terça-feira, 16 de julho de 2013

A JMJ e o Rio que mora no mar...

  A Lapa profana e sagrada

Os Arcos da Lapa, e ao fundo, a Catedral Metropolitana


A LAPA , reduto da malandragem e da boemia carioca estará mais próxima de suas origens sagradas durante a Jornada Mundial da Juventude, entre os dias 23 e 28 de julho. è no bairro que será realizado o Festival Halleluya, evento de música e arte católica.

Apesar de sua característica atual, a região tem seu desenvolvimento ligado à Igreja Católica.

Em 1751, o bairro recebeu sua primeira capela, dedicada a Nossa Senhora da Lapa, e um seminário para a formação de padres, iniciativa dos capuchinhos (movimento franciscano reformista). A partir daí, a região foi sendo povoada e se desenvolveu. Ainda no século XVIII, o bairro foi rebatizado, passando a ter o nome atual.

Aliás, os sucessivos aterros efetuados no Rio de Janeiro alteraram em demasia a aparência da região litorânea. A Lapa foi uma delas.

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A Praia da Lapa em 1902

 Em 1835, uma grande ressaca atingia a cidade, causando destruição generalizada, principalmente nas casas situadas na Rua da Lapa, as quais faziam fundo com o mar. O impacto das ondas progressivamente erodiu o terreno, levando consigo também os locais de desembarque de mercadorias, as quais vinham preferencialmente por via marítima. Este sinistro tornou evidente a necessidade de proteger esta faixa do litoral, e, tempos depois, em 1857, é promulgado um decreto ordenando a execução de obras no local.

Conhecida originalmente como Areias de Espanha ou Mar de Espanha, antes da existência do seminário que mudou o nome do bairro, a praia teve os trabalhos concluídos em 1861, constando de um cais em curva sobre uma muralha que ficava um metro acima do mar, uma rua com 15 metros, acompanhando o cais, e um paredão na parte alta da Rua da Glória. Também foram plantadas árvores, para fornecer sombra aos pedestres, transformando a velha praia em uma atração, por onde se caminhava desde o Passeio Público, tendo o mar ao lado.

Durante a gestão de Pereira Passos na prefeitura, em 1904, o paredão foi reconstruído, sendo acrescentada a balaustrada de metal retirada da Praça Tiradentes, que em sua maioria ainda lá está, mas cujas partes são seguidamente roubadas sem que se faça coisa alguma. 

A partir desta época, aterros sucessivos recuaram o mar mais de 400 metros, afastando-o do cotidiano de quem passa ou trabalha por ali. Estas obras também acabaram com a ligação da praia com as origens do esporte do remo entre nós, pois os clubes que lá se encontravam tiveram de mudar.

A história da finada praia, e sua transformação subsequente, mostra, infelizmente, um passado de intervenções autoritárias, que tantos prejuízos trouxeram ao patrimônio histórico e ao cenário cotidiano.

A chegada da família real portuguesa ao Rio, em 1808, também provocou mudanças na Lapa.

Os frades carmelitas tiveram que abandonar seu convento no Largo do Carmo (atual Praça Quinze) para cedê-lo como moradia a dom João VI e, em 1810, se mudaram para o imóvel dos capuchinhos (que foram para o Morro do Castelo). No mesmo ano, a capela se transformou em igreja e recebeu um novo nome: Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro.



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Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro



A arquitetura do templo é toda em estilo barroco, é ladeada por uma torre à esquerda, tendo a segunda torre ficado inacabada, à espera da instalação de uma sinaleira, caso chegasse a ser matriz.
Tem o frontispício (fachada principal) em linhas sóbrias e as paredes são revestidas de azulejos portugueses do século XIX. Possui peças e imagens valiosas, como a de Nª Sª do Carmo e as dos santos Elias e Eliseu (com quase 2 metros de altura cada uma), além de um órgão Cavallier-Colt, de 1898, totalmente restaurado.
O altar-mor, atribuído a mestre Valentim, e os altares laterais foram esculpidos entre 1755 e 1780. O autor do projeto, datado de 1751, foi o engenheiro militar e brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim.

No fim do século XIX e ao longo do XX, a vida boêmia e a malandragem se tornaram características do bairro. Um dos personagens que se destacaram nesse cenário foi João Francisco Sant’Anna, transformista conhecido como Madame Satã,  famoso por suas brigas, inclusive com a polícia. Embora sua imagem esteja relacionada à marginalidade, Satã prezava o sagrado.

— Ele frequentava a igreja e sempre rezava. O sagrado faz parte da vida do malandro, todos eles têm seu tipo de fé — afirmou o frei Miguel Carmelita, responsável há quatro anos pela Igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Desterro.

Durante os dias 23 e 26 deste mês, a praça junto aos Arcos da Lapa estará totalmente tomada por orações e louvores de jovens católicos: o Festival Halleluya. Mas a vida boêmia da Lapa continuará a todo o vapor.
 Uma das casas que estarão abertas durante a JMJ é o bar e restaurante Santo Scenarium. Instalado num sobrado de 1890, o estabelecimento é totalmente decorado com arte sacra. Durante a jornada, a casa não contará com uma programação especial, mas porá em exposição um pedaço de osso de São Francisco de Assis. A relíquia foi adquirida por um dos sócios do bar.




Continua.... leia o próximo post.

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