26 de abril de 2019
125 anos de Ipanema!
Vale o repeteco da crônica!
É mais que um pedaço
É um braço do Rio
Tão carioca
Que desemboca no mar,
Os índios tamoios foram os primeiros moradores desse local a que deram o nome de Y-panema - água imprestável, ruim para a pesca.
Mas foi um certo barão, o de Ipanema, José Antônio Moreira Filho, que ao herdar do pai, em 1886, um desvalorizado areal da Fazenda Copacabana, decidiu explorar a área, comercialmente, lançando, em 1894, um empreendimento imobiliário, com o coronel José da Silva, seu sócio. Com 19 ruas e duas praças, surgiu, então, o loteamento Villa Ipanema.
Algumas ruas tiveram seus nomes dados em homenagem à família do Barão , como a Alberto de Campos e a Montenegro - atual Vinícius de Moraes – seus genros .
Num primeiro momento, ninguém quis morar no local, considerado longe demais, pois até lá só era possível ir de canoa ou a pé. A partir da chegada dos bondes, o bairro chamou a atenção, o negócio deslanchou e o barão começou a vender suas terras, principalmente a imigrantes.
Em 1927, as ruas Vieira Souto, Maria Quitéria e Prudente de Morais foram iluminadas com luzes incandescentes, atraindo ainda mais a atenção para a região. A partir daí, não demorou a acontecer o boom do bairro: foram inaugurados colégios (como o Notre-Dame e o São Paulo) e construído o prédio Issa, o primeiro com dois pavimentos.
Criar modismos sempre foi a principal marca do bairro. Muito antes da Rose di Primo - a criadora da tanga - e da revolucionária Leila Diniz, ao desfilar sua barriga de grávida, já em 1915, a bailarina americana Isadora Duncan nadava nua em suas águas.
Na década de 30, a chegada dos grandes cinemas – Cine Ipanema, Cine Pirajá, o Pax e o Cine Astória e o surgimento dos bares Jangadeiros, Zeppelin e Berlim (depois Bar Lagoa), tornaram Ipanema uma das melhores opções para boemia e para o lazer. Vocação confirmada, no final dos anos 60, pela inauguração do Teatro de Bolso e a transferência da atual feira Hippie – Feira de Arte que ocorria no Museu de Arte Moderna (MAM),para a praça general Osório.
Nos anos 60, Ipanema virou objeto de exportação. Foi lá que a bossa-nova se estabeleceu e a Banda de Ipanema passou. As moças do Castelinho acabaram descobrindo que bom mesmo era dividir o maiô no meio, se lambuzar com Rayto de Sol, jogar frescobol na beira da água, catar tatuí na areia e acompanhar os meninos de cabelo comprido, que seguiam para surfar as ondas.
O Castelinho era uma construção, no Arpoador, em estilo mourisco feia pra dedéu – gíria ipanemense - construído em 1904 pelo cônsul da Suécia, Johan Edward Jansson, que acabou virando restaurante, um autêntico pé-sujo, onde o chope era mais barato, os pastéis mais crocantes e o papo muito mais animado. No Mau Cheiro, outro bar do Arpoador, a nata da intelectualidade se reunia para beber e discutir a política cultural do país.
No verão 68/69, diante de um pôr-do-sol daqueles, o jornalista Carlos Leonam não se conformou e disse: “Essa tarde merece uma salva de palmas!”. Imediatamente, o grupo em que estava na altura do Posto 9 - Glauber Rocha, Jô Soares, João Saldanha, entre outros - deu início aos aplausos. Repetido e consagrado, mais tarde, em comercial de TV.
A praia dos anos 70 viu as dunas do barato , o local de encontro da geração desbunde, e dos 80, nascer nas suas areias o Circo Voador e o jornalista Fernando Gabeira chocar o Posto 9 usando uma tanga de crochê da sua prima, a jornalista Leda Nagle.
Ipanema ainda teve verões marcantes como o da lata e o do apito. E se tornou o maior pólo de moda do Brasil, com lojas, que ficaram para a história como Bibba, Blu Blu, Lelé da Cuca , Yes Brazil, Ethel e Company.
Aí surgiu uma canção, inspirada numa moça que passava frequentemente em frente ao Bar Veloso, na esquina da rua Montenegro e Prudente de Moraes. Ela encantou Tom Jobim e Vinícius de Moraes que estavam sempre no bar e surgiu Garota de Ipanema, música que ganhou o mundo. Quem era a garota? Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, que morava na rua Montenegro, nº 22 – próximo ao bar - e somente dois anos e meio depois, já com namorado, ficou sabendo que era a inspiração do sucesso. Quando se casou, Heloísa convidou Tom Jobim e sua esposa Thereza para serem padrinhos.
Essa província independente que influenciou hábitos e costumes, foi referência e unanimidade. Não há hoje, no Brasil, uma praia habitada que não tenha biquíni, surfe ou vendedor de sanduíche natural. Graças a Ipanema.
Hoje não tem mais tatuís . As dunas do Píer também não. Nem as empadas do Mau Cheiro, o bonde 12, nem a rua Montenegro, nem o Veloso. Nem a Churrascaria Carreta , a Sorveteria do Moraes, a padaria Eldorado, a Chaika,e os cinemas de rua. Mas ainda estão em Ipanema a Casa Reis, o Honório e tantas outras novidades , que Ipanema inventa a cada dia, recriando suas esquinas, suas calçadas e sua praia.
Que continuam a ser, como nos versos de Tom Jobim...
cenário de cinema...poema à beira-mar."
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