Em frente ao número 734 da Rua do Russel, na Glória, é necessário algum tempo de observação para apreciar todos os detalhes do casarão em estilo art nouveau. Comparado a Gaudí, o italiano Antonio Virzi é o arquiteto da construção de três andares, chamada de Casa Villino Silveira, hoje propriedade do empresário Eike Batista. A formas de Virzi são imprevisíveis, e cada pequena ornamentação surpreende o olhar, como os laçarotes em ferro presos às colunas.
Virzi chegou ao Rio em 1910, foi professor da Escola Nacional de Belas Artes e construiu diversas propriedades para uma burguesia carioca mais extravagante. A Casa Villino Silveira data de 1915 e foi erguida para Gervásio Renault da Silveira, fabricante do Elixir de Nogueira. Nada do Virzi é previsível, ortogonal ou simétrico.
No mesmo trecho da Russel, o Edifício Milton é outra joia arquitetônica, classificada como eclética, com algumas formas em art déco. No passado um dos endereços mais elegantes da cidade, com seu portal de mármore verde, o prédio foi projetado por Adolpho Dourado Lopes, em 1929. Ele era dono, em sociedade, da construtora Gusmão, Dourado & Baldassini, uma das maiores do Rio na época. Eles faziam prédios imensos
O telhado é inspirado no renascimento francês, e as venezianas verdes que ainda restam chamam a atenção. O nome do imóvel veio do seu construtor e primeiro proprietário, Milton Carvalho, sócio do magazine A Exposição.
Andando mais um pouco, a Praia do Flamengo reserva algumas pérolas. O Tabor Loreto, no número 244, tem a assinatura do arquiteto francês Henri-Paul Pierre Sajous, também autor do Biarritz, a poucos metros de distância e ícone do art déco. No mesmo estilo, o Tabor Loreto (de 1940) é mais grandioso e vanguardista. A grade em ferro batido que chanfra a quina do prédio é extremamente moderna para a época
Sajous foi autor de outras construções importantes, como os prédios da Mesbla e da Associação Comercial.
Entre os projetos escondidos na paisagem e que merecem destaque para o arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti está o do Liceu de Artes e Ofícios, na Rua Frederico Silva, Cidade Nova. De 1957, o conjunto tem o formato de E e três blocos interligados por passadiços. O desenho é de Enéas Trigueiro Silva. Antes, o arquiteto projetara escolas durante a administração de Anísio Teixeira na Diretoria de Instrução Pública do Distrito Federal (1931-1935).
O passado do Centro do Rio espremido entre espigões de vidro
A Avenida Rio Branco, no Centro, reserva um corredor curioso de prédios que começa na esquina da Rua do Ouvidor e segue pela Miguel Couto. Com edifícios envidraçados e de cor escura em volta, o grupo de construções antigas e coloridas se destaca na paisagem.
A mais chamativa é a da Ouvidor 116, na esquina com a Miguel Couto - onde funcionou a Perfumaria Carneiro - com seu estilo eclético e influências egípcias, vistas em duas esculturas no segundo pavimento e em pinturas nas paredes. O nome do arquiteto foi esquecido no tempo. Ao lado, há dois exemplares art déco: um construído pela empresa J.A. Costa & Cia. em 1932, de cor ocre, seguido por outro de 1931, cinza, do arquiteto e construtor Joaquim da Silva Cardoso.
Fonte: O Globo Online
Fotos:Ana Branco / reprodução
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