Nesse mês, dos 150 anos de seu nascimento - 24 de novembro de 1861 - vale recordar o grande poeta.
Em dezembro de 1890 Cruz e Souza chega ao Rio de Janeiro, a cidade que escolheu para viver.
Numa primeira fase de sua permanência definitiva no Rio de Janeiro, Cruz e Sousa viveu, apenas, dos escassos proventos obtidos como empregado na imprensa.
Foram três anos, de dezembro de 1890 a dezembro de 1893,solteiro e residente no centro urbano.
Primeiro, arranjou emprego na publicação Cidade do Rio, o que veio a ser a subsistência do poeta no seu primeiro ano estabelecido na Capital da República. Também por um ano vive no mesmo quarto com Araújo Figueiredo, num sobrado à rua do Lavradio, n . 17. Mas a crise deste jornal resulta em atraso de pagamentos e posterior demissão. A Revista Ilustrada de abril de 1892 lamenta a retirada do negro de Cidade do Rio,
"delicado poeta e finíssimo prosador... Extremado cuidador da forma, de uma sutileza extraordinária, muito elevado nas concepções, escrevendo para poucos o sentir, mas para todos admirá-lo, traçando sem esforço a frase que lhe sai sempre firme, nova e imaginativa".
Da Cidade do Rio passou Cruz e Sousa para o Novidades, que era todavia de pequena circulação e parcos recursos. Mais tarde ainda foi repórter da Folha Popular e noticiarista da Gazeta de Notícias. Viveu pobre e com dificuldade sempre conseguiu dar algum aprumo em seus trajes, nesta primeira época de residência no Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro Cruz e Sousa se integrou rapidamente no grupo dos Novos (ou da Escola Nova) que pouco depois seriam conhecidos por Simbolistas. De certo modo é um dos fundadores.
Na mesma proporção se distanciou dos conservadores, daqueles que fundaram a Academia Brasileira de Letras.
De uma carta de setembro de 1892 se sabe que já era noivo. O poeta conhecera a moça casualmente no então pobre bairro de Catumbi, onde fora visitar um amigo e a vira em frente ao portão do cemitério que ali havia. Fora escrava de um juiz, humanitário e abolicionista, que dera à moça excelente educação,.
Gavita Rosa Gonçalves, como se chamava a noiva, foi uma lenta estabilização da vida do poeta no Rio de Janeiro.
Depois de consagrado com a publicação de dois livros marcantes do Simbolismo Brasileiro, casa-se com Gavita em 9 de novembro de 1893 e já em dezembro se estabelece como praticante na Estrada de Ferro Central do Brasil. Um ano depois, em dezembro de 1894, é promovido a arquivista, com provento de 250$000.
Residindo inicialmente no Centro afastou-se depois para o bairro do Encantado. Na rua Teixeira Pinto, número 66, em que morou - atualmente Rua Cruz e Sousa - tinha "...a casa... dois pequenos quartos, uma sala de visitas, um gabinete ao lado esquerdo, uma varanda com janela para um quintal e, ainda, uma cozinha, dentro da qual, pelas paredes lisas, as panelas tinham dependuradas, lampejamentos de sol de estio".
O ano de 1896 foi o início de desgraçados acontecimentos em sua vida.
Gavita enlouquecera em março, ainda que passageiramente, por seis meses.A pobreza, quatro filhos e a anemia profunda, que os afetaria. Os 4 filhos do casal morrem em vida do poeta, ou seja, até março de 1898, sendo que o último aos 17 anos, como aluno interno do Colégio D. Pedro II. Em 1901 falece Gavita, também de doença pulmonar.
A saúde pessoal de João da Cruz e Sousa pareceu normal até 1895, quando a tuberculose apareceu em dezembro de 1897. Amargamente, mas sem se queixar a ninguém, continuou seus trabalhos, como se fossem um epitáfio. A discrição, que poupava aos amigos de lhe ouvir os lamentos, se reflete todavia no que escreve. Em dezembro de 1897 o poeta adoeceu definitivamente, revelando-se uma tuberculose galopante.
Cruz e Sousa tentou um outro clima e foi a Minas Gerais, para recuperar a saúde, mas foi exatamente o clima de lá, que piorou seu estado.
Cruz e Souza chegou à gloria póstuma, quando sua obra só foi largamente reconhecida e publicada após sua morte.
Seu último soneto é lindo, pela lucidez e paz.
Sorriso InteriorO programa De Lá pra Cá, da TV Brasil, fez um retrato muito interessante do poeta Cruz e Souza, que vale a pena (re)ver.
O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo esse brasão augusto
Do grande amor, da nobre fé tranqüila.
Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsias e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.
Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe essa glória em frente à Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.
O ser que é ser tranforma tudo em flores...
E para ironizar as próprias dores
Canta por entre as águas do Dilúvio!
Conheci uma jovem francesa que veio ao Rio de Janeiro para conhecer a cidade de Cruz e Souza, poeta que ela estudava e estava compondo tese de mestrado na Sorbone.
ResponderExcluirFiquei envergonhado, pois não conhecia esse poeta. Esse grande poeta!