terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Encontros no Rio: Carlos Lacerda e Roberto Carlos

Em 1970, Carlos Lacerda, à falta de projetos políticos viáveis, volta aos tempos de jornalista e entrevista, dentre outros, Roberto Carlos, para a edição 963 da revista carioca Manchete.

 Curioso é que Lacerda não ia à casa das "celebridades". 
Os entrevistados iam à sala do entrevistador.  

Carlos Lacerda deu ao perfil extremamente bem escrito que fez do cantor um título sugestivo: Roberto Carlos, rei da jovem guarda, príncipe da melacolia".




Lacerda comenta que foi entrevistar Roberto e conheceu o Zunga, apelido de infância do cantor. E o Zunga vira a chave e o rumo de uma entrevista reveladora. Inclusive, com inegável talento, Lacerda aborda um tema-tabu até hoje na vida de Roberto Carlos: o acidente que sofreu, criança, em Cachoeiro do Itapemirim.

"Zunga esteve lá em casa. Veio vestido de Roberto Carlos, de calça veludo frappé como as que Jean Bouquin vende naquela loja louca de St. Germain. Mas é de Zunga que se trata, o menino de sua mãe, que aos seis anos, numa festa escolar, levou um esbarro da locomotiva e perdeu uma perna e hoje a tem toda nova, de metal polido, deve ser prateado, o que o faz coxear um pouco". (...)  
"Pois Zunga é uma espécie de Édipo. O rei é Édipo-Rei. O filho amoroso de todas as mães, flor amorosa de três raças tristes" (...) 
"Zunga é um solitário e isto se vê nos seus olhos, no seu rosto contido, de tímido tenso".
A entrevista mostra Lacerda , com seu estilo ímpar, até quando faz ao entrevistado uma última pergunta e um comentário final:

- Se você fizesse um filme com a história da sua vida, como é que acabava?
- Eu, numa rua, andando na chuva"
- Ô solidão!"


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