segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Rua Carmem Miranda na Ilha do Governador



Rua Carmen Miranda em 1936


Três dias após a morte de Carmen Miranda, o vereador do Rio, Geraldo Moreira, solicitou à Camara, através de requerimento, que fosse dado o seu nome à Travessa do Comércio, rua da hospedaria da família Miranda da Cunha - sua família - como justa homenagem da cidade àquela que " internacionalizou a música popular brasileira, contribuindo igualmente para o engrandecimento do nome do Brasil no exterior". Não houve concordância com o vereador, a proposta não foi concretizada e o nome de Carmen Miranda foi parar em uma rua no bairro do Jardim Guanabara, na Ilha do Governador.

Em 20 de setembro de 1960, um busto de Carmen Miranda trajando bata de baiana em babados e colares e com um turbante tutti-frutti, foi inaugurado no Largo da Carioca. No entanto, com a reforma do local na década de 70, o busto também foi transferido para a praça, na Rua Carmen Miranda.




Ah! Rua Carmen Miranda...

Pra ali me mudei aos 14 anos. Rua linda, cheia de verde. Uma ladeira íngrime e sinuosa, no final da Praia da Bica, ligando o Jardim Guanabara ao Cacuia.

Hoje, provavelmente não é mais assim, mas era uma rua só de casas e muitos terrenos vazios. Logo na subida tinha a casa da árvore. Sim, ela era dentro da casa. O projeto a incorporou, para aproveitar o terreno, e deu o toque diferente que marcava a construção. Aí a rua começava uma curva ascendente à direita e depois reta para cima e bem lá no final começava a descer.

Ufa! Como era difícil subí-la, a pé - e como fazíamos isso - na volta da praia com o sol a pino. No tempo em que não se bronzeava, mas sim se torrava com óleo Johnson e muito iodo - ou com o Rayto del Sol - pra ajudar. Tempos de uma Praia da Bica, como praia, e muitas conchinhas e cascalhos na sua areia. Tempos do encontro com as pessoas da turma, pra muita conversa fora.

No meio dessa subida íngrime ficava a pracinha, à esquerda, e lá estava o busto da Carmen Miranda, desdenhado pela cidade e orgulhosamente acolhido pela Ilha. Aliás, sempre enchi a boca para falar que morava na Rua Carmen Miranda. Minha casa era enorme, principalmente pra quem vinha de um apartamento.
Tinha caramanchão e até laguinho com chafariz no jardim.

Ah! Rua Carmen Miranda! Da iluminação em estilo de lampiões, que deixavam a rua romanticamente pouco iluminada - sem as preocupações atuais com segurança - e se via, sempre, um céu apinhado de estrelas, onde se procurava constelações. Do guarda noturno que passava à noite e apitava. Das corujas que vinham pousar, serenas, no parapeito do muro e ali ficavam com seus olhares enigmáticos. Do calçamento em paralelepípedos. Andávamos no meio da rua, sem muitos carros ou trânsito, pois faltavam calçadas. Só algumas, em frente às poucas casas que existiam.

Ah! Rua Carmen Miranda! Do lindo amanhecer, que via da janela, dourando o céu e animando o nascer do dia, que começava cedo, ainda de noite, pra pegar o ônibus e dar tempo de chegar na hora, no colégio ou depois na faculdade, apesar do engarrafamento da Avenida Brasil.

Ah! Rua Carmen Miranda! Da fauna curiosa de lagartos e gambás, que atrevidos insistiam em atravessar a rua, durante sua caminhada, ou até invadir a casa , pra sustos e arrepios.

Ah! Rua Carmen Miranda! Do cheiro de mato, dos flamboyants vermelhos e alaranjados, das normas apinhadas de suas flores rosas e do capim alto - e até bonito - que embalançava ao vento!

Ah! Rua Carmen Miranda! Das casas em estilo alemão, ou das varandinhas antigas, e das escadas pelos terrenos inclinados da topografia local; dos atalhos pela Rua Conquista ou pela Rua Porto Seguro, para cortar caminho. Do padeiro que passava pela porta, e sua cesta de pães e pães-doces.

Ah! Rua Carmen Miranda... de tantas recordações e saudades!
Nunca mais passei por lá, desde 1974, quando me mudei. Sei que deve estar tudo muito diferente, mas gosto de guardar as imagens desse tempo. Desses sete anos mágicos que por lá vivi.

Hoje Carmen Miranda faria 100 anos e minha homenagem a ela fica por conta de um tempo maravilhoso que vivi na rua com seu nome, com o mesmo astral animado dela, e com sua bênção, tenho certeza.

VIVA CARMEN MIRANDA!

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Carmen Miranda _1

Disseram que ela se americanizou,

mas nada tão verde e amarelo

quanto sua imagem, sua presença, seu talento,

que nos inspira a cada momento.

Duas aquarelas que pintei, em sua homenagem.

VIVA O CENTENÁRIO DE CARMEN MIRANDA!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O Lança-perfume





O hábito de cheirar o lança-perfume , como efeito etílico, vem de 1928, há 90 anos,
quando a imprensa bradava


"o éter fantasiado de lança-perfume
é servido com escândalo no carnaval".





Mas ele, o lança-perfume, chegou no carnaval carioca de 1911.

Vindo da Suíça, da Fábrica Rodo, teve uma encomenda tão extraordinária, no valor de 4.500 contos de réis, que naquele ano veio um representante da fábrica ao Rio, para ver como se gastava tanto lança-perfume, em um Carnaval.

Em garrafinhas de vidro, provocava grande número de acidentes. Inicialmente foi fabricado pela Rhodia, com aroma semelhante ao L’Air du Temps de Nina Ricci e produzido com cloreto de etila. Nos salões era o equivalente às águas perfumadas que os foliões pobres jogavam uns nos outros, na rua. Por ser barato, era usado em grande escala , em substituição às bisnagas do entrudo.

Em 1927, apareceu o rodo metálico, com a marca Rodouro - o produto em embalagens metálicas douradas - com mais segurança.


A propaganda dizia: 

Um perfume suave eu espalho
Sou distinto, perfeito e não falho
Sou metal e no chão não estouro, 
Sou o lança-perfume Rodouro.





Mas haviam outras marcas, que eram vendidas em lojas de brinquedos e produtos para carnaval, junto com serpentinas. Era um tempo que o lança perfume apenas aproximava, como mostra o artista Manoel de Mora , no reclame, acima, do pierrô cortejando a colombina. 





A fabricação, o comércio e o uso do lança-perfume foram proibidos através do Decreto-Lei nº 51.211, de 18 de agosto de 1961, durante o governo do Presidente Jânio Quadros.



Há controvérsias...



A Vila Valqueire faz limite com Jacarepaguá.

Essa região, no passado, foi o belo engenho denominado Valqueire, onde existia grande quantidade de árvores da espécie Pau-Ferro, que ainda resistem em algumas ruas, como na Rua das Rosas.

O Engenho do Valqueire teve, como um dos seus últimos ocupantes, Francisco Teles - avô materno de Geremário Dantas, nascido naquele engenho.

O termo Valqueire, no entanto tem sido alvo de polêmicas e histórias.

Para alguns é entendido como V (algarismo romano que representa o número 5) e alqueire (unidade de medição). Os que não concordam com essa hipótese alegam que essa história, que passa de boca-em boca, não é verdadeira e apontam livros e documentos.

Um deles, “As sesmarias de Jacarepaguá”, de Raul Telles Rudge, dá a explicação que muitos historiadores reputam como certa, do nome Valqueire. Ou seja, o nome vem do sobrenome do antigo dono das terras de Vila Valqueire, nos meados do século XVIII: Antônio Fernandes Valqueire. Simples e direto.

Sobrenome ou erro gramatical, fica a curiosidade e a polêmica para discussão e outras provas e contra-provas. Durma-se com um barulho desses.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Roberto Martins


O rei desconhecido do sincopado
Portal do Luis Nassif - http://colunistas.ig.com.br/luisnassif


" No panorama musical carioca, dos anos 30 e 40, há dois grupos de músicas, irmãs de sangue, englobadas em dois gêneros pouco estudados como tal, mas fundamentais na formação da música brasileira do período: o samba sincopado e o samba choro.
Um de nossos sambas sincopados favoritos é “Beija-me” (”beija-me / quero seu rosto coladinho ao meu”). É talvez o maior clássico do gênero samba sincopado, que teve em Ciro Monteiro, Dilermando Pinheiro, Vassourinha e Joel e Gaúcho seus intérpretes mais expressivos.
O sincopado foi construído por autores extraordinários, como Geraldo Pereira, Wilson Batista, Janet de Almeida. Um dos autores centrais, mais conhecido pelas composições do que pelo nome, foi Roberto Martins, autor de “Beija-me”. E quem me faz relembrar desse clássico é meu conhecido Eduardo Martins, de Ribeirão Preto.

Roberto Martins nasceu no Rio de Janeiro no dia 29 de janeiro de 1909. Morreu em 14 de março de 1992. Morou na Tijuca e em São Cristóvão. Cedo ficou órfão de pai, o português José Francisco Martins. A mãe Isaura Maria Machado Martins o educou para a vida e para a música. É de 1929 seu primeiro samba, “Justiça”. E de 1933 suas primeiras gravações –”Regenerado” e “Segredo”, gravados por um certo Leonel Faria.
É curioso o pouco conhecimento sobre a dimensão de Roberto Martins na música brasileira. No sincopado, suas composições estão à altura dos maiores. O sucesso começou em 1936 quando, com Valdemar Silva, compôs, “Favela” –um clássico interpretado por Francisco Alves. E não parou mais. Como me lembro, na infância, ouvindo aquela música, que me foi ensinado pelo meu tio Leo, um carioca da gema. Eu andava pelos cantos cantando, repetindo obsessivamente –”favela, oi, favela / favela que trago no meu coração”– como a Beatriz, com seus quatro anos, faz com seus CDs de estimação. “Favela” foi das primeiras músicas brasileiras gravadas internacionalmente.
No carnaval de 1939, em parceria com Nássara, compôs “Meu Consolo é Você”, gravado por Orlando Silva. No ano seguinte, “Cai Cai” (”cai, cai, cai, cai / eu não vou te segurar”), gravada pelos embaladíssimos Joel e Gaúcho.
A esta altura, consagrado como compositor, Roberto Martins largou sua carreira na polícia e virou ritmista da orquestra de Simon Boutman, uma das mais famosas dos anos 30. Em 1943, compôs o “Beija-me”, em parceria com Mário Rossi. A música foi gravada por Ciro Monteiro e se tornou um dos clássicos do samba sincopado. Junto com Rossi, Martins comporia outro clássico do samba-choro, o “212″ (”lá na rua onde eu moro / no 212 / mora a mulher que eu adoro / que quando eu passo faz pose”).
Foi um tremendo autor de marchas carnavalescas, à altura de um Braguinha ou um Lamartine Babo. Além do “Cai Cai”, em 1945 compôs o “Cordão dos Puxa Sacos”, em parceria com Eratóstenes Frazão, gravada pelos Anjos do Inferno. Ainda com Frazão, em 1947 compôs “A Marcha do Gafanhoto” (”gafanhoto deu na minha horta / comeu, comeu, toda a minha plantação”) gravado por Albertinho Fortuna e, nos anos 80, por Nara Leão. Com Ari Monteiro compôs o “Cadê Zazá?”, de 1948, gravado por Carlos Galhardo.
Foi também autor de valsas célebres, como “Dá-me tuas mãos”, em parceria com Mário Lago, gravada por Orlando Silva.
Em 1949 lançou o “Pedreiro Valdemar” (”que não tem onde morar”), em parceria com Wilson Batista, outro clássico, gravado por Blecaute, nascido ali em Santo Antonio de Pinhal, que se tornou uma das figuras clássicas do carnaval carioca, e que faleceu há exatos vinte anos. No samba de carnaval também foi autor de composições brilhantes como “Meu Consolo é Você” (”meu consolo é você / meu grande amor / eu explico porque”), em parceria com Nássara.
Quando leio essa produção acadêmica sobre a bossa nova, sustentando que a música brasileira anterior era composta só de dramalhões, coloco no aparelho as músicas de Roberto Martins e me dá uma pena desses pesquisadores…"

Ouça
Beija-me

Infelizmente, mais um centenário quase esquecido.
Lembrado por muito poucos.

Ah...MEMÓRIA BRASILEIRA!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sobre aquarelas...

As aquarelas da edição de fevereiro do RIO QUE MORA NO MAR me deram um grande retorno, que agradeço muito.
Dentre os "presentes", quero compartilhar, com licença dos demais, dois:
  • O primeiro, são os belos versos que recebi de Manoel Carlos Magalhães
"Quisera que minha pena tivesse
A magia e a ternura envolventes,
Das cores suaves de tua aquarela;
Desse dom nobremente repartido.

Quisera que minha pena trouxesse,
Com a mesma força radiosa,
Com que trazes cenas a lume,
O todo-dia dessa Cidade Maravilhosa.

Pois só assim comigo a certeza
De poder retribuir tanta beleza;
De gravar para a eternidade
Os "pedacinhos coloridos de saudade"...

Confesso que chorei ."

  • o segundo, a reprodução da edição/fevereiro no portal do Luis Nacif - clique aqui - através da Helô Lima, com inserção de música, sua especialidade.

A todos, citados e não citados, meu obrigada
com mais uma aquarela. Eu...sim, confesso que chorei.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Histórias da Marechal Floriano

O primeiro dentista registrado foi da Rua Larga.

Um dentista português Luiz Antunes de Carvalho, obteve notoriedade e riqueza, sendo um dos pioneiros na cirurgia buco-maxilar no Brasil.

Em 18 de janeiro de 1832 havia obtido em Buenos Aires o direito de exercer a profissão. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1836, sendo o primeiro dentista a registrar sua "carta" na secretaria da Câmara Municipal.

Ficou famoso na Argentina pela propaganda em forma de versos e depois em prosa.
Já fazia marketing!

No Brasil foi mais comedido, mas demonstrando sempre ser profissional conhecedor e atualizado, publicou no Almanak Administrativo Mercantil e Comercial:


"Luiz Antunes de Carvalho enxerta outros dentes
nas raízes dos podres,
firma dentes e dentaduras inteiras,
f
irma queixos, céus da boca,
narizes artificiais e cura moléstias da boca.
rua Larga de São Joaquim,125"
Amanhã tem mais!
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Hoje já está sendo enviada a edição /fevereiro do RIO QUE MORA NO MAR. Se não recebeu, manda um e-mail solicitando.