sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

FELIZ ANO NOVO

 O jornal carioca Jornal do Brasil,
em vários dezembros publicou textos que falavam de Ano Novo, de Carlos Drummond de Andrade -  o mineiroca de Copacabana, da Rua Conselheiro Lafayete .

Há 40 anos atrás, em dezembro de 1973, ele dizia

"Uma vez mais se constrói
a aérea casa da esperança
nela reluzem alfaias
de sonho e de amor: aliança."

E em dezembro de 1997, o JB publicou uma receita especial...

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.



A todos os amigos do blog
FELIZ ANO NOVO!

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

FELIZ NATAL


As palavras de Guimarães Rosa,
em Grande Sertão: Veredas nos disseram

 “O correr da Vida embrulha tudo,
a vida é assim:
esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega
e depois
desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”.
 

Tempo de Natal é um pouco assim. 

Corrido, embrulhado pra presente, inquietante.
Principalmente quando a gente é criança. 

Que espera, que ansiedade... realmente desinquieta!

Com o cheiro da rabanada no ar,
as castanhas logo aí já cozidas só pra cortar
(vou comendo desde que aparecem),
os embrulhos, laços, bolas, luzes e o presépio
  - que nos dias de hoje tanto falta, pois esquecem do aniversariante -
deixo com vocês
o desejo de um

Feliz Natal!





segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Copacabana, princesinha do mar


Entre os anos 1940 e 1950, o bairro de Copacabana teve um grande crescimento demográfico. 
Praticamente dobrou:  passou de pouco mais de 74 mil para quase 130 mil habitantes.

Nessa época começam a surgir linhas de ônibus ligando a Zona Norte e os subúrbios a Copacabana.


Av. N.S. de  Copacabana, 1935

Av. N.S. de  Copacabana, 1940


Av. N.S. de  Copacabana, 1950


Av. N.S. de  Copacabana, 1950


Numa edição de 1948, a revista Copacabana dizia que 


“as grandes organizações do Rio de Janeiro não podem mais ficar limitadas ao Centro, já que os moradores da Zona Sul possuem mais capacidade aquisitiva, mais senso de progresso e mais realidade de civilização”.

 A decadência da Lapa também contribuiu decisivamente para a boêmia se mudar de mala e cuia para a beira-mar. Copacabana virou símbolo de um Rio moderno e cosmopolita.


CURIOSIDADE:

A história da canção Copacabana, de Alberto Ribeiro e João de Barro, o Braguinha, é bem emblemática do período. 
Ela foi encomendada aos compositores pelo produtor americano Wallace Downey   para um filme e que também planejava abrir uma boate em Nova York decorada “no estilo de Copacabana”. Eles se inspiraram numa outra canção que já tinham feito, o fox-canção Era uma vez, e criaram  o clássico Copacabana.
Como o assunto do night-club não foi à frente, a composição permaneceu inédita até 1946, quando resolveram gravar  - saiu pela gravadora Continental -  na voz inconfundível de Dick Farney e o arranjo histórico do maestro Radamés Gnattali.

Essa canção teve mais de 100 regravações no Brasil e no mundo.
Ouça e acompanhe a letra 

Existem praias tão lindas
Cheias de luz
Nenhuma tem o encanto
Que tu possuis
Tuas areias
Teu céu tão lindo
Tuas sereias
Sempre sorrindo

Copacabana, princezinha do mar
Pelas manhãs tu és a vida a cantar
E à tardinha, ao sol poente
Deixa sempre uma saudade na gente
Copacabana, o mar eterno cantor
Ao te beijar, ficou perdido de amor
E hoje vive a murmurar
Só a ti Copacabana eu hei de amar




sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Ilha de Brocoió



A Ilha do Brocoió fica no interior da baía de Guanabara e no arquipélago da Ilha de Paquetá, da qual fica cerca de 300 metros.

A beleza de Brocoió segue pouco conhecida e também sua história.

Originalmente era constituída por duas pequenas ilhas interligadas e foi  utilizada como presídio para indígenas rebeldes. Depois, foi explorada como caieira, material de construção essencial à época do Brasil Colônia.

Na década de 1930, a ilha pertencia a Octávio Guinle -  empresário brasileiro, mais conhecido por ser o fundador do hotel Copacabana Palace -  quando foi urbanizada e promovidos diversos aterros que alteraram significativamente a sua geografia e hoje a Ilha de Brocoió tem  aproximadamente 200.000 m² de superfície.

Nela tem um casarão, o Palácio de Brocoió, que foi projetado pelo francês Joseph Gire por encomenda de Otávio Guilnle, o mesmo que projetou o Copacabana Palace.

O casarão em estilo normando, além dos telhados muito inclinados, próprios para neve tem mansardas — janelas inseridas no telhado — e a estrutura de madeira aparente na fachada, técnica chamada de enxaimel. O desenho das madeiras em diagonal é apenas decorativo: foi feito em argamassa e pintado de marrom para simular a madeira.

Tem, também, dois pequenos chalés próximos à entrada traseira do casarão. Entre os dois, estão os resquícios do jardim francês projetado por Gire.

Do subsolo ao sótão, há outras surpresas: no andar inferior, um banheiro de praia, usado após o banho de mar como entrada independente, ostenta mosaicos com motivos árabes e até um bar. Ao lado dele, as enormes cozinha, copa e despensa, com desenhos no piso. No hall principal, de pé-direito duplo, uma claraboia. A luz suave chega ao salão de estar, que tem, de um lado, a sala de jantar e, de outro, a de leitura. Os três cômodos têm boiseries (painéis de madeira adornados por molduras) nas paredes e bonitos móveis de época.
Mas é no andar de cima, o dos quartos, que está o ambiente de mais personalidade da casa: o banheiro art déco da suíte, com uma vista deslumbrante para o Rio. A banheira, escavada num bloco maciço de mármore de Lioz, domina o ambiente amarelo, com direito a torneiras de bronze na forma de pássaros, influência do art nouveau. A suíte tem dois quartos e um escritório.

Adquirida em 1944 pela Prefeitura do então Distrito Federal, na gestão de Henrique Dodsworth, atualmente é de propriedade do governo do Estado do Rio de Janeiro, encontrando-se tombada desde 1965 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC). E o Palácio de Brocoió  se tornou residência alternativa de verão para o Governador do Estado, não utilizada ultimamente.

Houve uma época em que autoridades do estado e figuras ilustres eram habitués do local. O governador Carlos Lacerda adorava despachar no escritório da suíte.

Por lá chegaram a trabalhar 50 pessoas para que nada faltasse aos visitantes. Faisões e pavões ficavam soltos no enorme jardim e davam o toque fantástico ao cenário da ilha.

CURIOSIDADE:

A revista O Cruzeiro, Ano XXXVII, nº 43, 31/07/1965 publicou reportagens especiais sobre um domingo especial em Brocoió, promovido pela revista, no ano do 4° centenário da cidade, nas edições de n° 42 de 24/7/1965 e nº 43, 31/07/1965. 



"DOMINGO DE MISSES EM BROCOIÓ

     O primeiro dia de Miss Brasil-65 foi todo de brisa, mar e paisagem, em companhia das outras finalistas, dos organizadores do concurso e das coleguinhas estrangeiras que, brevemente, estarão desfilando com ela na passarela de Miami Beach.
     A Ilha de Brocoió é um paraíso de bolso, cercado de Guanabara por todos os lados. Para lá, sob um céu chuvisquento, várias lanchas levaram meia centena de misses, ao ritmo de gostosa batucada (linguagem musical da terra, que todas depressa entenderam). Mr. Botfeld e outros big-boss do Miss Universo juntaram-se ao samba, cantando em português esforçado mas sincero. Entre eles estava Monsieur Claude Berr (coordenador do Miss França e supervisor do concurso na Europa).

Kiriaki Tsopei, Miss Grécia, Miss Universo 1964,
preparando-se para um mergulho na Ilha de Brocoió.
(Foto: O Cruzeiro)
    Dos ares, veio uma surpresa, quando a viagem ainda estava a meio: um helicóptero da FAB, que o Brigadeiro Carlos Alberto de Matos gentilmente pôs ao dispor das misses, passou a sobrevoar as lanchas, com Indalécio  Wanderley na carlinga. As pás do imenso pássaro metálico sopravam forte o cabelo das moças, revelando novas feições de suas graças. O americano Harold L.Glasser, presidente do Miss Universe, Inc.(425 Fith Avenue, N.Y.), alto e boa praça, comentou: - Estas fotos vão sair ótimas. O fotógrafo é maluco. Vou querer estas fotos para fazer uma história na “Life”.

De costas, Sue Ann Downey (Miss Estados Unidos,
Miss Internacional do IV Centenário do Rio de Janeiro),
tenta levantar Kiriaki Tsopei (Miss Grécia, Miss Universo 1964),
observada por Ângela Vasconcelos (Miss Paraná, Miss Brasil 1964).
(Foto: O Cruzeiro)
     Em Brocoió, as misses correram nos gramados. A americana Sue Ann, Miss Internacional IV Centenário, cantava em inglês, com letra improvisada por ela, a marcha “Cidade Maravilhosa”. A grega Kiriaki (para os amigos Korina), Miss Universo 1964, era um jorro de alegria morena, em contraste com os verdes que predominam na ilha. Maria Raquel de Andrade, Miss Brasil, ainda não refeita da emoção de sua vitória, poucas horas antes, mostrava-se tímida e solitária. A aplaudidíssima Miss Mato Grosso, Marilena de Oliveira Lima, quarta colocada no Miss Brasil, fez amizade com outra morena, Miss Índia. Depois, o almoço: peru, peixe e vinho nacional
* O Cruzeiro n° 42 de 24/7/1965 *
 
 
UMA ILHA NAS ÁGUAS DA BELEZA: BROCOIÓ

     A beleza do mundo inteiro – representada em misses de 21 países que concorreram ao Concurso Miss Internacional do IV Centenário e em 25 misses indígenas que procuraram o cetro e a coroa de Miss Brasil – recebeu a festa maior da Cidade Maravilhosa durante o passeio promovido por “O Cruzeiro” à paisagem escondida da pequena Ilha de Brocoió, no fundo da Baía de Guanabara. Um helicóptero, colocado na agenda das vantagens de que a beleza de qualquer miss sempre desfruta, completou os acessórios do transporte que tinha o tom maior na lancha branca que carregou a mais cobiçada carga de simpatia que o sol do Rio de Janeiro já dourou. Mantendo o passeio no tom do sorriso e da alegria, aconteceu o “rapto” de Miss Brasil, quando todos menos esperavam, na circunstância inédita de o helicóptero entrar na história como o novo instrumento da conquista da beleza. Passeio marítimo até Brocoió, almoço de peixe e peru, vinhos nacionais, eis a promoção de “O Cruzeiro” para as misses.

Os sorrisos de Persis Khambatta, Miss Índia, e Virpi Liisa Miettinen,
Miss Finlândia,vice-Miss Internacional do IV Centenário do Rio de Janeiro.(Foto: O Cruzeiro)


     No céu, moldura de chuvisco e bruma; nas lanchas brancas, 50 misses em batucada de samba. Mr. Botfeld e outros big-boss do Miss-U (Miami) e, também, Monsieur Claude Berr (este, coordenador do Miss França e Miss Europa) juntaram-se  à batucada, inclusive com voz em português. O passeio escorreu ótimo, as misses descobrindo as belezas naturais da Guanabara, as gaivotas e mergulhões, a silhueta das serras, o vento trazendo um chuveirinho de água salgada pra o rosto das belas. A sensação da liberdade panteísta.
     A equipe de “O Cruzeiro” tinha surpresa em versão de helicóptero que o Brigadeiro Carlos Alberto de Matos, comandante do Catinave, colocou na agenda das misses, num gesto de galanteria da FAB. Ia no leme do helicóptero o tranqüilo Tenente Noronha. Enquanto as lanchas singravam mar de ondinhas, o helicóptero, de cima, com o incrível Indalécio Wanderley de janela no vento, farejava em cores e preto-e-branco a esteira dos barcos. Eram fotos em carretilha, metralhadas de cima, o redemoinho do helicóptero assanhando os cabelos das moças, que riam em coro. De baixo, George Torok e José Carlos Vieira, parceria de Darcy Trigo, enquadravam o helicóptero no visor de suas leicas. Operação mar-e-ar, por conta da indocilidade dos nossos guerreiros profissionais.
     Em Brocoió as misses correram nos gramados. Sue Ann, americana, Miss Internacional IV Centenário, estava de maré de piada. Cantava (com letra que ela improvisava, em inglês) a nossa Cidade Maravilhosa. E repicava com músicas famosas americanas (repertório de Frank Sinatra). A grega Kiriaki, que prefere ser chamada de Korina, Miss Universo 1964, era um jorro de gargalhada. A natureza do Rio amalucou as internacionais. A alemã continuava rindo. Até a dor é engraçada para aquele talo de rosa. Notem que as moças vestiam linhas esportivas. Miss Alagoas estava de slack azul-claro, cabelos soltos á moda Brigitte. Maria Raquel de Andrade, nossa Miss Brasil, buscava solidão nas lanchas. Foi gravada em pose solitária. Ela explicou que era exaustão. Estava nervosa com tanto sucesso junto. E de mãos dadas de passeio miúdo pelas gramas, Miss índia e Miss Mato Grosso, por sinal semelhantes em morenice e simpatia. Em nome de São Paulo, a sua miss loura, Sandra Rosa, ganhadora do segundo lugar, com viagem certa para Long Beach. Vestia calça azul e túnica de rendas brancas.
     No almoço, no solar da pequena ilha, a Miss da Baia de Guanabara, todas as misses preferiam o peru ao peixe, com vinhos do Rio Grande do Sul. Quem mais comeu foi Miss Áustria, pelas internacionais, e Miss Minas, pelas nacionais. 

O "RAPTO" DE MISS BRASIL
 
Maria Raquel, Miss Brasil 1965,  aproxima-se do helicóptero
sem saber que seria "raptada".
(Foto: O Cruzeiro)
 
Momento em que Maria Raquel entrava no helicóptero.
Ao fundo,o famoso fotógrafo Indalécio Wanderley.
(Foto: O Cruzeiro)
            Estava marcada uma surpresa em Brocoió.  Quando o helicóptero posou nos verdes, todo mundo pensou que era uma visitinha. Apenas isso. Não era visitinha. Era um plano de rapto contra Miss Brasil. Pedimos a ela que fosse até ao helicóptero para tirar umas fotos. Não soletramos o verbo voar. E quando a loura Raquel entrou na cabina, o bicho roncou forte. Ela agarrou-se ao pescoço de Indalécio. Puro medo. Acontece que Raquel nunca tinha voado. E, na estréia violenta, o medo, o arrepio nos nervos. Em baixo ficaram as outras maravilhadas. O helicóptero rumou para outra ilhota, de nome Jurubaíba ou Dois Irmãos. Baixou em praia livre, onde só havia uma barraca e um punhado de banhistas que fazia um piquenique. Miss Brasil foi logo identificada. E idem o fotógrafo: - Você é Indalécio Wanderley, não  é?

Sue Ann Downey, Miss Estados Unidos 1965,  e Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964,
divertindo-se com o susto de Maria Raquel.
(Foto: O Cruzeiro)
       Raquel estava afobada, tremente. Não levara maiô. Estava de vestido, sapatos salto alto, meias longas, que se rasgaram na viagem. Assim mesmo ela foi fotografada nas areias, junto do fim da onda, entre barcos e poucas pessoas que nunca viu. Sua fome era proclama por ela mesma. 
* O Cruzeiro,  nº 43, 31/07/1965*

O governo atual não liga para a ilha e nem ela está disponível à visitação. Uma pena. 

Quer ver mais? Clique AQUI e faça um passeio virtual.


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Encontros no Rio: Carlos Lacerda e Roberto Carlos

Em 1970, Carlos Lacerda, à falta de projetos políticos viáveis, volta aos tempos de jornalista e entrevista, dentre outros, Roberto Carlos, para a edição 963 da revista carioca Manchete.

 Curioso é que Lacerda não ia à casa das "celebridades". 
Os entrevistados iam à sala do entrevistador.  

Carlos Lacerda deu ao perfil extremamente bem escrito que fez do cantor um título sugestivo: Roberto Carlos, rei da jovem guarda, príncipe da melacolia".




Lacerda comenta que foi entrevistar Roberto e conheceu o Zunga, apelido de infância do cantor. E o Zunga vira a chave e o rumo de uma entrevista reveladora. Inclusive, com inegável talento, Lacerda aborda um tema-tabu até hoje na vida de Roberto Carlos: o acidente que sofreu, criança, em Cachoeiro do Itapemirim.

"Zunga esteve lá em casa. Veio vestido de Roberto Carlos, de calça veludo frappé como as que Jean Bouquin vende naquela loja louca de St. Germain. Mas é de Zunga que se trata, o menino de sua mãe, que aos seis anos, numa festa escolar, levou um esbarro da locomotiva e perdeu uma perna e hoje a tem toda nova, de metal polido, deve ser prateado, o que o faz coxear um pouco". (...)  
"Pois Zunga é uma espécie de Édipo. O rei é Édipo-Rei. O filho amoroso de todas as mães, flor amorosa de três raças tristes" (...) 
"Zunga é um solitário e isto se vê nos seus olhos, no seu rosto contido, de tímido tenso".
A entrevista mostra Lacerda , com seu estilo ímpar, até quando faz ao entrevistado uma última pergunta e um comentário final:

- Se você fizesse um filme com a história da sua vida, como é que acabava?
- Eu, numa rua, andando na chuva"
- Ô solidão!"


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

De hoje a 450 dias, o Rio fará 450 anos!

A cidade do Rio de Janeiro vive
a 450 dias de completar 450 anos, no dia 1° de março de 2015.





O RIO QUE MORA NO MAR quer que essa data se torne um marco onde esse número 450 seja a tônica pra essa cidade.

Não seja apenas  motivo de festas e discursos vazios, gastos com cachês e palcos, o velho pão e circo que nunca levou a nada.

450 dias de intensa atividade cultural, de ensino exigente e dedicado, de atendimento de saúde e hospitalar eficientes, de segurança de confiança, sem impunidades e protecionismos.

450 dias de uma real tolerância zero seja com o que for, contra quem for, contra o avanço de sinal, contra a direção irresponsável, contra o estacionamento irregular, contra o barulho e a baderna , contra a sujeira, o lixo;

450 dias de moralização nos jeitinhos, nas construções irregulares, das invasões oportunistas sejam onde forem;

450 dias de respeito à mobilidade urbana, de respeito ao patrimônio da cidade, monumentos e locais;

450 dias de respeito à natureza da cidade, às areias das praias, trilhas e jardins que viram lixeiras em fins de semana e feriados, vítimas do vandalismo e pouco caso dos frequentadores; combate ao lixo despejado impunemente nas encostas, no esgoto, nas lagoas e rios da cidade;

450 dias de incentivo ao que é verdadeiramente nosso.  Despertar para as coisas realmente nossas e não ceder lugar a interesses que só prejudicam a cidade e estão criando um falso perfil do que é carioca.

450 dias de obras realmente necessárias. Chega de obras de fachadas! Que acabem os alagamentos, as inundações, que tiram a mobilidade urbana, dificultam a vida da cidade e destroem vidas e famílias.

450 dias de competência de gestão!

 E isso não precisa muito. Só de amor. 

Amor que olha, que cuida, preserva  que faz não olhar só para o próprio umbigo, mas para o lado.Um amor à cidade que hoje não se cultiva, não se incentiva, porque é piegas. Esse é o verdadeiro, não o que monta palco, o que diz blá-blá-blá.


AMOR AO RIO!








terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Corte de Apelação do Rio de Janeiro e a alforria

São aspectos pouco conhecido da escravidão brasileira: as ações de liberdade.


Na tentativa de obter  a liberdade, cativos entraram com uma enxurrada de ações judiciais durante a colônia e o império.

Essa história jurídica começa com a escrava Liberata.

Ela era uma escrava em Desterro, atual Florianópolis, mas que mudou seu destino de cativeiro quando decidiu - e teve coragem pra isso - seguir um caminho diferente: iniciou um processo na justiça brasileira, uma ação de liberdade.

Isso aconteceu em 1813, há 100 anos.

 Nascida por volta de 1780, de pais desconhecidos, ela foi comprada cerca de dez anos depois por José Vieira Rebello, morador do termo de Desterro.

Liberata em sua ação argumentou que Vieira havia prometido libertá-la e não havia cumprido a promessa. Que desde muito nova era assediada por seu senhor com promessas de liberdade, e ela passou a conceder-lhe favores sexuais, mesmo de mau grado, visando tal fim.

Apesar de o Brasil ter tido uma sociedade escravocrata, hierárquica, desigual e violenta antes da proclamação da República, havia um âmbito da justiça brasileira em que os escravos podiam ser ouvidos. Essa brecha na legislação,apontava o escravo, felizmente, como indivíduo.

E assim, as ações de liberdade surgiram. Eram processos movidos pelos escravos contra seus proprietários em busca de alforria.

Somente na Corte de Apelação do Rio de Janeiro, tribunal de segunda instância, Liberata conseguiu seu propósito.

Aliás , no Arquivo Nacional - Praça da República, no Rio de Janeiro -  onde estão arquivados os papéis dessas ações, existem cerca de 400 ações de liberdade que foram julgadas entre 1808 e 1888, e metade delas resultou na alforria dos escravos envolvidos.

Até um exemplo interessante, onde o próprio D.Pedro I é quem sugere a ação de liberdade para duas escravas.

Fonte: livro Liberata, a lei da ambiguidade, de Keila Grinberg

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

FLAMENGO TRI CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL 2013!

 RIO EM FESTA!

Belo e oportuno comerciaL da Peugeot!


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

As ruas SILVA, em Ipanema

Já passou pela Rua Dario Silva, em Ipanema?
E pela Rua Pedro Silva? Pela Oscar Silva? Talvez pela Rua Otávio Silva?

Conhece essas ruas? Com certeza, sim.

A Dario Silva é atual Rua Aníbal de Mendonça; a Pedro Silva, atual Rua Garcia D'Ávila; a Otávio Silva, atual Rua Maria Quitéria; a Oscar Silva, atual Rua Joana Angélica. 

 As ruas Silva levaram os nomes do filho do coronel Antonio José da Silva , sócio do Barão de Ipanema na  tarefa de urbanizar a área que daria origem à Vila Ipanema. Ainda teve uma quinta rua, a Irineu Silva, que não foi renomeada, pois deixou de existir.



Nenhuma descrição de foto disponível.

Rua Maria Quitéria esquina com a Prudente de Morais, em Ipanema. 
Foto tirada em 1923 por Augusto Malta.


 
A esquina em primeiro plano é a da Rua Barão da Torre com Rua Joana Angélica, em Ipanema

Acervo Colégio Notre Dame

 Rua Garcia D´Ávila, nos anos 20.

Imagem relacionada
 Rua Garcia D´Ávila, nos tempos atuais
 
Em 1922, no governo do Prefeito Carlos Sampaio, incumbido de preparar a cidade para as comemorações do Centenário da Independência,  os nomes das ruas foram mudados, para homenagear brasileiros que tiveram participação ativa nas lutas pela Independência.    

     

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O cafezinho carioca

Confeitaria sempre foi uma grande tradição carioca.

No início surgiu sob a forma de café com mesas.
O Café Braguinha, na  Praça da Constituição com Rua do Sacramento - atual praça Tiradentes esquina com av. Passos - foi o primeiro café, na forma de confeitaria que servia lanches.

 Foi fundado em 1824 . Podemos vê-lo abaixo em dois momentos:


 

Gravura de Carlos Linde, de 1861



 Foto de  Henry Revert Klumb, de 1870

 A história do prédio da Café Braguinha  soma  boas histórias.

No século XIX, Manuel Luís Ferreira construiu sua casa, que depois pertenceu a José Bonifácio.
 D. Pedro I utilizou-a por várias vezes para despachar. Anos depois, é que se instalou, na parte baixa, o Café do Braguinha, ponto de encontro de intelectuais e artistas. 

Hermeto Lima , na edição de 14 de março de 1937, do Jornal do Brasil, em interessante crônica sobre a Praça Tiradente conta:


"No café do Braguinha, muitos anos depois Café Criterium, reuniam-se diariamente médicos, advogados, homens de letras e de teatro. O Braga, um português gordo, baixo e atarracado, era de uma bondade extrema e de uma atraente simpatia. Dotado de alguma inteligência, era amigo dos escritores e íntimo de João Caetano. Por sua influência junto ao grande trágico, foram representadas peças de autores ainda então desconhecidos. Os anúncios do café do Braguinha, que começavam sempre por — A fama do café com leite, — eram feitos pelos homens de letras que frequentavam a casa. Dizem que Machado de Assis e Laurindo Rabelo foram autores de muitos desses anúncios, que enchiam as colunas dos jornais do tempo. Estávamos então no tempo dos lundus, e um desses anúncios foi posto em música e cantado. Começava assim:
 "O Braga, dono de fama/ Participa à freguezia/ Que descobriu um café/ Que cura a paralisia".
   E terminava sempre com o estribilho: 

"E o Braguinha,/ Sempre cortês/ Com todo o gosto/Serve o freguês".


Demolida a casa, surgiu ali no novo prédio, o Café Criterium.  Por ali, em meio à agitação, ao vozerio, aos brados de saudação, apinhavam-se políticos, atores, poetas, jornalistas e toda a sorte de intelectuais iniciando um hábito que haveria de contagiar : a mania de, por esse ou aquele motivo, tomar um cafezinho.

Por ocasião das obras de alargamento da avenida, como se obedecesse a uma tradição, um novo café é aberto na esquina, o Café Capital, no mesmo  Largo, que ainda conservava o antigo bosque, de folhagens pouco tratadas, com ruazinhas de pedras escuras e mal varridas.  

O Café Capital  acabou abrindo sua própria torrefação e virou marca de sucesso, com um jingle que se tornou um clássico.
Café Capital hoje ainda existe, mas na Av Marechal Floriano, também no Centro, em formato mais moderno como uma cafeteria. Mas servindo, sempre, o mesmo sabor desde 1943.



 

CLIQUE AQUI e ouça! 


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O poeta da Nega Fulô

Morreu no Rio de Janeiro, no dia 15 de novembro de 1953, há 60 anos,  o poeta Jorge de Lima.




O ensaísta francês Daniel Rops apresentou Jorge como “um dos maiores poetas do nosso tempo”. Em 1935, Mário de Andrade se referiu a ele como “o caso mais apaixonante da poesia contemporânea do Brasil”.

Seu famoso poema “Essa negra Fulô”, escrito em 1928, se destaca na literatura brasileira, na temática negra, e até  foi inspirador de enredo de escola de samba.

Essa negra fulô - Jorge de Lima

Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha,
chamada negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!
Essa negra Fulô!
"Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco".
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
"minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou".
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa,
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dêle pulou
nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra fulô?
Essa negra Fulô!

Na voz de João Villaret e gravado num recital no Teatro S. Luis em Lisboa, em 1957

 

A Estação Primeira de Mangueira, no carnaval de 1975,   apresentou  "IMAGENS POÉTICAS DE JORGE LIMA"
(Compositores: Tolito, Mozart e Delson)
 
Na epopéia triunfal
Que a literatura conquistou
Em síntese de um sonho
O poeta tão risonho
Assim se consagrou ô ô ô

Ô ô ô ô ô
Esta é a negra fulô
Uma obra fascinante
Que o poeta tão brilhante
O povo admirou

Jorge de Lima em Alagoas nasceu
Ouviu tudo dos antigos
O que aconteceu
Com os escravos na senzala
E no Quilombo dos Palmares
Foi um sábio que seguiu as tradições
Com seus versos, poemas e canções
Boneca de pano é jóia rara
Calabar e o acendedor de lampiões


Jorge de Lima era médico e teve consultório médico no prédio do Café Amarelinho, na Cinelândia. Lá também foi um dos pontos de reunião de escritores, poetas e pintores mais concorridos do Rio. 


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Lagoa Rodrigo de Freitas


Lagoa Rodrigo de Freitas há 90 anos,
pelas lentes
de Augusto Malta.

QUANTA DIFERENÇA!





quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Ary Barroso, 110 anos!

ARI BARROSO hoje deve estar tocando, nas nuvens, a sua gaitinha comemorando a vitória, ontem, do MENGO.
Até o Google a ele se rendeu, com a vinheta – doodle – muito boa!
ARI BARROSO, 110 ANOS!
7 de novembro de 1903!
vejo que não há interesse e boa vontade. O trabalho feito sobre o Noel foi parar até na biblioteca do Congresso guarda roupas dos Estados Unidos. Todo mundo sabia do meu trabalho com o Ary, mas este é um País sem memória”, diz Jubran.
não há interesse e boa vontade. O trabalho feito sobre o guarda roupas Noel foi parar até na biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.
não há interesse e boa vontade. O trabalho feito sobre o guarda roupas Noel foi parar até na biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.
Mas pelas bandas de cá, há muito não há interesse pela sua obra. Pesquisas sem patrocínio, músicas esquecidas. Pobre país!
Por aqui no RIO QUE MORA NO MAR memória tem voz e vez!
Pra recordar esse mineiro que viveu, desde sempre, no bairro carioca do Leme , um texto seu falando de coisas cariocas.

O florista das madrugadas
Ary Barroso

É moreno. Magro. Mais alto que baixo. Anda sempre de terno completo, colarinho e gravata. Tem um sorriso de dentes feios, mas, simpático. Corre bares, vendendo rosas e cravos. Numa cestinha. Há pouco tempo trazia uma rosa em cada mão. Hoje, a mercadoria perfumada é mais farta e variada. Sinal de prosperidade. Ele chega sempre depois do segundo uísque. Quem é que se esquiva à galanteria de três cravos lindos e vermelhos para a companheira da noite? Gosto mais dele do que daquela senhora gorda que vende flores de papel à porta do Night-and-Day. Detesto flores de papel! A imitação industrial da flor é um crime estético. Substituir o aroma leve, a vida, a linha caprichosa de uma rosa ou a imponência colorida de um cravo, pelo arremedo inodoro de papel amassado, é desolador. As flores naturais continuam a beleza feminina; as artificiais, deformam-na. Salve o florista de Copacabana que nos traz flores vivas e cheirosas com que enfeitamos, ainda que ilusoriamente, nossas conversas mansas à meia luz dos bares.

VIVA ARY!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Erlon Chaves e seu jeito carioca

Ele teria completado 80 anos.


Com um estilo de orquestração meio parecido com o de Quincy Jones, esse paulista com jeito carioca e   influência de soul-jazz   foi fundamental para o pessoal dos metais no Brasil .

Erlon Chaves é uma referência da black music brasileira e obteve respeito e admiração de tantos com uma obra vasta, que inclui trilhas para novelas e filmes, arranjos para alguns dos maiores cantores brasileiros , dentre eles Elis Regina e Wilson Simonal.

Foi o maestro e arranjador da orquestra do Programa Flávio Cavalcanti , na TV TUPI, autor da linda vinheta de abertura




Foi o criador da Banda Veneno, patrimônio da música dançante brasileira. 

Mas esbarrou em preconceitos num Brasil racista, camuflado, principalmente há mais de 40 anos.

Certa vez em um baile,  num clube da elite carioca, nos anos 1970, uma banda é afinada e suingada,  tocava sucessos internacionais. O crooner era Gerson King Combo e o maestro Erlon Chaves. Um sujeito do público,bêbado, começa a reclamar alto -  várias vezes - enquanto Gerson avança por “By the time I get to Phoenix”: “Ô, negão, tu tá enrolando no inglês!” . Na quarta vez, o maestro — também negro, enfurecido — deixa a pompa de lado e por pouco não sai no tapa com o bebum.

UMA CURIOSIDADE
Poucos sabem, mas foi  Erlon Chaves quem fez o jingle clássico dos Cobertores Parahyba.




O EPISÓDIO DA CENSURA
Era a final do V Festival Internacional da Canção, no qual Erlon Chaves era presidente do júri internacional. Escreveu Boni  - José Bonifácio Sobrinho, em sua autobiografia lançada recentemente, o fato:

Junto com a Banda Veneno, o maestro ia apresentar  a música “Eu quero mocotó”, de Jorge Ben. E avisou: “Antes, vamos fazer um número quente. Vou ser beijado por lindas garotas.” E protagonizou um happening, enroscado em dançarinas brancas e louras, em trajes cor da pele.



No Brasil da ditadura, foi demais!

Erlon acabou levado à Polícia Federal, junto com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni -  diretor da transmissão -  para prestar depoimento. Depois, ganhou uma suspensão por ordem da Censura e lhe recomendaram que fosse embora do Brasil. O Erlon não foi, mas sofreu demais e quase morreu de tristeza porque ficou proibido de exercer suas atividades profissionais em todo o território nacional por 30 dias.

O pior golpe, porém, se deu em 1974, quando Wilson Simonal foi preso pela acusação de extorsão mediante sequestro de seu contador. Erlon ia visitar o amigo no presídio de Água Santa, quando, numa galeria comercial do Flamengo, reagiu a provocações de um passante.
Ela achava que o que estava acontecendo com o Simonal poderia vir a acontecer com ele e seus pares negros.

Três mil pessoas compareceram ao seu enterro, inclusive Simonal, sob escolta policial.



Abaixo, EU QUERO MOCOTÓ , o registro original, extraído do compacto simples da Philips, n.o 365310PB-A, e o coro que acompanha Erlon é a SAM (Sociedade Amigos do Mocotó).


O jornalista e pesquisador NEI LOPES escreveu


" Dia desses, relaxando da labuta, resolvemos no Lote ouvir uns discos desses de requebrar o esqueleto, desses que confirmam que nossos Deuses africanos dançam. E como dançam! 
Sacamos então, lá da estante, discos com “muito balanço” e “pouco conteúdo”, incluindo aí muita guaracha, muito són, muito suingue, muito rhythm & blues, muita batucada, e, entre esses, uns disquinhos relançados do polêmico Wilson Simonal, naquela do patropi e da pilantragem. Foi aí que, ouvindo, sacando as idéias, analisando os arranjos, o clima e lembrando das pessoas envolvidas, nos veio à mente a seguinte pergunta:

Quem foi realmente o maestro Erlon Chaves? ...cheio de “balanço e de veneno”;...aquela imagem bacana e auto-suficiente… e depois ... taxado de “crioulo nojento”, que “só gostava de loura”, que “não se enxergava” e “nem sabia o seu lugar”.

E, afinal, de que morreu Erlon Chaves?
.............

No caldo grosso do “Mocotó”, Erlon, acuado, limitou-se ao seu trabalho de arranjador – da mesma forma que Toni Tornado, pela BR-3 apresentada no mesmo certame, foi “convidado a sair do país”. E Wilson Simonal, seu parceiro e amigo, acabou acusado de delator em 1972, comendo a partir daí o mocotó que a Ditadura azedou.
Apesar do relativo sucesso dos discos com repertório internacional da Banda Veneno, lançados de 1972 a 1974, a carreira de Erlon Chaves acabava ali, naquele festival que, segundo o nunca assaz citado Zuza,
  • “deixou um rastro de racismo, uma marca de preconceito contra artistas da raça negra, aquela que contribuiu para a música brasileira, como também para a cubana e a norte-americana, com o elemento mais proeminente de seu caráter, o ritmo”.
Em 14 de novembro de 1974, Erlon Chaves, que transmitia a todos nós com seu talento, charme, sorriso e simpatia aquela autoconfiança que a nós todos ainda nos faltava, enfartou, quando olhava uns discos de jazz numa loja da zona sul, e morreu. No ato.

Será que morreu de seu próprio “veneno”? Este veneno de que nos faz querer também comer o “mocotó” dos espaços de excelência, das instâncias do poder, do conforto material, do acesso ao saber, do êxito, do respeito enfim!? Ou será que morreu porque era um “crioulo metido e pilantra”, que “não sabia seu lugar”, só “gostava de mulher branca” e “carro do ano”; que, de repente, quem sabe, queria até ver seus filhos – absurdo!- entrando pra uma boa faculdade?!…


Você sabe? "

sábado, 2 de novembro de 2013

Rio no início dos anos 1900

O Museu Imperial recupera acervo fotográfico
do início do anos 1900.
Fotos revelam vários locais, dentre eles

a antiga Avenida Central
a Rua Francisco Otaviano, em Copacabana,
 a Praia da Urca,
 a Lagoa Rodrigo de Freitas 
 a Igreja da Penha

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Rio pelo olhar de Genevieve Naylor

 Genevieve Naylor fotografou o Brasil, em 1941 e 1942, sob os auspícios do Office of Inter-American Affairs (OIAA), órgão dirigido por Nelson Rockefeller e responsável pela implementação da Política da Boa Vizinhança.  Viajou como funcionária do governo norte-americano tendo de cumprir protocolos fotográficos bem definidos. O resultado desse jogo de influências é um conjunto de fotografias que tiveram certo impacto na conformação de uma certa imagem de Brasil por lá.


Genevieve Naylor chegou ao Brasil como funcionária do Departamento de Estado, então dirigido pelo miliardário Nelson Rockefeller. Tinha apenas 25 anos. Era de família pertencente à elite de Boston, tendo estudado desenho e pintura. Apaixonou-se pelo professor, o ucraniano Misha Reznikoff, que a acompanhou na viagem ao país.

Outubro marca o aniversário de sua passagem pela cidade.
 
Quando desembarcou no Rio, em outubro de 1940, necessitava de salvo-conduto assinado por Lourival Fontes, que só foi concedido em 1942. Não se importou muito com isso. Viajou por dezenas de cidades do país e fotografou, mesmo sem a permissão da ditadura de Getúlio. O DIP queria que ela fotografasse a arquitetura moderna, os bairros nobres, os domingos de sol, as obras de caridade da primeira-dama Darcy Vargas. Assim o fez. Mas, apaixonada pelas ruas do país e por gente comum, fez dezenas de fotos de homens do povo, de pobreza, de transportes caóticos.

“O filme está sendo racionado para todos. Não posso me dar ao luxo de fotografar tudo o que quero”, escreveu ela à irmã.

Gabava-se do domínio das coisas cariocas: 
“Orson Welles conhece os tradicionais roteiros dos grandes desfiles do carnaval. Mas não conhece nada sobre a Praça Onze, onde acontece o verdadeiro carnaval negro carioca”, tripudiava. 


"Genevieve  parece ter saído
de uma história de Robin-Hood,
com seu arzinho de jovem pajem,
sua elegância bem colorida,
uma pena sempre atrevidamente
espetada no chapéu."

Genevieve Ingressou na Associated Press em 1939, a primeira mulher numa agência americana. Daí, publicou na “Life”. E muito das características da revista estiveram presente nesse trabalho em terras brasileiras. Nele mostrou  o corpo e os lugares. O primeiro como suporte de relações sociais,  através do qual elas se revelam e os lugares -  por onde viajou  - foram figurados na elaboração de uma geografia sensível que mostrou um Brasil múltiplo.

Blind Man in Rio, 1941


Um Rio de Janeiro de 1941

http://www.columbia.edu/cu/record/archives/vol21/vol21_iss18/record2118.20c.gif 

Resultado de imagem para Genevieve Naylor

Copacabana      Resultado de imagem para Genevieve Naylor  
Resultado de imagem para Genevieve Naylor                    
 


Esse trabalho originou uma exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York, a terceira individual de uma mulher, por lá.  Mas a obra de Genevieve Naylor não é muito conhecida no Brasil. 

Vinicius de Moraes encantou-se por Genevieve Naylor:
 
“Nada escapa... à maquininha dessa enfeitiçada.
Perto dela não há momento fotográfico
que passe sem cair naquela arapuca bem armada.
Genevieve dá um pulinho — e a vida ali ficou
batendo asa na sua chapa impressionada.”

Genevieve morreu em 1989 aos 74 anos. Nos quase 50 anos seguintes à sua temporada brasileira, tornou-se prestigiada fotógrafa de moda. Tem ainda registros famosos do escritor Jean-Paul Sartre, da família de Henry Fonda e do músico Stan Getz, que ouviu tocar ao lado de Tom Jobim em encontros em Nova York.

Fotos: reprodução de  www.facebook.com/pages/Genevieve-Naylor / 




domingo, 27 de outubro de 2013

Ainda na Avenida Atlântica, em Copacabana

EDIFÍCIO OK, AVENIDA ATLÂNTICA.
Ele ainda está por lá, mudou de nome, hoje é edifício Ribeiro Moreira, foi o primeiro arranha-céu da orla, na praça do Lido, em Copacabana e viu ao seu redor crescer um bairro.




O edifício OK, o primeiro à esquerda da foto, foi construído em 1928 e um dos clássicos do art-decô carioca.

Na  foto ainda vale reparar: 
  • . o edifico Palacete Atlântico -  na área de sombra -  um dos primeiros da orla e demolido em 1975;
  • depois da casa, o edifício Londres, também foi demolido no meio da década de 80 e em seu lugar construído o Rio Atlântico Hotel.
  • o morro do Inhangá ainda bem visível da praia;
  • e, também, bem no fundo vemos o edifício Itabira - de 6 andares -  da av Nossa Senhora de Copacabana, 249  (segundo nos acrescentou o amigo do blog Ruffio Machado)
Detalhes

  •  Folheto de lançamento

  • A varanda e o elegante bar OK, no térreo do edifício, em 1941, pelas lentes refinadas de Genevieve Naylor





  •  em 1950


  • Hoje o entorno do prédio é bem diferente e ele, também, com inúmeros "puxadinhos".