A fisionomia da Lapa (mesmo independentemente de qualquer impressão pessoal e subjetiva) sofrera várias alterações. Por exemplo: não havia mais garçonetes.
Ribeiro Couto, que mais ou menos por esse tempo passou dois anos no Rio, em estágio no Itamaraty, observava numa crônica:
“Não ficarei na Lapa. Dos seus bares o regulamento policial afastou as caixeirinhas risonhas que imitavam o Reno à sobra dos Arcos. Onde cultivar o anonimato, o chope sentimental e a meditação confusa a esta hora em que me assaltam os demônios da nostalgia? “Na praia.”
E era mais ou menos isso o que todos faziam: iam para a praia, isto é, para Copacabana. Foi então o tempo de grande esplendor do Alcazar, o famoso bar-restaurante com terrasse do Posto 5. Eu, carioca legítimo e não de adoção, não me conformava muito com isso. Em 1948 escrevia:
‘Como o Rio tem mudado nos últimos anos! Pode-se quase dizer que Copacabana vai aos poucos matando o Rio. Porque Copacabana pouco ou nada tem a ver com o Rio. Copacabana é alegre, é luminosa, é turística, cosmopolita, vitaminada, esportiva e incontestavelmente bela.
Mas não é o Rio. O Rio é a velha cidade imperial das ruas mal calçadas que os crepúsculos se iluminavam a bico de gás. Soa os becos estreitos e sinuosos, com recordações coloniais apontando a cada passo. É a evocação persistente e viva dos romances de Macedo, da música de Nazareth, das serenatas boêmias dos bairros sossegados dos subúrbios tristonhos, em noites profundamente quietas de misterioso luar... O Rio é a rua da Misericórdia, a praça da Bandeira, o Catete, o largo do Machado, a Tijuca, Vila Isabel, Flamengo, Laranjeiras, Andaraí, Engenho Novo. O Rio é a Lapa.’
Foi por isso que muitos anos depois, em 1957, quando Renato Perez, entrevistando-me para o Correio da Manhã, quis saber se eu, carioca, em São Paulo Tinha muitas saudades do Rio:
– Não – respondi. – Tenho muitas saudades do Rio quando estou no Rio.”
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