Rua Teixeira de Melo esquina da Rua Barão da Torre.
O prédio à esquerda, hoje é uma loja da rede HORTIFRUTI
foto de Augusto Malta, 1928
Diferentemente, de outras correntes migratórias – como os italianos, espanhóis e portugueses, que, em geral, vieram para o Brasil e para outros países americanos num processo de emigração dirigida ou subsidiada – os sírios e libaneses não contavam com qualquer auxílio de organizações estatais, nem emigravam trazendo toda família. A viagem era custeada pelos próprios imigrantes (o que caracterizava a chamada imigração espontânea); muitos deles saíram com pouquíssimo ou nenhum recurso que garantisse o pronto estabelecimento em seu novo destino. A decisão era do indivíduo, mas tomada com a participação da família ou com sua aprovação. A estratégia escolhida era tentar juntar o máximo de dinheiro no mínimo de tempo possível e voltar para casa.
Importante notar que, as duas nacionalidades – síria e libanesa – foram incluídas numa única categoria pelas autoridades de imigração brasileiras até 1926, ano em que o Líbano se separou da Síria. Esses imigrantes concentraram-se sim nos centros urbanos, mas nele desenvolveram atividades relacionadas ao comércio, seja primeiro como ambulantes (mascates), ou mais tarde em negócios regularmente estabelecidos.
O libanês de Beirute Wadih Nader Khoury, ilustra a presença de imigrantes levantinos em Ipanema. Nascido em 1892, Khoury chegou no Rio de Janeiro em 1910, e requereu naturalização em 1933.
O sírio João Chalhub foi outro imigrante que se estabeleceu com uma sapataria na rua Teixeira de Melo. Também o sírio Naif Cury abriu seu negócio na Praça General Osório, em Ipanema.
Wadih Nader após declarar que, em 1931, se estabelecera por conta própria à Rua da Alfândega, 276, informava residir à Rua Teixeira de Melo, 12.
João Chalhub chegou a Ipanema durante a década de 1930. Antes tinha ido para Copacabana primeiro, onde tinha parentes. Aí depois ele mascateou, vendendo tecidos. Depois que se casou seus irmãos o ajudaram a abrir uma loja no número 21 da Teixeira de Melo. De lá ele passou para o número 41, onde ficou muitos anos, até 1969. O negócio de seu João tinha grande clientela, inclusive de pessoas da comunidade do Cantagalo. Era um ‘boa praça’ e brincalhão; não era religioso, dizia, brincando, que se tinha que ter cuidado com o pessoal que rezasse muito. Sua mulher era muito religiosa.
João Chalhub recebe em sua loja de
Ipanema
o padre ortodoxo no início da década de 1960.
o padre ortodoxo no início da década de 1960.
Naif Cury conheceu uma imigrante espanhola, com quem se casou. A morte prematura da esposa fez Naif voltar novamente ao Líbano, onde se casou pela segunda vez. Com a eclosão de um conflito armado na região, o casal viajou para o Brasil. De volta a Ipanema, Naif abriu um negócio que prosperou, vindo a ficar conhecido como o ‘Rei do linho e da seda’ na Ipanema da Belle Époque. Sua história também está ligada ao início da urbanização do bairro. Naif foi adquirindo terrenos próximos à Praça General Osório que se valorizaram muito. Alguns moradores antigos de Ipanema ainda trazem na lembrança uma cena típica dos anos de grande especulação imobiliária (1965-1975) no bairro: a imagem do velho Naif Cury, de pijamas e chinelos na calçada na frente de casa, na Rua Teixeira de Melo, recebendo os corretores de imóveis. Ele gostava de negociar seus terrenos sem jamais fechar a venda, “só pelo prazer da barganha ou para ver o preço subir cada vez mais”
Naif Cury tinha sua loja na frente e a residência atrás, durante os anos de 1930 e era proprietário de um carro conversível e na época do carnaval participava dos ‘corsos’ com a família.
Teve uma filha, que nasceu em 1920, na própria Rua Teixeira de Melo. Hoje é nome do edifício na Teixeira de Melo, 37.
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