domingo, 28 de março de 2010

Domingo de Praia

Praia do Flamengo em 1918, onde o banho de mar era mais terapêutico que de lazer.

sábado, 27 de março de 2010

Em três tempos

A Avenida Rio Branco em 1910. Há 100 anos.

Em 1930 e...

...nos anos 40

Quanta diferença!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Crônicas de todos os tempos_4

Em tempos de metrô recém inaugurado, que cada vez mais impõe mudanças no pequeno e tradicional bairro de Ipanema, cabe lembrar aqui esta matéria do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos, que foi publicada na capa do Caderno B, do Jornal do Brasil, no dia 4 de novembro de 1984. Um mês antes, o governo Brizola havia criado a linha 461, a primeira a cruzar o Túnel Rebouças.

Há 26 anos atrás...uma Ipanema que começava a desaparecer.

"Ipanema, essa senhora cada vez mais gorda e poluída, reclama de novas estrias e dentes cariados em seu corpanzil: agora é culpa dos ônibus Padron, a linha 461 que, há um mês, está trazendo suburbanos para seu "paraíso", numa viagem de apenas 20 minutos, via Rebouças. É o que dizem seus moradores, inconformados. Ouçam só:

- Que gente feia, hein?! (Ronald Mocdes, artista plástico, morador da Garcia D`Ávila, bem em frente ao ponto do ônibus).

- No outro dia eu saí da loja com um vestido comprido, alinhado, e você precisava ver o que aconteceu. Me chamavam de urubu, um horror. (Débora Palmério Fraga, gerente da Gregorio Faganello).

- É chocante dizer, mas eles estão desacostumados (*) com os costumes do bairro. Nem vou mais à praia aqui. É farofeiro para tudo quanto é lado, olhando a gente de um modo estranho. Ficam passando aquele bronzeador. A sensação é de que eles estão invadindo o nosso espaço. (Maria Luiza Nunes dos Santos, ex-freqüentadora da praia da Garcia D`Ávila e que agora só vai ao Pepino).

- Desse jeito o verão vai ser um faroeste. (César Santos Silva, proprietário da lanchonete Chaika, na Visconde de Pirajá).

Os comerciantes estão se organizando e já despacharam diversos abaixos-assinados aos gabinetes de Leonel Brizola, de Jaime Lerner (o secretário que inventou a linha de ônibus), ao Detran, a todos que eles julgam com poderes para erradicar o mal. Reclamam também do inferno que se formou no trânsito. Ouçam mais:

- Depois das 17 horas a minha vitrine fica escondida atrás de uma fila enorme de passageiros. É claro que as clientes ficam bem inibidas de atravessar no meio daquela gente toda. (Doris Serfaty, da butique Carla Roberto, na Rua Vinicius de Moraes. Ela está lançando a moda que deixa o sutiã à mostra).

- A rua é muito apertada e, quando o ônibus pára, interrompe o tráfego no bairro inteiro. Só dá ele na rua. Fica uma buzinação de louco. Além disso ele é muito pesado, e o asfalto está cedendo. Tem que botar ele para fora da área do comércio. (Luli Beviláqua, da loja Luli R).

Há muito tempo que Luli não freqüenta a praia de Ipanema, preferindo as delícias mais calmas e limpas da Barra da Tijuca. Mas, definitivamente, já não há qualquer gueto de sofisticação sobre nossas areias, lamenta. Pois até a Barra está sendo cortada por outra linha da Padron, diretamente de Madureira. Na praia de domingo passado, Luli já sentiu a diferença.

- A praia mudou de cor. Eu fico ali no Farol da Barra, junto com o pessoal que pega wind. Apareceram umas caras inteiramente novas. Um cara estendeu a toalha, deitou e dormiu o tempo todo. Nunca tinha visto isso.

Os moradores de Ipanema sugerem que a Padron faça seus pontos no Jardim de Alá, na Praça General Osório, na Henrique Dumont, na Epitácio Pessoal, locais mais amplos, onde não causam qualquer dano ao fluxo do trânsito. E que a polícia, o 19º Batalhão, dê blitzen constantes no bairro. Eles acham que, se continuar do jeito que está, Ipanema no verão vai ser notícia não pelo biquíni enroladinho ou pelo sutiã exposto.

- No sábado um sujeito desses ônibus sentou em sua cadeirinha de praia dentro da minha loja para aproveitar o ar refrigerado, enquanto esperava a condução. Tive que chamar os seguranças da rua. Quando chegou na segunda-feira fui abrir os cadeados da porta e não consegui. Os farofeiros tinham entupido tudo com areia e papel. Precisei serrar. (Dono de uma sofisticada loja de decoração na Visconde de Pirajá, que não se identifica com medo de represálias).

- São grupos enormes, sempre gritando, fazendo bagunça e puxando os cordões de quem passa. Estão criando um cenário de vandalismo e terror. Os moradores por aqui estão assustados. (César Santos Silva, Chaika).

- Os passageiros na fila ficam olhando aqui para dentro de um jeito mal-encarado. As freguesas comentam com a gente: "Que horror!" No outro dia tinha um mal-encarado que ficou no ponto um tempão, sem pegar os ônibus. Como estava com a mão enrolada pensamos até que tivesse uma arma dentro. Chamamos a policia. Viver nesse clima não dá. Essa é a rua das melhores boutiques do Rio. Onde é que estavam com a cabeça quando botaram um ponto de ônibus suburbano aqui? (Cristina Campos, vendedora da Spy and Great, em frente ao ponto da Garcia D`Ávila).

Os depoimentos se sucedem, falam de churrasqueiras na praia, de bóias de pneus, do trânsito emperrado atrás das enormes traseiras dos Padron. Para que tudo melhore há tanto os que sugerem a mudança dos pontos, a retirada dos ônibus, mais polícia nas ruas, assim como mais educação. Mas pedem pressa. Pois o verão está aí e antes dele o Natal, mês que vem.

- A gente paga imposto tão caro para eles botarem essa pobreza na porta da gente. parece até a Central do Brasil. De vez em quando a gente passa por eles e grita "Japeri". Eles ficam chateados. (Ronaldo Mocdes, artista plástico).

- Fica essa negrinhagem aí na porta... (Cristina Campos, vendedora da Spy and Great).

- Quem tem um nível melhor já está procurando outra praia que não seja Ipanema. Eles não têm classe, não têm educação. Eu sei que a praia é pública, mas é horrível. No outro dia eu estava na praia conversando com a minha irmã, dizendo como os suburbanos são horríveis. Uma suburbana reclamou, mas eu nem dei conversa. Vê se eu vou me misturar. (Sonia Barletta, moradora da Rua Vinicius de Moraes).

- Eles têm direito de ir à praia, mas podem ir de maneira organizada. Ou senão ficar na praia deles, em ramos. O governo podia fazer também um lago artificial pra eles lá no subúrbio (Maria Luiza Nunes dos Santos, vendedora da Faganello).

- O turismo vai ser prejudicado, você vai ver. Ou você acha que o pessoal do Caesar Park vai querer se misturar com eles, suas bananas, piquenique. Pode parecer elitista, mas não é não. os suburbanos atrapalham. (Débora Palmério Fraga, gerente da Faganello).

- É o fim da picada, Ipanema acabou. Na praia ficam agora uns homens gordos passando bronzeador na barriga branca, aquelas cenas de amor de suburbano. Na minha porta é trocador assobiando, uma multidão sempre, gente feia mesmo. Não dá nem pra sair mais com os meus cachorros. (Ronald Mocdes, artista plástico, acariciando seus cachorros da raça Saluky, de nomes Tramp e Chivas).

- Au, au, au. (Tramp e Chivas).

Joaquim Ferreira dos Santos. Nuvens suburbanas sob o sol de Ipanema (A que já foi paraíso).

terça-feira, 23 de março de 2010

Celacanto provoca maremoto

Em 1977 começou a aparecer aqui e ali ,nos muros de Ipanema, um estranho grafite :


Quem lembra?

CELACANTO PROVOCA MAREMOTO é uma frase do seriado National Kid, exibido na década de 60, propaganda dos produtos National, que depois viraram Panasonic. Um dos episódios desse seriado de grande sucesso falava sobre os seres abissais, e um deles era o peixe chamado ... celacanto, a quem Dr. Sanada, um dos personagens do mal, dizia que o "CELACANTO PROVOCA MAREMOTO". Na verdade, na história quem provocava o tal maremoto era um submarino chamado Guilton, que tinha uma boca com uma lâmina dentro. 




Seu autor é o jornalista carioca Carlos Alberto Teixeira , hoje também conhecido como
C@T, inclusive que sabe muito sobre informática e dá dicas preciosas para todos.



Da brincadeira com o símbolo que criou, em giz, no quadro na sala de aula, passou ao tapume de obra . Depois, o desenhou com Pilot (o antigo pincel atômico), o ensinou a amigos que também passaram a espalhar o mesmo grafite. E aí chegou a fase do spray e formou uma equipe, que nas madrugadas, chegou a totalizar 25 pessoas. Teve gente pichando até em Washington e em Paris.

Na mesma época, havia uma outra pichação, o Lerfá Mu, completamente diferente e relacionada à maconha. Seu criador também estudava na PUC do Rio - como Carlos Alberto - e foi uma batalha nos banheiros, que ficavam totalmente rabiscados, até que um dia, por surgirem outros pichadores na área do Jardim Botânico e Leblon lutando contra o Celacanto e o Lerfá Mu, os dois se aliaram.




A imprensa, então, começou a investigar as pichações, e chegou até a afirmar que o CELACANTO era um código de encontro entre traficantes . Outros afirmaram que eram mensagens de extraterrestres...





Com a intensa especulação "o que será?", "quem será", o então prefeito da cidade, o falecido Marcos Tamoio, instituiu uma multa exorbitante para aqueles que fossem apanhados pichando.
Com a preocupação de seus pais, Carlos Alberto acabou dando uma entrevista numa reportagem, se identificando.

Não tem ninguém que no Rio esteve ou morou no final dos anos 70, principalmente na zona sul do Rio, que não se lembre da brincadeira do "CELACANTO PROVOCA MAREMOTO", a pichação intrigante, de disputa romântica dos muros e tapumes da cidade.
CELACANTA PROVOCA MAREMOTO acabou, os anos passaram e infelizmente o que se caracterizou, com o tempo como pichação, extrapolou e passou a algo agressivo, antipático, inconveniente que emporcalha, destrói prédios, monumentos e árvores.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Há 50 anos...

Essa crônica , publicada há exatos 50 anos, no dia 19 de março de 1960, na revista O Cruzeiro, é mais um post para a retranca Crônicas de todos os tempos, onde vale a pena ler e reler relatos de outros tempos, olhar como era nossa cidade, seu jeito, suas gírias. Ver e rever.

Era uma quarta-feira de cinzas, o boom do carnaval tinha sido a presença de...Kim Novak.


"Ninguém conhece ninguém
JOSÉ AMÁDIO

A Kim Novak do cinema é beleza bossa-nova. É um pêssego, como todo mundo diz. Admitamos que a imagem não é muito original, mas que fazer com a voz do povo? A diabinha exibe uma sensualidade serena, quase irreal, como se estivesse envolta em névoa. Altona, quase gordota, quando fala derrama sôbre o interlocutor o seu olhar verde-avelã e se o dito interlocutor não é firme das pernas, senhoras minhas, vai direitinho ao chão. É suave, sem ser adocicada. É mel, sem ser açucarada. Abelhas espirituais estão sempre esvoaçando em cima de seus atributos físicos.
- Mulher assim, só de cem em cem anos - dizem os entendidos.Por que não comentar!

Quando Rita Hayworth deixou a Califórnia, em 1952, ou 3, o estúdio ficou sem sua prima-dona, sem sua Gilda, Harry Cohn, o big-boss, massageou a careca e decidiu que precisava fazer uma nova estrêla. E assim despontou Kim Novak. Despontou porque já surgiu estrêla, de quantas pontas não sei. Dez, vinte talvez, ou setenta. Ela foi inventada para tapar buraco. Quando chegou a Hollywood (era modêlo nobremente desconhecido), sem nunca ter ouvido sequer falar na arte de representar, e a colocaram diante das câmaras para teste, um produtor exasperou-se:
- Ela é incapaz de recitar até mesmo o Hino Nacional!Dizem que Cohn interferiu:- Para quê? Basta olhá-la.
E tinha razão. O público do mundo inteiro passou a olhá-la . Depois de seis filmes, era a bilheteria n.º 1 dos Estados Unidos, a nova deusa.
Made in Hollywood.

Mulher bonita não precisa de história, assim como rosa não precisa de história, nem nuvem precisa, nem crepúsculo, nem pássaro, sem trigal maduro. Uma rosa, como disse aquela nossa amiga, é uma rosa. Uma Kim é uma Kim. Bem Novak. Uma rosa amarela. Para explicá-la não adianta ser psicólogo ou mestre de almas. Creio que só um botânico a compreenderia. Uma rosa ampla, farta, que desabrochou com violência e espalha suas pétalas sempre renovadas pelo mundo inteiro. Uma rosa para todas os ventos. Digo isso com serenidade, sem arroubos de marinheiro de segunda viagem. Depois que andei às voltas com Elizabeth Taylor, fiquei vacinado contra artistas de cinema. Consigo enfrentá-las sem me sentir canibal em jejum. Verdade, verdade, a mulher mais bonita que vi em minha vida foi certa adolescente alemã que vendia cogumelos à margem de uma auto-estrada, na Alemanha. Eu viajava num Volkswagen com Ed Keffel quando a vi, numa indecisa manhã de novembro. Foi um choque, uma emoção, uma pancada de luz.
Instante de beleza.

Nosso primeiro bate-papo aconteceu no apartamento de Harry Stone, o embaixador de Hollywood no Brasil. Era como se estivéssemos na cratera de um vulcão ativo. Pobre môça! Dezenas de fotógrafos, de cinegrafistas e caçadores de autógrafos, de mocinhos que querem aparecer ao lado dos cartazes. O programa de entrevistas e horários, que Mr. Stone elaborara britânicamente, foi brasileiramente conturbado. Todos queriam a môça ao mesmo tempo. Parecia bicharada. Ela se manteve amável até o fim, forçando sorrisos, mas deve ter pensado cobras e elefantes da nossa educação. Deve ter pensado tatus e tamanduás, também. Conseguimos encerrá-la num quarto do apartamento. Estava quase chorando. Mas nada reclamou contra a turba, a não ser uns discretos “uffs”. Mário Camarinha, com seu inglês de Berkeley, tentou consolá-la. Ela retocou a maquilagem, com mais alguns “uffs”.
E passou para a história.

De perto, é ainda mais impressionante. Se eu fôsse editor do Larousse, escreveria só isso: Kim Novak, môça bonita. A gente tem vontade de tomá-la por um canudinho, como se fôsse cajuada. Seu encanto é tridimensional, e como estamos no regime da bossa-nova, diria que seus gestos são quase estereofônicos. Afirma que se considera uma jovem simples porque consegue ser ela mesma no epicentro do ciclone que é sua vida. Gosta de publicidade, é claro, precisa dela, mas luta para não se deixar envolver fundamentalmente. Procura, às vêzes, a liberdade do anonimato de que goza uma garôta de Bangu, por exemplo. Ou de Montmartre. É uma espécie de Cleópatra com alma de balconista da Sloper. Consegue ser assim, quando não está diante das câmaras. Tem a suprema coragem de ser fiel a si própria e de conciliar essa fidelidade com o puritanismo vigente.
Se é que vocês me entendem.

Kim detesta fundamentalmente o artificialismo da vida social. Não gosta de grã-finos, de um modo geral. Diz que prefere contato com o povo, com a gente simples. Foi por isso que permaneceu apenas 45 minutos no Baile do Municipal (show absoluto) e saiu para as ruas com Jorginho Guinle, seu acompanhante no Brasil. De calça comprida e camisa folgada, entrou num bloco de sujos no Tabuleiro da Baiana. Sua grande máscara preta permitiu que aderisse (incógnita) ao grupo do sereno para assistir à saída do Municipal. Aplaudiu as fantasias mais bonitas. Achou o pessoal "gentil e bondoso". Adorou o samba, tentou dançá-lo e ficou com as pernas doloridas. Sua música preferida foi "Me dá um Dinheiro Aí" (aprendeu a letra em português). Divertiu-se pelo prazer de se divertir, sem dopings. Num entardecer foi à Cantina Sorrento com o Jorginho e Oscar Ornstein comer democràticamente uma pizza napolitana do Emílio & tio. Não bebe, não fuma, não sei se joga. Diz textualmente que ama o amor. Mas nessa parte prefiro não tocar.
A môça é noiva.

Nasceu em Chicago, no dia 13 de fevereiro de 1933, estando a Natureza em instante de capricho. (Afirmei que mulher bonita não precisa de história mas jornalista é jornalista. Vou contá-la, embora todo mundo já a conheça.) Seus pais, Joseph e Blanche Novak (norte-americanos de ascendência tcheca), batizaram-na Marilyn Pauline. Mais tarde o estúdio rebatizou-a Kit Marlowe. Ela insistiu no Novak. Finalmente, a parada ficou resolvida: Kim Novak. Sua infância foi comum. O pai tinha desgôsto porque a menina era canhota (continua canhota e suas mãos não são bonitas). Diz que era magra, anêmica, e que na escola estava sempre nos últimos lugares. Adolescente, treinou para modêlo e mereceu os primeiros assobios. Tanto ela como a irmã (três anos mais velha) tiveram aulas de piano, canto e dança. Aos 19 anos era modêlo profissional. Foi como garôta-propaganda que deu com os costados em Hollywood.
Costados que lhe garantiram fama.

Tem admiração por Fidel Castro e, quando o barbudo assumiu o poder, enviou-lhe longo telegrama de apoio. Também gosta de Krutchev, com quem bateu papo em Hollywood. Considera o Presidente Einsenhower um regular jogador de gôlfe (isso não me disse, mas sei). Seu partido nos Estados Unidos é o Democrata “mas também depende de quem estiver concorrendo às eleições”. Seu filme preferido: Picnic. Gosta de gatos e é dona daquele com quem contracenou em Sortilégio de Amor. Pinta, esculpe e faz poesia. Gostou muito do Rio de Janeiro e ficou impresionada com o Cristo Redentor. Diz que, com aquela estátua, a cidade fica parecendo uma grande igreja.
É católica.

Em Hollywood consideram-na temperamental. De quando em quando é acometida por aquêles ataques histéricos tão comuns às prima-donas. Sempre fica nervosa antes de filmar. Vive rodeada de talismãs e amuletos. Seu primeiro papel de responsabilidade (Picnic) deixou-a em estado de tensão constante. Tinha mêdo do diretor Joshua Logan, tinha mêdo do cartaz de William Holden e de Rosalind Russel. Durante a filmagem de Pal Joey, fêz o estúdio inteiro esperar por ela durante duas horas. Entre os que a aguardavam, estava Rita Hayworth, a deusa que substituíra. Sua vida emocional também é muito complexa e diversificada. Até pouco tempo submetia-se a tratamento psicanalítico. Já apareceu na capa de tôdas as revistas importantes do mundo. Já passou centenas de horas da sua vida concedendo entrevistas, posando para fotógrafos e cinegrafistas. É inteligente e sabe falar com desembaraço. Entretanto, quando foi inventada, o estúdio obrigou-a a decorar respostas. Para perguntas assim:
- Você gosta de ler? Que livros prefere?A resposta era assim:Poesia e prosa. Adoro Shakespeare e bons livros de filosofia.
Agora responde por conta própria.

Os cameramen a consideram uma das estrêlas mais fotogênicas do cinema. Seu rosto é material inesgotável. Fotografa bem em qualquer ângulo e o resultado comove os espectadores. Em Um Corpo que Cai (Vertigo) estava irreal de tão bonita. E, representou muito bem. Como atriz madura. Em suma: grau 100 para a lourinha Novak. Perguntou-lhe se gostava de Liz Taylor. Respondeu:
- Quem não gosta?
Por tudo isso, pelo que ela é, pelo que a gente gostaria que ela fôsse, meto-me na pele de uma das nossas macacas de auditório e afirmo com certa solenidade:
- É a maior "


Obs. : a grafia original foi mantida.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Arquitetura Carioca

Dois destaques nas edificações da cidade ficam no bairro do Flamengo, bairro da minha infância. São eles:

A Igreja da Santíssima Trindade, à Rua Senador Vergueiro nº 141, decorada com vitrais de Tournel e 18 estátuas em pedra de Chauvigny, medindo 2 metros de altura, autoria de Gabriel Rispal, escultor nascido em Bordeaux e estabelecido em Paris.

Foto de 1948: A Cidade Maravilhosa - Livraria Kosmos - reprodução
e o

Edifício Tabor Loreto, Praia do Flamengo nº 244, na esquina da Praia com a Rua Paissandu.


Foto: Reprodução - ViverCidades / foto: Eleonora Figueiredo de Souza

Ambos os projetos, exemplares muito bonitos da arquitetura Art Déco no Brasil, são do grande arquiteto francês Henri Paul Pierre Sajous, um dos expoentes máximos desse estilo, também autor do projeto do Edifício Biarritz, também na Praia do Flamengo. Essas três edificações, no Flamengo, são tombadas pelo Patrimônio Histórico no nível municipal.

Como curiosidade, pra quem conhece a cidade de São Lourenço em Minas ( adoro! saudades!) , Henri Sajous é o autor do projeto do Parque das Águas - encomendado pelo Comendador M. Francisco de Souza Costa, proprietário da Villa Arnaga, em Cambo-les-Bains, França - com seu grande lago artificial, o prédio do Balneário, estabelecimento termal para banhos carbo-gasosos - inaugurado em 1935 - e outras dependências, implantados em meio a parques e jardins, como a linda Fonte Vichy.

A construção do Parque fez da cidade destino constante de cariocas, a partir de sua inauguração, onde iam fazer uma "estação de águas".

domingo, 14 de março de 2010

Pedra da Gávea e a igrejinha

A Pedra da Gávea em 1918.
e, também, presente e isolada a Igreja de São Conrado.

A foto, abaixo, foi enviada pela amiga do blog Sheila Romsy. Pertencia ao seu tio e seu primo Fernando Oliveira Mateus a achou em seus guardados.

Agradecimentos a ambos pela gentileza da cessão.

A imagem nos leva a rever a história da Igrejinha de São Conrado, como é chamada.

A igreja começou com o lançamento de sua pedra fundamental em 16 de junho de 1914, sendo inaugurada em 29 de junho de 1916.
Sua construção foi financiada pelo Comendador Conrado Jacob de Niemeyer que escolheu para padroeiro São Conrado, por ser este nome uma constante através de gerações em sua família.
Lá além da missa uma ou duas vezes por mês, era ponto de encontro dos moradores e sitiantes da praia da Gávea e arredores.

O projeto simples de arquitetura foi de um engenheiro dinamarquês, amigo de Conrado Niemeyer. A imagem de São Conrado, que veio da Alemanha e era toda feita em madeira deu origem à mudança do nome do bairro.

A igrejinha foi mantida durante muitos anos pelos filhos de Conrado Niemeyer e após sua morte doada à Mitra. À época do Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara a Igreja de São Conrado tornou-se paróquia e começou a ser restaurada.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Volta às aulas

Sempre que chega março eu me lembro do gostoso tempo de volta às aulas. Eram os lápis , borrachas, régua, apontador e ... o estojo novo.
Sim, porque se guardava todas essas coisas em estojo. Necessaire é coisa recente. E ele tinha tampinha estampada, que deslizava. Depois surgiu um com abertura, como porta de correr. Tudo em madeira.

Os cadernos tinham o nome do colégio. Externato São Marcos. Eram vendidos na escola pela dona Kate, baixinha, não muito bem humorada e seu coque! Os de matemática eram quadriculados. Capas verdes, azuis ou rosas e tínhamos que encapar. Com celofane, de preferência, que era para aparecer o timbre do colégio. Tudo arrumadinho dentro da pasta de... couro. Pesada! Afinal, um caderno pra cada matéria e mais os livros.

Novidade, mesmo, foi poder escrever nos cadernos com caneta tipo BIC - na época a marca era CAR-  que sensação! Ao chegar ao Brasil em 1961, democratizou o uso da caneta, antes tão aristocrática pelas penas e canetas-tinteiro, que aliás adorava e adoro até hoje. Lembro de algumas pelas quais era apaixonada. Mas isso é papo pra outro post.
É válido ressaltar que, nos anos 60, a assinatura com esferográfica era proibida em documentos e cheques, por isso, portar uma caneta tipo BIC era vanguarda pura.

Hoje tem a invasão dos adesivos, mas vivi o tempo dos decalques. Eram cartelas com temas e cada um, para usar na capa ou no miolo do caderno, em um trabalho , tínhamos de tirar da cartela com água. E com cuidado pra não estragar. O que acontecia com facilidade.

Cola branca, nem pensar. Era uma amarela com biquinho de borracha vermelha, ou então a caseira, e sempre à mão, cola de farinha de trigo.
E os livros? Alguns foram companheiros inesquecíveis. PROGRAMA DE VERNÁCULO, MATEMÁTICA do ARY QUINTELLA, SPOKEN ENGLISH, G.MAUGER...




Ah!...Monsieur e Madame Vincent percorrendo Paris...Église de la Madeleine...


Mais tarde veio o tempo dos fichários pretos. Caderno era coisa pra criança. Da Papelaria União era sonho de consumo, com a capa crespinha. Quando passo hoje pela Rua do Ouvidor nº 77 ,dá uma ponta de tristeza ver que a tradicional papelaria se foi , depois de 130 anos. E seus materiais de escritório, mobiliário de fabricação própria - de sua fundição em Bonsucesso, também, desativada - a sofisticação de uma época não resistiram aos tempos modernos de produtos chineses e grandes redes.

Como era bom voltar às aulas!

Como era bom conhecer a nova sala! Que carteira iria sentar?

Como era bom uniforme novo! Aquele nó na gravata...

Como era bom professor novo!

Estudar sempre teve um sabor especial. Sabor de curiosidade, sabor de novidade, sabor de saber.


segunda-feira, 8 de março de 2010

Duas histórias de mulheres cariocas

VALE REMEXER NO BAÚ E RELEMBRAR...

Poderia falar dessas histórias em um outro dia. Mas, com certeza, nesse dia 8 de março é bem acertado. Por ser um dia de lembranças, de marcos.

É a história de duas mulheres cariocas... Joaquina e Sabina.


O canto lírico brasileiro registra a trajetória de belas vozes, através dos tempos. Muitas que ultrapassaram fronteiras e encantaram e encantam platéias internacionais. Mas nesse contexto, geralmente, esquecem de um nome: a negra Joaquina Maria da Conceição Lapa.


Ela fez parte de um dos mais antigos elencos profissionais brasileiros de que se tem notícia, que foi criado durante o mandato do vice-rei Luís de Vasconcelos, entre 1779 a 1790, no Rio de Janeiro. O grupo era formado por cantores, dançarinos e comediantes, e entre esses artistas estava Joaquina, mais conhecida como Lapinha, uma cantora contralto carioca.

Após ser aclamada no Brasil, consagrou-se em importantes palcos da corte portuguesa, onde gozou de grande prestígio, tendo até encenado uma obra especialmente traduzida pelo poeta Bocage e foi alvo de homenagens feitas pelos estudantes de Coimbra. Em Lisboa, foi descrita pelo sueco Carl Israel Ruders - em um texto lamentável - como "filha de uma mulata, por cujo motivo tem a pele bastante escura. Este inconveniente porém remedeia-se com cosméticos. Fora disso tem uma figura imponente, boa voz e muito sentimento dramático " .


No Brasil, onde se exibiu várias vezes para a corte de D. João VI, inclusive como participante dos festejos reais, interpretou duas peças musicais especialmente criadas pelo Padre José Maurício. Consagrada como "a primeira atriz do Teatro de Manuel Luís " - o melhor do Rio em sua época - foi a legítima pioneira da atividade musical feminina no Brasil.


Sabina foi vendedora de laranjas. Negra, descendente de escravos, vendia suas frutas em frente à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.


Segundo os jornais, na manhã de 25 de julho de 1889 foi impedida por um delegado de manter seu posto naquele local. Ela só queria trabalhar. Os estudantes, então, protestaram contra a decisão com uma passeata, a “procissão das laranjas”.


A repercussão na imprensa foi estrondosa, durante dias o fato ocupou as páginas dos jornais, e a ordem do delegado teve de ser revogada. Sabina tornou-se uma figura lendária, e sua morte, no mesmo ano, chegou a ser anunciada na
Gazeta de Notícias e no Brazil Médico, importante periódico da área.

A memória da vendedora foi imortalizada em um tango composto por
Artur Azevedo, cantado na peça teatral A República, que a cada noite atraía centenas de pessoas" ciosas de verem a história de Sabina no palco". Os versos de As laranjas de Sabina, uma das primeiras músicas gravadas no Brasil, tornaram-se grande sucesso na capital federal: “Sou a Sabina, sou encontrada todos os dias lá na calçada da Academia de Medicina”.


domingo, 7 de março de 2010

DNA do carioca da gema é ...



Quem adivinha?


O que revela uma pesquisa inédita realizada pelo Laboratório de Diagnósticos por DNA da Universidade do Estado do Rio (Uerj) é que o carioca tem um pé na Europa.

Não foi só nos costumes que nossos colonizadores deixaram sua marca. A herança portuguesa está registrada também na genética de 90% dos moradores do Rio de Janeiro.

Mesmo entre negros, a origem europeia é maioria. A presença dos antepassados europeus é dominante em 56% dos indivíduos.

O estudo, coordenado pelo biólogo Elizeu Fagundes de Carvalho, identificou a origem do gene presente na população carioca e descobriu que as características físicas e biológicas, passadas de pai para filho, geração após geração, estão mais próximas dos europeus do que dos africanos ou indígenas.

Uma volta ao passado permite decifrar as razões da supremacia dos patrícios na genética carioca. Segundo o historiador Nireu Cavalcanti, no período colonial era comum que senhores brancos tivessem filhos com esposas, negras e índias. “As escapadas sexuais eram aceitas culturalmente. Afinal, ele deti-nha o poder financeiro. Quando nascia uma criança do branco com a escrava, a própria senhora criava. Já o negro não tinha a mesma liberdade para se relacionar com a branca”, explica Cavalcanti.

Assim, os genes europeus foram sendo passados ao longo dos anos.

O Laboratório de Diagnóstico por DNA da Uerj se tornou um dos mais importantes centros de referência no País. Ali são feitos todos os testes de paternidade determinados pela Justiça. Por ano, são realizados 6.500 exames. Foi justamente através dessas amostras que surgiu a pesquisa.

Então, a genética dos moradores do Rio é : 90% portuguesa, 8% africana e 2% indígena.

Parodiando a música... é um carioca português com certeza... com certeza um carioca português!

Pois, pois.


(Fonte: O Dia Online)





sábado, 6 de março de 2010

Lagoa Rodrigo de Freitas

Vamos continuar a passear pelo Rio Antigo.
Na foto, a Lagoa Rodrigo de Freitas, em 1890, vista da Fonte da Saudade. Ao fundo Morro Dois Irmãos, Gávea e Pedra Bonita.



Foto Marc Ferrez
Arquivo internet/ Jardim Botânico do Rio de Janeiro/ Reprodução

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sempre Johnny Alf!


Esse carioca genial foi pro andar de cima e deixou aqui, no andar de baixo, um legado de lindas canções.

Pra recordar

Seu Chopin, Desculpe

Eu e a Brisa

Ilusão à toa

O que é Amar

quinta-feira, 4 de março de 2010

Corcovado

Já nos acostumamos a ver o Crito Redentor de " braços abertos sobre a Guanabara", como diz a canção, lá no alto do Corcovado.

Então, vamos ver o morro sem ele, em um cartão postal, visto do Largo dos Leões, em um foto rara de Marc Ferrez. Detalhe do bonde puxado a burro.


Século XIX

terça-feira, 2 de março de 2010

As águas de março fechando o verão...

Sempre as chuvas de março me trazem de volta Tom Jobim. Por aqui não devidamente lembrado, mas lá fora sempre (!) reverenciado.

Fred Hersch, pianista e compositor americano, de 54 anos, um expoente do jazz contemporâneo lançou nos EUA no ano passado, e ainda inédito no Brasil, um CD saboroso:"Fred Hersch plays Jobim" .


Nele toca valsas, modinhas e sambas de Tom como "Modinha", "Olha Maria", "Por toda minha vida" e revisita clássicos com dedilhado próprio e bonito.

Clique aqui, ouça o clássico Luiza e se delicie!

Você pode adquiri-lo, via download das faixas, aqui no iTunes

segunda-feira, 1 de março de 2010

Esse Rio que eu Amo!

No dia de seu aniversário,
a reverência, o aplauso,
o amor a essa terra bonita,
hospitaleira, alegre e valente.

Pra comemorar, uma das belas músicas compostas pra essa cidade abençoada. Ela fala de uma saudade importante. Ah!... Guanabara ...



VIVAS A ESSA CIDADE!
VIVAS A ESSE RIO QUE EU AMO!