quarta-feira, 21 de julho de 2010

Há 50 anos...

...ontem e ainda hoje, infelizmente
  • "DIZEM que a memória do povo é fraca, mas o caso do assassino da menina Tânia Maria, pelo Frankenstein de saias, Neide Maia Lopes, duvido que o povo esqueça. O local onde a garotinha foi morta, um terreno baldio junto ao matadouro da Penha (Rio de Janeiro), está convertido num pequeno santuário, onde, diàriamente, milhares de pessoas fazem preces, levam flôres, acendem velas e pedem graças. O pequeno pedaço de chão onde a criança morreu queimada, após levar tiro na cabeça, foi cercado por barras de ferro, imitando um pequeno berço, por um popular anônimo. No dia seguinte à morte de Tânia, já se erguia no local uma cruz branca, e, desde então, a peregrinação não cessou. Começa de manhã e vai até altas horas da noite. Senhoras, moradoras nas imediações, contam que cêrca de 1.000 pessoas por dia, muitas vindas de longe ou em trânsito pelas rodovias Rio-São Paulo e Rio-Petrópolis, vão até o local onde morreu a “Flor do Campo”. Êste é o nome que poetas desconhecidos deram à pobre menina. À cruz estão pregados poemas de louvor e glorificação à pequena vítima. Êsses poemas falam: “Ó Santa menina - O mundo não era teu - Tu fôste predestinada - Para a glória do céu”. Também foi pregado à cruzinha branca o “Hino à Flor do Campo”, com estrofes assim: “Ó menina imaculada - Ó meu anjo salvador - Aqui, aqui te louvamos - Com a nossa imensa dor”. Continua: “Vamos todos para o campo - Lá morreu a nossa flor - Aqui, aqui te ofertamos - Todo nosso grande amor”. E o Hino termina: “Êste campo consagrado - É da filha do Senhor - Aqui, aqui nós rezamos - Ó meu anjo salvador”. Em volta do pequeno carneiro improvisado, oram, ajoelhadas, mulheres idosas, mocinhas e crianças, como se estivessem ante um altar. Velhas mães, não contendo sua indignação, dizem que a Polícia deveria deixar a mulher-fera nas mãos do povo. Quando a Polícia divulgou que iria fazer a reconstituição do crime, dezenas de mulheres ficaram de prontidão no local, esperando a chegada de Neide para liquidá-la. E muitas têm esperança de poderem ainda fazer justiça com as próprias mãos se a reconstituição vier a ser realizada. As próprias detentas de Penitenciária de Mulheres de Bangu, revoltadas, ameaçaram trucidar Neide. Elas que cometeram crimes de tôda espécie, acham que a perversidade da assassina de Tânia foi além dos limites. Enquanto a revolta da opinião pública não arrefece, volta-se a discutir a questão da pena de morte. Nesta reportagem, os leitores terão o ponto de vista de várias pessoas autorizadas no assunto. Da soma dessas opiniões, conclui-se uma coisa; com pena de morte ou prisão perpétua, ou sem uma coisa ou outra, o que urge é reformar o Código Penal, para que, através de castigos mais rigorosos, mais intimidativos, ponha-se um paradeiro à seqüência de crimes tão bárbaros...
    ...No Brasil, pràticamente, a pena, nos delitos mais graves, não passa de 15 anos, graças à facilidade legal do livramento condicional, que reduz à metade as penas detentivas ou a 2 terços na reincidência. É claro que essa fraqueza influi, decisivamente, para a exacerbação da criminalidade no País, onde os mais temíveis delinqüentes voltam sempre à circulação para de novo delinqüir, como é notório entre nós. Os piores homicidas, na verdade, são condenados a 12, 20, 24 anos e raramente a 30. Graças ao livramento condicional, voltam ao convívio social após cumprirem a metade ou 2 terços dessas penas... Não é de admirar, pois, que haja mais homicídios no Rio de Janeiro que em tôda a Inglaterra. É que, naquele país, o criminoso não escapa: ou é condenado à morte ou à prisão perpétua; se louco, é internado por tôda a vida. A enérgica repressão penal é ainda o meio mais eficaz para a defesa social contra o crime..."
ARLINDO SILVA , Revista O CRUZEIRO, julho de 1960 ( mantida a grafia original)

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