A
Ilha do Brocoió fica no interior da baía de Guanabara e no arquipélago da Ilha de Paquetá, da qual fica cerca de 300 metros.
A beleza de
Brocoió segue pouco conhecida e também sua história.
Originalmente era constituída por duas pequenas ilhas interligadas e foi utilizada como presídio para indígenas rebeldes. Depois, foi explorada como
caieira, material de construção essencial à época do Brasil Colônia.
Na década de 1930, a ilha pertencia a
Octávio Guinle - empresário brasileiro, mais conhecido por ser o fundador do
hotel Copacabana Palace - quando foi urbanizada e promovidos diversos aterros que alteraram significativamente a sua geografia e hoje a Ilha de Brocoió tem aproximadamente 200.000 m² de superfície.
Nela tem um casarão, o
Palácio de Brocoió, que foi projetado pelo francês
Joseph Gire por encomenda de Otávio Guilnle, o mesmo que projetou o Copacabana Palace.
O casarão em estilo normando, além dos telhados muito inclinados, próprios para neve tem
mansardas — janelas inseridas no telhado — e a
estrutura de madeira aparente na fachada, técnica chamada de
enxaimel.
O desenho das madeiras em diagonal é
apenas decorativo: foi feito em argamassa e pintado de marrom para
simular a madeira.
Tem, também, dois pequenos chalés próximos à entrada traseira do casarão. Entre os dois, estão os resquícios do jardim francês projetado
por Gire.
Do subsolo ao sótão, há outras surpresas: no andar inferior, um
banheiro de praia, usado após o banho de mar como entrada independente,
ostenta mosaicos com motivos árabes e até um
bar. Ao lado dele, as enormes cozinha, copa e despensa, com desenhos no
piso. No hall principal, de pé-direito duplo, uma
claraboia. A
luz suave chega ao salão de estar, que tem, de um lado, a sala de
jantar e, de outro, a de leitura. Os três cômodos têm
boiseries (painéis
de madeira adornados por molduras) nas paredes e bonitos móveis de
época.
Mas é no andar de cima, o dos quartos, que está o ambiente
de mais personalidade da casa: o banheiro art déco da suíte, com uma vista deslumbrante para o Rio. A banheira, escavada
num bloco maciço de
mármore de Lioz, domina o ambiente amarelo, com
direito a torneiras de bronze na forma de pássaros, influência do art
nouveau. A suíte tem dois quartos e um escritório.
Adquirida em 1944 pela Prefeitura do então Distrito Federal, na gestão de
Henrique Dodsworth, atualmente é de propriedade do governo do Estado do Rio de Janeiro, encontrando-se tombada desde 1965 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC). E o
Palácio de Brocoió se tornou residência alternativa de verão para o Governador do Estado, não utilizada ultimamente.
Houve uma época em que autoridades do estado e figuras
ilustres eram
habitués do local. O governador Carlos Lacerda
adorava despachar no escritório da suíte.
Por lá chegaram a trabalhar 50 pessoas
para que nada faltasse aos visitantes. Faisões e pavões ficavam soltos no enorme
jardim e davam o toque fantástico ao cenário da ilha.
CURIOSIDADE:
A
revista O Cruzeiro, Ano XXXVII, nº 43, 31/07/1965 publicou reportagens especiais sobre um domingo especial em Brocoió, promovido pela revista, no ano do
4° centenário da cidade, nas edições de n° 42 de 24/7/1965 e nº 43, 31/07/1965.
"DOMINGO DE MISSES EM BROCOIÓ
O primeiro dia de Miss Brasil-65 foi todo de brisa, mar e paisagem, em
companhia das outras finalistas, dos organizadores do concurso e das
coleguinhas estrangeiras que, brevemente, estarão desfilando com ela na
passarela de Miami Beach.
A Ilha de Brocoió é um paraíso de bolso, cercado de Guanabara por todos
os lados. Para lá, sob um céu chuvisquento, várias lanchas levaram meia
centena de misses, ao ritmo de gostosa batucada (linguagem musical da
terra, que todas depressa entenderam). Mr. Botfeld e outros big-boss do
Miss Universo juntaram-se ao samba, cantando em português esforçado mas
sincero. Entre eles estava Monsieur Claude Berr (coordenador do Miss
França e supervisor do concurso na Europa).
 |
Kiriaki Tsopei, Miss Grécia, Miss Universo 1964, preparando-se para um mergulho na Ilha de Brocoió. (Foto: O Cruzeiro) |
Dos ares, veio uma surpresa, quando a viagem ainda estava a meio: um
helicóptero da FAB, que o Brigadeiro Carlos Alberto de Matos gentilmente
pôs ao dispor das misses, passou a sobrevoar as lanchas, com Indalécio
Wanderley na carlinga. As pás do imenso pássaro metálico sopravam forte
o cabelo das moças, revelando novas feições de suas graças. O americano
Harold L.Glasser, presidente do Miss Universe, Inc.(425 Fith Avenue,
N.Y.), alto e boa praça, comentou: - Estas fotos vão sair ótimas. O
fotógrafo é maluco. Vou querer estas fotos para fazer uma história na
“Life”.
 |
De costas, Sue Ann Downey (Miss Estados Unidos, Miss Internacional do IV Centenário do Rio de Janeiro), tenta levantar Kiriaki Tsopei (Miss Grécia, Miss Universo 1964), observada por Ângela Vasconcelos (Miss Paraná, Miss Brasil 1964). (Foto: O Cruzeiro) |
Em Brocoió, as misses correram nos gramados. A americana Sue Ann, Miss
Internacional IV Centenário, cantava em inglês, com letra improvisada
por ela, a marcha “Cidade Maravilhosa”. A grega Kiriaki (para os amigos
Korina), Miss Universo 1964, era um jorro de alegria morena, em
contraste com os verdes que predominam na ilha. Maria Raquel de Andrade,
Miss Brasil, ainda não refeita da emoção de sua vitória, poucas horas
antes, mostrava-se tímida e solitária. A aplaudidíssima Miss Mato
Grosso, Marilena de Oliveira Lima, quarta colocada no Miss Brasil, fez
amizade com outra morena, Miss Índia. Depois, o almoço: peru, peixe e
vinho nacional.
* O Cruzeiro n° 42 de 24/7/1965 *
UMA ILHA NAS ÁGUAS DA BELEZA: BROCOIÓ
A beleza do mundo inteiro – representada em misses de 21 países que
concorreram ao Concurso Miss Internacional do IV Centenário e em 25
misses indígenas que procuraram o cetro e a coroa de Miss Brasil –
recebeu a festa maior da Cidade Maravilhosa durante o passeio promovido
por “O Cruzeiro” à paisagem escondida da pequena Ilha de Brocoió, no
fundo da Baía de Guanabara. Um helicóptero, colocado na agenda das
vantagens de que a beleza de qualquer miss sempre desfruta, completou os
acessórios do transporte que tinha o tom maior na lancha branca que
carregou a mais cobiçada carga de simpatia que o sol do Rio de Janeiro
já dourou. Mantendo o passeio no tom do sorriso e da alegria, aconteceu o
“rapto” de Miss Brasil, quando todos menos esperavam, na circunstância
inédita de o helicóptero entrar na história como o novo instrumento da
conquista da beleza. Passeio marítimo até Brocoió, almoço de peixe e
peru, vinhos nacionais, eis a promoção de “O Cruzeiro” para as misses.
 |
Os sorrisos de Persis Khambatta, Miss Índia, e Virpi Liisa Miettinen, Miss Finlândia,vice-Miss Internacional do IV Centenário do Rio de Janeiro.(Foto: O Cruzeiro)
|
No céu, moldura de chuvisco e bruma; nas lanchas brancas, 50 misses em
batucada de samba. Mr. Botfeld e outros big-boss do Miss-U (Miami) e,
também, Monsieur Claude Berr (este, coordenador do Miss França e Miss
Europa) juntaram-se à batucada, inclusive com voz em português. O
passeio escorreu ótimo, as misses descobrindo as belezas naturais da
Guanabara, as gaivotas e mergulhões, a silhueta das serras, o vento
trazendo um chuveirinho de água salgada pra o rosto das belas. A
sensação da liberdade panteísta.
A equipe de “O Cruzeiro” tinha surpresa em versão de helicóptero que o
Brigadeiro Carlos Alberto de Matos, comandante do Catinave, colocou na
agenda das misses, num gesto de galanteria da FAB. Ia no leme do
helicóptero o tranqüilo Tenente Noronha. Enquanto as lanchas singravam
mar de ondinhas, o helicóptero, de cima, com o incrível Indalécio
Wanderley de janela no vento, farejava em cores e preto-e-branco a
esteira dos barcos. Eram fotos em carretilha, metralhadas de cima, o
redemoinho do helicóptero assanhando os cabelos das moças, que riam em
coro. De baixo, George Torok e José Carlos Vieira, parceria de Darcy
Trigo, enquadravam o helicóptero no visor de suas leicas. Operação
mar-e-ar, por conta da indocilidade dos nossos guerreiros profissionais.
Em Brocoió as misses correram nos gramados. Sue Ann, americana, Miss
Internacional IV Centenário, estava de maré de piada. Cantava (com letra
que ela improvisava, em inglês) a nossa Cidade Maravilhosa. E repicava
com músicas famosas americanas (repertório de Frank Sinatra). A grega
Kiriaki, que prefere ser chamada de Korina, Miss Universo 1964, era um
jorro de gargalhada. A natureza do Rio amalucou as internacionais. A
alemã continuava rindo. Até a dor é engraçada para aquele talo de rosa.
Notem que as moças vestiam linhas esportivas. Miss Alagoas estava de
slack azul-claro, cabelos soltos á moda Brigitte. Maria Raquel de
Andrade, nossa Miss Brasil, buscava solidão nas lanchas. Foi gravada em
pose solitária. Ela explicou que era exaustão. Estava nervosa com tanto
sucesso junto. E de mãos dadas de passeio miúdo pelas gramas, Miss índia
e Miss Mato Grosso, por sinal semelhantes em morenice e simpatia. Em
nome de São Paulo, a sua miss loura, Sandra Rosa, ganhadora do segundo
lugar, com viagem certa para Long Beach. Vestia calça azul e túnica de
rendas brancas.
No almoço, no solar da pequena ilha, a Miss da Baia de Guanabara, todas
as misses preferiam o peru ao peixe, com vinhos do Rio Grande do Sul.
Quem mais comeu foi Miss Áustria, pelas internacionais, e Miss Minas,
pelas nacionais.
O "RAPTO" DE MISS BRASIL
 |
Maria Raquel, Miss Brasil 1965, aproxima-se do helicóptero sem saber que seria "raptada". (Foto: O Cruzeiro) |
 |
Momento em que Maria Raquel entrava no helicóptero. Ao fundo,o famoso fotógrafo Indalécio Wanderley. (Foto: O Cruzeiro) |
Estava marcada uma surpresa em Brocoió. Quando o helicóptero posou nos
verdes, todo mundo pensou que era uma visitinha. Apenas isso. Não era
visitinha. Era um plano de rapto contra Miss Brasil. Pedimos a ela que
fosse até ao helicóptero para tirar umas fotos. Não soletramos o verbo
voar. E quando a loura Raquel entrou na cabina, o bicho roncou forte.
Ela agarrou-se ao pescoço de Indalécio. Puro medo. Acontece que Raquel
nunca tinha voado. E, na estréia violenta, o medo, o arrepio nos nervos.
Em baixo ficaram as outras maravilhadas. O helicóptero rumou para outra
ilhota, de nome Jurubaíba ou Dois Irmãos. Baixou em praia livre, onde
só havia uma barraca e um punhado de banhistas que fazia um piquenique.
Miss Brasil foi logo identificada. E idem o fotógrafo: - Você é
Indalécio Wanderley, não é?
 |
Sue Ann Downey, Miss Estados Unidos 1965, e Kiriaki Tsopei, Miss Universo 1964, divertindo-se com o susto de Maria Raquel. (Foto: O Cruzeiro) |
Raquel estava afobada, tremente. Não levara maiô. Estava de vestido,
sapatos salto alto, meias longas, que se rasgaram na viagem. Assim mesmo
ela foi fotografada nas areias, junto do fim da onda, entre barcos e
poucas pessoas que nunca viu. Sua fome era proclama por ela mesma.
* O Cruzeiro, nº 43, 31/07/1965*
O governo atual não liga para a ilha e nem ela está disponível à visitação. Uma pena.
Quer ver mais? Clique
AQUI e faça um passeio virtual.