“Na roça, é tomando café
que se estabelecem e estreitam
as relações;
na cidade, é viajando
no mesmo bonde
que se consegue isso.”
Continuando o passeio pelo tema BONDE, vamos por algumas interessantes impressões, que foram publicadas, como a frase acima de Olavo Bilac, sobre esse meio de transporte.
Correio da Manhã, em 11 de outubro de 1906:“Não é que a Light decidiu exterminar a honesta população desta cidade? (...) Os bondes elétricos continuam a esmagar e trucidar inocentes passageiros.”
Revista Fon-Fon, maio de 1907:“Os estropiados aumentam e a população de tais lugares, se de todo não desaparecer, em breve ficará privada de braços e pernas”.
Do jornalista França Júnior, no fim do século 19, uma pitada forte de preconceito:“Se o impulso dado pelo bonde à nossa sociedade for em escala sempre ascendente, havemos de ver em breve as nossas patrícias discutirem política (...), irem à praça do comércio ler os jornais do dia, ocuparem-se de tudo enfim, menos do arranjo da casa”.
Na Revista A Semana, Machado de Assis registrou suas primeiras impressões:
“O que me impressionou, antes da eletricidade, foi o gesto do cocheiro. Os olhos do homem passavam por cima da gente que ia no meu bond, com um grande ar de superioridade. (...) Sentia-se nele a convicção de que inventara, não só o bond elétrico, mas a própria eletricidade.”
Mais tarde assumiu, em crônica, que o bonde era amigo daqueles que buscam conhecer a cidade :"É meu costume, quando não tenho que fazer em casa, ir por esse mundo de Cristo, se assim se pode chamar a cidade de São Sebastião, matar o tempo. (...) Naturalmente, cansadas as pernas, meto-me no primeiro bond, que pode trazer-me à casa ou à Rua do Ouvidor, que é onde todos moramos. Se o bond é dos que têm de ir por vias estreitas e atravancadas, torna-se verdadeiro obséquio do céu".
Mas como todo meio de transporte público, o bonde também teve seus problemas . Curiosa a proximidade com os que ainda enfrentamos hoje.
A genialidade de Machado de Assis constatou, com pertinência, o bonde e alguns ítens de convivência. O escritor em crônica sugeriu 10 regras de comportamento para andar de bonde .
Dentre elas, indica para os usuários dos bondes, a primeira regra, que vai para os “encatarroados”:
Os encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro. Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os encatarroados têm dois alvitres: - ou irem a pé, que é um bom exercício, ou meterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.
O quinto para os “amoladores" :
Toda pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos, sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidência, se ele é assaz cristão e resignado. No caso afirmativo, perguntar-se-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los. No caso, aliás extraordinário e quase absurdo, de que o passageiro prefira a narração, o proponente deve fazê-lo minuciosamente, carregando muito nas circunstâncias mais triviais, repetindo os ditos, pisando e repisando as coisas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra.
E o oitavo, por exemplo, para as “pessoas com morrinha” :
As pessoas com morrinha podem participar dos bonds indiretamente: ficando na calçada, e vendo-os passar de um lado para o outro. Será melhor que morem em rua por onde eles passem, porque então podem vê-lo mesmo da janela.
Quem lembra dos anúcios nos bondes?.... Eu era criança, mas nunca esqueci este: "Veja ilustre passageiro/o belo tipo faceiro/que você tem ao seu lado/mas no entanto, acredite/quase morreu de bronquite/salvou-o o Rum Creosotado."
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