e a venda de lunetas e binóculos triplicou.
 
O resultado foi frustrante. 

Por causa da poluição e do excesso de luzes da cidade, o que se viu foi uma pequena mancha, quase imperceptível a olho nu. Além do mais, ao contrário do senso comum, um cometa não passa. Conforme especialistas, ele se aproxima da Terra, torna-se mais visível. Sem falar que o brilho e o tamanho da cauda dependem da proximidade com o sol. 

Em 1986, Halley estava muito afastado e, por isso, pareceu menor e menos brilhante.
 

sábado, 9 de abril de 2016

Primeiro CD foi carioquíssimo!


O primeiro CD musical lançado no Brasil
foi "Garota de Ipanema",
em 9 de abril de 1986,
numa gravação de Nara Leão e Roberto Menescal.
 





O repertório completo do CD “Garota de Ipanema”, da Phillips, continha

    1. O Barquinho (Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli)
    2. Garota de Ipanema (Tom Jobim / Vincius de Moraes)
    3. Berimbau (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
    4. Desafinado (Tom Jobim / Newton Mendonça)
    5. Wave (Tom Jobim)
    6. Corcovado (Tom Jobim)
    7. Águas de março (Tom Jobim)
    8. A Felicidade (Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes)
    9. Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá / Antônio Maria)
    10. Chega de saudade (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
    11. Meditação (Tom Jobim / Newton Mendonça)
    12. Samba de uma nota só (Tom Jobim / Newton Mendonça)
    13. Água de beber (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
    14. Você e eu (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
    15. Samba do avião (Tom Jobim)
    16. O que será (A flor da terra) (Chico Buarque)


Pra recordar e ...ouvir!



quarta-feira, 6 de abril de 2016

O Rio de Janeiro continua índio



Dia 19 de abril, Dia do Índio.
Vale a pena reproduzir
a crônica de José Ribamar Bessa Freire.




O Rio de Janeiro continua índio


Francês:   Mamópe setã? (Onde é que você mora?)
 Índio Tupinambá do Rio: Kariók-pe. (Em Carioca)
 (Do  “Colóquio”  de Jean de Léry - 1558) 




O Rio de Janeiro continua sendo, 450 anos depois, índio, mas nenhum guarani foi convidado para sua festa de aniversário. Neste domingo, 1° de março, nenhum índio soprará a velinha do tradicional bolo de quase meio quilômetro que a Sociedade dos Amigos da Rua da Carioca fez para festejar os 450 anos da cidade, como parte da programação que prevê, ao longo do ano, a realização de 600 atividades: conferências, seminários, projeções, exposições, missa, performances, teatro, orquestras, bandas, salva de tiros, regata... Os índios, porém, estão ausentes de quase todas.
Mas os índios estão presentes na história carioca, a passada e a atual. Os primeiros povoadores que viviam aqui há pelo menos 8 mil anos, "eram indivíduos de forte compleição, baixos, com o rosto estreito, nariz afilado e com pronunciadas arcadas sobre os olhos”, escreve o arqueólogo Ondemar Dias. Algumas evidências mostram que, por volta de 3.000 a.C., houve uma “explosão de vida” no litoral, quando os pescadores começam a usar redes e armadilhas de pegar peixes na baía de Guanabara e surgem os primeiros agricultores, segundo Alfredo Mendonça, arqueólogo amazonense que estudou o Rio.  
No séc. XVI, quando os europeus desembarcam, encontram o entorno da baía de Guanabara habitado por milhares de índios Tupinambá, Temiminó e Tupinikin. Todos eles desenvolviam práticas sociais trabalhando, narrando, rezando, cantando, sonhando, sofrendo, reclamando, brigando, rindo e se divertindo em línguas da família tupi-guarani. Com essas línguas, classificaram o mundo. Nomearam rios, lagos, montanhas, pedras, árvores, plantas, flores, aves, peixes, insetos, mamíferos e outros animais.
Viviam em centenas de tabas, 36 das quais foram mapeadas na Ilha do Governador pelo frade André Thevet, que veio na frota de Villegagnon. Outras 32 aldeias foram listadas pelo calvinista francês, Jean de Léry, em 1558. Os portugueses acrescentaram mais povoações. A mais importante é a aldeia Kariók situada no sopé do morro da Glória, na foz do rio Carioca, que tinha uma segunda foz, mais caudalosa, na praia do Flamengo. Cada aldeia tinha população que variava entre 500 a 3.000 índios, todos dizimados pelo sistema colonial, responsável por uma catástrofe demográfica.

Tem índio no Rio 
Os territórios indígenas foram invadidos, suas aldeias destruídas, suas terras ocupadas, loteadas e distribuídas. O recôncavo foi todo retalhado. Com a fundação da vila de São Sebastião do Rio de Janeiro, sesmarias foram concedidas para constituir o patrimônio da cidade, incluindo a baía de Guanabara e adjacências. Para fora do núcleo urbano, estendia-se zona agrícola e pastoril, com lavouras, engenhos e campos de pastagem.
No Rio, no período colonial, os índios trabalharam compulsoriamente na abertura de picadas e clareiras, na derrubada de árvores e seu transporte, remando canoas, na construção de feitorias, engenhos e fortalezas, em olarias, na agricultura, na fabricação de farinha, na caça e pesca. E até meados do séc.XIX, 15 aldeias da Província abasteciam ainda a cidade com índios que prestavam serviços domésticos, faziam biscates ou eram recrutados para as obras públicas, o Arsenal da Marinha e a pesca da baleia.
Esses "índios urbanos", quase sempre sem domicílio certo, formavam uma “tribo” desfigurada que vagava pelas tabernas da Candelária, Santa Rita e São José, entrando em  conflito permanente com a Polícia. A própria Câmara Municipal do Rio requisitava das prisões os índios para as obras públicas, como foi o caso da reforma do Passeio Público, em 1831, toda feita com trabalho indígena.
Vários estrangeiros que visitaram a cidade no séc. XIX deixaram relatos, além de rica documentação iconográfica como as de Debret (1768-1848) e Rugendas (1802-1858). Índias lavadeiras, à beira do rio, no Catete, onde lavavam roupa, foram documentadas por Debret que escreveu: "Seus filhos tornam-se, com 12 ou 14 anos, excelentes criados”. Retrata índios de diferentes etnias alojados na ilha das Cobras, num barracão da Marinha.
No séc. XX, os índios continuam a transitar pela capital da República, para onde migravam por diversos motivos. O Rio sempre foi e nunca deixou de ser índio. Hoje, o estado do Rio abriga apenas 1.9% do total da população indígena do Brasil, parte dela vivendo na capital. Os dois últimos censos do IBGE indicam que em 2000 moravam dispersos pelos bairros da periferia da cidade cerca de 15.622 índios, que diminuiu em 2010 para 6.764, mas que cresce se incluirmos os 11.961 índios que moram na Região Metropolitana.

A carioquice
O Rio continua índio no seu patrimônio cultural material e imaterial, que modelou a identidade carioca, ainda que muitos ignorem tais influências e outros a rejeitem mesmo sem conhecê-las. O Rio é  índio em seu patrimônio linguístico, no jeito de falar e de ser. Não é possível sequer se identificar e indicar o endereço sem pagar tributo simbólico às línguas indígenas.  Carioca é nome do rio sagrado dos Tupinambá que significa “morada (oca) do acari”, um peixe que cava buracos na lama e ali mora. Da mesma origem são nomes de bairros e acidentes geográficos.
O sotaque carioca está presente na busca de uma linguagem musical brasileira realizada, entre outros, pelo carioca de Laranjeiras Heitor Villa-Lobos, que exalta "Tupã, deus do Brasil" no Canto do Pajé  e canta saudoso: "Anhangá me fez sonhar com a terra que perdi". Está também no maestro Carlos Gomes, paulista que viveu no Rio e usou em sua ópera O Guarani instrumentos indígenas como maracás, inúbias, borés e flautas. O Rio continua índio no carnaval, no candomblé e na literatura.
Os autos teatrais de Anchieta, o poema Caramuru (1781) de Santa Rita Durão, a obra épica A Confederação dos Tamoios (1856) de Gonçalves de Magalhães mostram que a presença do índio na literatura marcou a formação da identidade nacional, o que foi referendado por Gonçalves Dias e José de Alencar que viveram na capital. Os índios foram imaginados como modelo de brasilidade e, num certo sentido, de carioquice, com os Tamoio ou Tupinambá sendo cantados em prosa e verso.
A carioquice do Rio está impregnada por contribuição dos índios à identidade local num processo histórico violento, em que conhecimentos subterrâneos foram repassados oralmente de uma geração à outra no campo da medicina, da farmacologia, da culinária, da biologia, da agronomia, da religião, das festas, dos rituais. Os saberes indígenas acabaram legando alternativas de sobrevivência nos trópicos, transmitindo-nos inventos adaptativos que desenvolveram em milhares de anos, concretizados nos métodos de plantar, caçar, pescar e preparar alimentos.
O Rio continua índio no patrimônio arqueológico da cidade, parcialmente destruído pela especulação imobiliária, cujos sítios oferecem pistas sobre sua ocupação. Museus e arquivos são também territórios indígenas, pois guardam marcas indeléveis da presença deles. Esse patrimônio documental permite identificar a contribuição indígena na configuração da paisagem da cidade, cujos parques e jardins contaram com o trabalho dos índios, assim como a construção de edifícios, fortalezas e monumentos.

Os Arcos da Lapa
No patrimônio de pedra e cal, entre outros, encontramos os Arcos da Lapa, construído com o sangue e o suor dos índios, conforme carta do sec. XVII escrita por André Soares, responsável pela construção do Aqueduto que trouxe água do rio Carioca para a cidade, "a qual obra se não pode fazer sem assistência dos Índios, que são os trabalhadores que naquellas partes costumão trabalhar". O autor menciona índios nas obras do Senado da Câmara e nos engenhos de particulares. A informação é confirmada pelo jesuíta Plácido Nunes (1683-1755), em carta dirigida ao Vice-Rei do Brasil:
"Em nossos tempos todas as Fortalezas, que se acham no Rio de Janeiro  foram feitas pelos Índios (...) Estes mesmos abriram o Caminho Grande, que vai do Rio de Janeiro para Minas até o Rio Paraibuna.  Estes os que conduziram todos os materiais e instrumentos para a Casa de Fundição (...). Estes, finalmente os que trabalharam o Aqueduto pelo qual se pôs a Água da Carioca na Cidade do Rio de Janeiro”.
Confirmando que o Rio de Janeiro continua índio, na resistência e nas alianças, a cidade foi palco de manifestações, em junho de 2013, de indígenas da denominada Aldeia Maracanã, aliados a não-indígenas, que cobraram a preservação do antigo prédio do Museu do Índio condenado à destruição. Diante do clamor público, o então governador Sérgio Cabral, retrocedeu e anunciou a restauração do imóvel situado ao lado do Estádio do Maracanã para sediar um Centro de Referência das Culturas Indígenas (CRCI).
Depois de discutir com 41 líderes indígenas de todo o país, o governo definiu por decreto os objetivos do CRCI, que se compromete a"promover, preservar e difundir a história, os valores, os conhecimentos e todos os aspectos culturais dos indígenas brasileiros, com foco especial nos grupos que vivem ou viveram nas diversas regiões do estado do Rio de Janeiro".
Não é preciso aniquilar o passado para entrar na modernidade, o povo carioca tem muitas razões para se identificar com a diversidade das culturas que aqui floresceram. O Rio continua índio. Resistindo. Sempre. O Rio de Janeiro, fevereiro e março. 

(Crônica reproduzida do Diário do Amazonas)
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José Ribamar Bessa Freire é professor, graduado em Comunicação Social (UFRJ-1969), especializado em Sociologia do Desenvolvimento (IRFED- Paris 1971-1972), doutor em Letras (UERJ-2003) e em História na École Des Hautes Études en Sciences Sociales – EHESS, Paris, (1980-1983).Atualmente, trabalha como professor na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como coordenador do programa de Estudos dos Povos Indígenas.

sábado, 2 de abril de 2016

Na Onda do Iê, iê, iê ..o filme...


...era lançado, há 50 anos, em 1966.


 O filme NA ONDA DO IÊ-IÊ-IÊ  foi dirigido por Aurélio Teixeira, com roteiro do próprio Aurélio Teixeira e Renato Aragão, Braz Chediak e Jarbas Barbosa.

Confr4ria - Cultura Pop, diversão, humor e um pouco de loucura.: Na Onda do Iê  Iê Iê – O Início da Era Os Trapalhões nos Cinemas

É o primeiro filme do grupo humorístico Os Trapalhões e a estréia de Renato Aragão no cinema.

Nos números musicais, além de várias canções compostas e interpretadas pelo cantor e compositor Silvio César -  Pra você e outras pérolas da MPB -, há ainda a apresentação de diversos artistas de sucesso da época, como

. Wilson Simonal (com seu grande sucesso Mamãe passou açúcar em mim, de Carlos Imperial),

. Clara Nunes



. Os Vips




Muitos desses artistas iniciaram suas carreiras identificando-se com o estilo musical dos anos 60 chamado de "Iê-iê-iê" que na verdade era o Rock 'n' Roll, mas no Brasil ganhou esse apelido.

No elenco, destaque para Renato Aragão, Dedé Santana, Silvio César, José Augusto Branco, Valentina Godoy, Mário Lago.


SINOPSE

Os amigos Didi e Dedé ajudam, o cantor César Silva( Sílvio César) a vencer no mundo artístico. Ele se apresenta no programa de calouros da Tv Excelsior, A Hora da Buzina, apresentado por Chacrinha. Concorre, também no Festival da Canção Popular Brasileira, da mesma emissora, apresentado por Wilton Franco e se apaixona pela filha do dono da gravadora. Mas precisa enfrentar as armadilhas de um playboy cafajeste, interessado em casar com a moça pelo dinheiro.

 
CLIQUE ABAIXO E VEJA O FILME COMPLETO!