terça-feira, 28 de outubro de 2008

O bonde de São Januário


O GUIA DO PASSAGEIRO DE BONDE - janeiro de 1938 - , diz na sua introdução: 


"O bonde nada tem de bond...oso. é pesado, intransigente, tem um caráter tão firme que não recua sem muito refletir nem pedir licenças aos colegas que vêm correndo na cauda. É claro que com um bicho desse tamanho (tamanho de um bonde) é preciso que quem o toma se porte com a necessária precaução se quiser voltar para casa com os ossos no lugar em que a natureza os colocou, de acordo com os tratados de anatomia."


Espalhadas pela cidade, algumas de suas linhas foram inspiradoras de músicas.O bonde da linha São Januário foi uma delas. O itinerário dele era: Largo de São Francisco de Paula/ Andradas/ Presidente Vargas (lado impar)/ Francisco Bicalho/ Francisco Eugênio/ São Cristovão/ Fonseca Teles /São Luiz Gonzaga/ Praça Vicente Neiva /São Januário/ Teixeira Junior/ General Almério de Moura /Coronel Cabrita /Praça Argentina .O samba de 1940 fala da linha operária.


O bonde de São Januário (Wílson Batista e Ataulfo Alves)

Quem trabalha é que tem razão
Eu digo e não tenho medo de errar
O bonde São Januário
Leva mais um operário:
Sou eu que vou trabalhar
Antigamente eu não tinha juízo
Mas resolvi garantir meu futuro
Vejam vocês:
Sou feliz, vivo muito bem
A boemia não dá camisa a ninguém
É, digo bem


Mas a letra original não era essa. Antes, era 

leva mais um sócio otário e sou eu que vou trabalhar.

Por que mudaram a letra?
 
O contexto histórico era o Estado Novo, o Brasil de Getúlio Vargas. Nesse período, quem estivesse portando violão - a expressão do malandro - poderia ser preso. E aconteceu que a Polícia Especial e o Departamento de Imprensa e Propaganda - DIP - “sugeriram”, não com muita doçura, a mudança da letra. E se os autores não fizessem isso, seriam torturados. Assim, o sócio otário se tornou operário .

E a ironia, com o tempo, tornou-se uma louvação.




5 comentários:

  1. Ah, o São Januário!
    Morávamos na R. São Luis Gonzaga, em cima das Lojas Macahenses (de tecidos, que pertenceu à minha familia) até os cinco anos, quando nos mudamos para Laranjeiras.
    Ficava fascinado olhando o bonde passar e parar na Cancela, ali adiante. Me fascinava, de pequeno, ouvir o ranger das rodas contra os trilhos, uma cacofonia de runhidos que lembrava o clamar uivante das rodas dos carros de boi da Zona da Mata de Minas Gerais (Ponte Nova, terra do João Bosco) transportando cana de açúcar.
    No Carnaval era uma festa, todo mundo fantasiado nos alpendres.
    Aquele trecho da São Luis Gonzaga era especial, pois era pertinho da Quinta da Boa Vista, do Zoológico, do Museu Nacional, e não muito distante do Maracanã ou do Clube de Regatas Vasco da Gama, lugar onde íamos à piscina e onde o irmão mais novo do meu pai mais tarde tornou-se médico do time de futebol.
    A última vez que andei no São Januário foi em 1966, acho, quando vinha estudar no Pedro Segundo ali em frente ao Campo de São Cristóvão. Eu preferia o reboque.
    Quem é que não se lembra da quadrinha do Rhum Creosotado, mais ou menos assim:
    -
    ”Veja ilustre passageiro,
    o belo tipo faceiro
    que o Sr. tem ao seu lado.
    E, no entanto, acredite,
    quase morreu de bronquite,
    salvou-a o Rhum Creosotado“

    Alguém aí já provou?!
    __
    JNE
    dre@modestopediatrician.com

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  2. Grande recordações. Andei muito nos estribos do São Januário. Os alunos do Colégio Brasileiro de São Cristóvão, na Fonseca Telles, colocavam sabão nos trilhos e o bonde ficava patinando. E fui cliente das Macahenses... Da Papelaria São Luiz Gonzaga. Tempos maravilhosos.Éramos felizes e sabíamos disso, o que era mais importante. E o Jaguaré com suas promoções, seu amor pelo bairro?
    E mais: naquele tempo, para se ir de São Cristóvão à Tijuca era uma "lenha". Pegava-se um bonde até a Presidente Vargas, atravessava e pegava o Tiuca (66) para a Saenz Peña...
    Feliz semana para todos.

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  3. aristoteles alves correa5 de agosto de 2009 às 12:01

    Elizabeth, nesse seu último blog que tem a letra de "O bonde de S.Januário", faz menção sobre à "sugestão " do DIP para que fosse alterado um trecho. Lembrei-me que durante a Ditadura Vargas, todas as lojas eram obrigadas a colocar na parede um quadro com a foto de Getúlio e nessa foto estava escrito: " O Brasil deposita sua fé e esperança no Chefe da Nação." Regime de força tinha esses absurdos. Abrs. Aristóteles

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  4. Eu morava em D.de Caxias trabalhava em são Cristóvão,itinerário ia no trem 🚃 da Leopoldina até,barão de Mauá pegava o bonde largo de são Francisco pç. argentina chegava ao trabalho.eu era feliz e não sabia (1963).

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  5. Saudades,tempo que s violência não era como a de hoje

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