segunda-feira, 8 de março de 2010

Duas histórias de mulheres cariocas

VALE REMEXER NO BAÚ E RELEMBRAR...

Poderia falar dessas histórias em um outro dia. Mas, com certeza, nesse dia 8 de março é bem acertado. Por ser um dia de lembranças, de marcos.

É a história de duas mulheres cariocas... Joaquina e Sabina.


O canto lírico brasileiro registra a trajetória de belas vozes, através dos tempos. Muitas que ultrapassaram fronteiras e encantaram e encantam platéias internacionais. Mas nesse contexto, geralmente, esquecem de um nome: a negra Joaquina Maria da Conceição Lapa.


Ela fez parte de um dos mais antigos elencos profissionais brasileiros de que se tem notícia, que foi criado durante o mandato do vice-rei Luís de Vasconcelos, entre 1779 a 1790, no Rio de Janeiro. O grupo era formado por cantores, dançarinos e comediantes, e entre esses artistas estava Joaquina, mais conhecida como Lapinha, uma cantora contralto carioca.

Após ser aclamada no Brasil, consagrou-se em importantes palcos da corte portuguesa, onde gozou de grande prestígio, tendo até encenado uma obra especialmente traduzida pelo poeta Bocage e foi alvo de homenagens feitas pelos estudantes de Coimbra. Em Lisboa, foi descrita pelo sueco Carl Israel Ruders - em um texto lamentável - como "filha de uma mulata, por cujo motivo tem a pele bastante escura. Este inconveniente porém remedeia-se com cosméticos. Fora disso tem uma figura imponente, boa voz e muito sentimento dramático " .


No Brasil, onde se exibiu várias vezes para a corte de D. João VI, inclusive como participante dos festejos reais, interpretou duas peças musicais especialmente criadas pelo Padre José Maurício. Consagrada como "a primeira atriz do Teatro de Manuel Luís " - o melhor do Rio em sua época - foi a legítima pioneira da atividade musical feminina no Brasil.


Sabina foi vendedora de laranjas. Negra, descendente de escravos, vendia suas frutas em frente à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.


Segundo os jornais, na manhã de 25 de julho de 1889 foi impedida por um delegado de manter seu posto naquele local. Ela só queria trabalhar. Os estudantes, então, protestaram contra a decisão com uma passeata, a “procissão das laranjas”.


A repercussão na imprensa foi estrondosa, durante dias o fato ocupou as páginas dos jornais, e a ordem do delegado teve de ser revogada. Sabina tornou-se uma figura lendária, e sua morte, no mesmo ano, chegou a ser anunciada na
Gazeta de Notícias e no Brazil Médico, importante periódico da área.

A memória da vendedora foi imortalizada em um tango composto por
Artur Azevedo, cantado na peça teatral A República, que a cada noite atraía centenas de pessoas" ciosas de verem a história de Sabina no palco". Os versos de As laranjas de Sabina, uma das primeiras músicas gravadas no Brasil, tornaram-se grande sucesso na capital federal: “Sou a Sabina, sou encontrada todos os dias lá na calçada da Academia de Medicina”.


Um comentário:

  1. Nós, mulheres, somos mesmo poderosas, não?
    Viva nosso dia!
    Belo texto.
    Beijocasssss

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