segunda-feira, 8 de junho de 2015

“O mar de Malta”

Maior cronista visual do Rio de Janeiro, com um legado calculado entre 60 mil e 80 mil imagens que documentam as transformações físicas da cidade e os modos do carioca na primeira metade do século XX, o alagoano Augusto Malta não ignorou nada do que aconteceu por aqui.


Fotógrafo contratado da prefeitura por 40 anos (de 1903 a 1943), ele reproduziu, com sua câmera, casas, ruas, equipamentos e cerimônias oficiais, mas, paralelamente, realizou registros de moradores em espaços públicos. Registrou, por exemplo, o surgimento da praia como um espaço de lazer, um conceito novo então, nascido nas primeiras décadas dos anos 1900.

A exposição “O mar de Malta”, que será inaugurada no Centro Cultural Justiça Federal, no Centro, a partir do dia 11 de junho, faz um recorte da relação do carioca com o mar, como visto e fotografado por Augusto Malta.

São 33 imagens, selecionadas em várias coleções públicas, como as do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro e da Fundação Biblioteca Nacional, e privadas, caso do Instituto Moreira Salles.
O resultado é um painel curioso e atraente de uma mudança comportamental, vinda no rastro das transformações empreendidas no desenho da cidade a partir da gestão do prefeito Pereira Passos (1902-1906), responsável pelo emprego dado a Malta. É o momento em que a cidade, até então voltada para dentro, vira-se de frente para o mar, assumindo sua condição de balneário.Imagens que representam
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a virada da cidade do Rio, quando deixou de ser uma cidade portuária e virou uma cidade balneária.

A Avenida Central já sinaliza isso. Ela sai do porto em direção ao Pão de Açúcar, reconstrói a orla, cria uma promenade e a Avenida Beira-Mar provoca a urbanização de Botafogo. A partir daí vêm os túneis e Copacabana, e a cidade se coloca no mapa do destino internacional. É o momento em que o Rio constrói a identidade que tem hoje.

Na mostra será possível ver imagens como a de uma antiga casa de banho na praia de Santa Luzia, que hoje não existe mais (em seu texto para o catálogo da exposição, o historiador e fotógrafo Pedro Karp Vasquez nota que a praia ia até a igreja de Santa Luzia, e que, por isso, ela “hoje nos parece situada fora de alinhamento, simplesmente pelo fato de que dava diretamente para o mar”).

Em outra imagem, rapazes saltam na água em alguma praia também no Centro, em 1915; e há ainda a de banhistas lotando a Praia do Flamengo em 1934.


Dois registros importantes da conquista de Copacabana para o lazer: a abertura do Túnel Novo sob o Morro da Babilônia, integrando o bairro a Botafogo e, depois, os postos de salvamento criados em Copacabana a partir da década de 1910 e que, depois, se prolongaram pelas praias de Ipanema e Leblon.

 Para além do Leblon, ainda, há o registro da comitiva do prefeito Paulo de Frontin trafegando na abertura da Avenida Niemeyer, em 1919, rasgando caminho em direção a São Conrado, Barra e Recreio, que até então não faziam parte da malha urbana carioca.

— Malta foi funcionário da prefeitura, mas seu trabalho transcendeu o ofício meramente burocrático — diz Guran. — Isso num momento em que a cidade se voltava para o mar. Basta ver o Palácio do Catete, cuja frente dá para a Rua do Catete, e não para a orla. De repente, a cidade se descobriu balneário — diz Guran.

 “Tivemos a sorte de contar com o olhar atento
e a lente precisa de Augusto Malta.
Suas fotografias nos mostram quem éramos
e como chegamos ao que somos”.
Milton Guran, curador da mostra



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