quarta-feira, 29 de maio de 2019

CANECÃO, o palco mais cobiçado do Rio de Janeiro


Na semana em que se fala sobre a possibilidade do destombamento do CANECÃO,  vale relembrar sua trajetória na vida cultural carioca.


Junho de 67 era inaugurado o CANECÃO. 



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Nesta época a nossa música estava impondo-se internacionalmente com movimentos renovadores: a Bossa Nova e a Jovem Guarda. O povo brasileiro estava precisando de alegria e queria se orgulhar de seus valores. O CANECÃO, com uma programação baseada em musica nacional revezava: temas musicais antigos ( Banda do CANECÃO ) com conjuntos de Bossa Nova (entre eles Osmar Milito) e grupos de Ye-Ye-Ye (como se chamavam na época).

Em 28 de junho de 1967 o saudoso cronista Ruben Braga escreveu, sobre a inauguração do Canecão:

“O dono é um rapaz de S. Paulo, chamado Mário Priolli, que foi quem trouxe para o Rio esse negócio de boliche e acredita que está na hora de fazer grandes coisas para a classe média em nível de conforto, limpeza e bom serviço internacional: fala até em construir hotéis em Copacabana. Há um imenso painel do Ziraldo que, além de muito bonito, é muito engraçado, e toda a arrumação é de bom gosto......Se vai dar certo, eu não sei, e faço votos sinceros para que dê .”


O painel de Ziraldo, que estampou uma das paredes do Canecão entre 1967 e 1972



Assim nasceu o CANECÃO, uma grande cervejaria com apresentação de espetáculos de variedades, com a ...BANDA DO CANECÃO. O conjunto foi reunido para a casa de shows, e acabou tão bem aceito no meio musical que assinou contrato com a gravadora PolyGram, lançando, até 1985, cerca de 20 álbuns ao vivo.

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O anúncio, publicado nos jornais da época era ousado: “O Canecão é tão importante que até o Pão de Acúcar vai ficar atrás dele”. E mais: “A partir das 19 horas de hoje estará funcionando a maior cervejaria do Brasil”.


No ano de 1968 aconteceu a primeira grande mudança estética da casa prenunciando um padrão que iria ser seguido por toda sua existência. Foi construído o primeiro palco para shows de revista com a apresentação dos espetáculos de Carlos Machado que permaneceram em cartaz todo este ano e parte de 1969. Nesta época ainda ficou patenteado o espírito pioneiro que nortearia sempre as mudanças e ampliações que se sucederam.

Em 69 nova mudança. Tudo foi reestruturado para a apresentação do memorável espetáculo de MAYSA onde foram instalados projetores de cinema e sistemas de som e luz avançadíssimos para a época.



"As primeiras imagens da projeção mostravam uma Maysa gorda, vestida a rigor que caminhava pela rua deserta a noite, com cara amarrada em direção ao mar. Na cena seguinte, via-se um incrível contraste. Era manhã e fazia Sol, uma outra Maysa, magra e de roupa despojada, aparecia sorrindo na praia. Ao fundo ouve-se a voz do poeta Manuel Bandeira declamando os famosos versos do eterno poema dedicado á ela.Ao final da projeção o escuro novamente toma conta e um refletor acompanha a entrada da cantora e no fundo do palco vai surgindo a figura de Maysa, belíssima, ela entrava em cena com uma túnica marroquina bordada a ouro em tons de azul e rosa. Cantando a inesquecível Demais “Todos acham que eu falo demais e que ando bebendo demais.” Era o já famoso pot-pourri mesclando Demais, Meu Mundo Caiu e Preciso Aprender a Ser Só. Após o primeiro número, viria a primeira de uma noite de surpresas."

Maysa inaugurou o Canecão para a MPB. Seguiram-se dentro desta mesma estrutura espetáculos que empolgaram multidões. Todos os grandes astros de nossa música pisaram o palco consagrado, como,

Elis Regina, com o antológico SAUDADES DO BRASIL




Clara Nunes, Paulo Gracindo em BRASILEIRO, PROFISSÃO ESPERANÇA




 e Eliseth Cardoso,  e Tom, Vinícius, Miucha, Cauby, para citar somente alguns dos nomes que nos deixaram.


E os grandes bailes de Carnaval! Num tempo em que “brincar o Carnaval” e “fazer uma fantasia” eram frases que tinham um significado cheio de emoção para o carioca, de todos os níveis, que esperava um ano inteiro para realizá-las, o CANECÃO produziu grandes festas que culminaram com a transferência do Baile do Municipal para o casa de Botafogo por iniciativa do prefeito Marcos Tamoyo.

Vale citar, em 1971, a realização de um show não ortodoxo, que uniu a MPB à música erudita. De um lado Chico Buarque, MPB4, Quateto em Si e uma ala da Escola de Samba Unidos de Padre Miguel. De outro, a Orquestra Sinfônica Brasileira, regida pelo maestro Isaac Karabchevsky e a participação de Jacques Klein. Neste espetáculo, usou-se pela primeira vez como elemento cênico, um telão (ainda em branco e preto) e uma projeção de slides multimídia que abrangia toda a volta casa; dos quatro lados, três recebiam imagens, numa inesquecível realização de Ciro del Nero. Este espetáculo foi dirigido por Manoel Carlos a partir de uma concepção de Oduvaldo Viana Filho, Vianinha.

Com a vinda do Moulin Rouge para o Rio em 1972, foram construídos camarins apropriados, coxias, novos recursos mecanizados para os cenários e ainda uma piscina de acrílico transparente com capacidade para 72 metros cúbicos de água!

Com o avanço da tecnologia de som, luz e sistemas de projeção, iniciou-se nova fase com contratação de serviços de terceiros. Todo o mobiliário foi refeito; para tanto foi montada uma pequena fábrica para atender tanto a feitura como a manutenção dos móveis e utensílios.

E não pararam por aí.

Em fevereiro e março de 2002 mais uma vez a casa renovou-se. Para comemorar os seus 35 anos uma grande reforma foi praticada; tudo foi remodelado: os pisos foram revestidos de granito; as antigas arquibancadas deram lugar a confortáveis poltronas, banheiros demolidos cederam espaço a outros bem mais modernos; facilidades para deficientes foram implementadas pondo ao seu dispor elevador e rampas de acesso; a decoração, seguindo a tradição de não deixar nada envelhecer, povoou paredes, platéia, frisas e balcões com uma nova juventude.

Não se poderia deixar de falar do cantor Elymar Santos, um "cantor de churrascarias" , que também fez história ao utilizar o espaço para lançar sua carreira, em 12 de novembro de 1985num ato ousado, onde desembolsou a quantia de "40 milhões de cruzeiros" pela locação do espaço. A direção do Canecão temia o fracasso, então colocou obstáculos, mas nada o fez desistir. Mas aquela terça-feira foi de casa lotada e ingressos esgotados. Em meio a uma temporada de Maria Bethânia.

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Ah...os shows de Roberto Carlos!

Em 1970, o cantor fez sua primeira e bem-sucedida temporada de shows no Canecão, dirigido pela dupla Miele e Bôscoli , que produziram e dirigiram os shows de Roberto Carlos durante 24 anos. 


E com frequência o Rei voltou ao palco, até 1992, quando houve um hiato  de 15 anos pra seu retorno, que se deu em grande estilo em 2007.


A casa de espetáculos Canecão, em Botafogo, na Zona Sul, que durante 43 anos foi o palco mais cobiçado do Rio de Janeiro, foi fechada na noite de 10 de maio de 2010.

Ronaldo Bôscoli num momento de amizade e emoção 
deixou uma frase, que foi ostentada na entrada principal:

“Nesta casa 
se escreve a história 
da Musica Popular Brasileira”



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