Mais uma crônica carioca de todos os tempos
"Praça Onze
ANÍBAL MACHADO
A praça transbordava.
Dos afluentes que vinham enchê-la, eram os do Norte da cidde
e os que vinham dos morros que traziam maior caudal de gente.
O céu abaixo absorvia as vozes dos cantos e o som em fusão da centena de pandeiros,
de cuícas gemendo e de tamborins metralhando.
O negro indiferenten à alegria dos outros, estava com o coração batendo, à espera.
Só depois que Rosinha chegasse, começaria o carnaval.
O grito dos clarins lhe produz um estremecimento nos músculos e um estado de nostalgia vaga, de heroismo sem aplicação.
Ó Praça Onze, ardente e tenebrosa, haverá ponto do Brasil em que, por esata noite, sem fim, haja mais vida explodindo, mais movimento e tumulto humano, do que esse aquário reboante e multicor em que as casas, as pontes, as árvores, os postes parecem tremer
e dançar em conivência com as criaturas e a convite de um Deus obscuro
que convocou a todos pela voz desse clarim de fim do mundo?"
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