A briga entre Roberto Marinho e Carlos Lacerda nos anos 60 teve origem em uma polêmica envolvendo o Parque Lage, no Rio de Janeiro.
Roberto Marinho e Arnon de Mello - um adendo: pai do Collor - compraram o Parque Lage nos anos 50 por um preço muito módico, pois o imóvel era tombado.
Aqui cabe um pequeno histórico...
O abandono do terreno e sua progressiva invasão suscitou até um pedido da Associação de Moradores da Lagoa em 1961.
Assim, a propriedade foi desapropriada e convertida em um parque público.
Os problemas enfrentados por Gabriela Besanzoni, proprietária do Parque Lage, tiveram início com o falecimento de seu marido, o armador Henrique Lage. Henrique Lage havia deixado dívidas com a União e apesar de ter entregue várias propriedades e sua frota de navios ao governo federal, o Presidente Getulio Vargas, que alegava suposta ajuda dada por Besanzoni ao eixo inimigo durante a Segunda Guerra Mundial, encampou todos os seus bens, inclusive o Parque Lage.
Com a queda de Vargas, Besanzoni e outros herdeiros dos sócios de Lage conseguiram junto à União reavaliação dos bens confiscados, resultando na devolução do Parque Lage, entre outros bens, à família.
Contrariada com esse desgastante episódio, Besanzoni retornou à Itália e, em 1945, despedindo-se da carreira artística com uma última atuação em público no Brasil no Teatro Municipal de São Paulo. Ela faleceu em Roma, sua cidade natal, em 1962.
Com sua morte, o espólio vendeu sua parte à empresa Comércio e Indústria Mauá, que já havia adquirido parte das terras do Banco do Brasil. Porém, desde 1957, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( IPHAN ) - então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( SPHAN ) - havia tombado a área.
A Mauá, depois São Marcos Comércio e Indústria de Materiais de Construção, de propriedade do empresário Roberto Marinho e do então senador Arnon de Melo conseguiu a anulação do tombamento, feito pelo Presidente da República em exercício Ranieri Mazzilli, durante viagem ao exterior do Presidente Juscelino Kubitischek.
Antes disso, o governador provisório da Guanabara, embaixador Sette Câmara, havia desapropriado o Parque Lage para tentar evitar a anulação do tombamento; mas essa desapropriação também foi anulada. No local, a empresa pretendia construir um cemitério "classe A", mas, em 1964, reformulou o projeto, e construiria casas para as classes média e alta.
Aí o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, declarou o Parque de utilidade pública para fins de desapropriação, reafirmando o tombamento feito pelo SPHAN por solicitação do Instituto Florestal ( atual IBAMA ), começando uma disputa que só iria terminar onze anos depois, quando o Presidente Ernesto Geisel desapropriou o parque, não sem antes provocar o rompimento de Carlos Lacerda com Roberto Marinho e com o Presidente Castello Branco.
O abandono do terreno e sua progressiva invasão suscitou até um pedido da Associação de Moradores da Lagoa em 1961.
recorte O Globo
Lacerda pediu a Raphael de Almeida Magalhães, seu vice, que escrevesse o decreto de desapropriação, enquanto ele redigiria a exposição de motivos que acompanharia o decreto.
O texto que Lacerda produziu assustava pela virulência com que atacava a pessoa de Roberto Marinho. Raphael tentou demovê-lo da ideia de anexar o texto ao ato de desapropriação, pois não só contrariaria os interesses de Marinho como o faria voltar contra ele a fúria das baterias de seu jornal e da sua rádio.
Como não conseguiu convencê-lo, o decreto foi encaminhado com o anexo, o que provocou a ira de Marinho. Marinho contou aos filhos que pegou um revólver, pôs na cintura e partiu para o apartamento de Lacerda na Praia do Flamengo. Chegou a entrar no apartamento de Lacerda com o revólver engatilhado. Mas o governador da Guanabara acabara de sair de casa.
Assim, a propriedade foi desapropriada e convertida em um parque público.
A contrariedade com seus propósitos e negócios fez a mudança editorial, notória, do jornal O Globo em relação a Lacerda, após esse episódio.
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