No dia 20 de maio de 1960
aconteceu a famosa
NOITE DO AMOR DO SORRISO E DA FLOR,
no anfiteatro da Faculdade Nacional de Arquitetura,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.
O lider e apresentador dessa noite especial foi RONALDO BÔSCOLI, que na abertura anunciou:
"Esta é a noite do amor, do sorriso e da flor.
E este é realmente o primeiro festival de bossa nova mesmo.
Não se espantem. É bossa nova mesmo".
Muitos sabiam que o anúncio de Bôscoli era uma resposta a outro show que
aconteceria no mesmo dia, na PUC. Ele e Carlos Lyra vinham se
desentendendo desde que Lyra gravou um disco solo pela Philips,
abandonando os companheiros da bossa, que se reuniam para gravar pela
Odeon. Segundo Bôscoli, Carlinhos só programara o show na mesma data
para atrapalhar.
Cacá Diegues, presidente do diretório acadêmico de Direito da PUC, viu
logo que em matéria de atrações a Faculdade de Arquitetura ganhava de
goleada. Daí que prrevendo falta de público, Diegues autorizou a entrada de uma escola de samba na universidade.
Aberto pela cantora Claudette Soares, que cantou as três primeiras canções, participaram do evento Johnny Alf, Elza Soares, Norma Benguell, Trio Irakitan, Os Cariocas, Caetano Zama, Sérgio Ricardo e um time de jovens músicos no acompanhamento, como Roberto Menescal, Hélcio Milito, Bebeto e Luiz Carlos Vinhas. O ponto alto da noite foi a apresentação de João Gilberto. Ele interpretou "Samba de uma nota só" e "O pato" - do seu LP O Amor, o sorriso e a flor , que teve texto da contracapa de Tom Jobim - depois acompanhou Astrud Gilberto. Finalizou o evento cantando "Meditação", cujos versos inspiraram o nome do primeiro festival de bossa nova...
"Em janeiro, não aguentei mais e subi a serra. Todos sabem como foram as águas em 60. Como choveu! Cheguei à fazenda, meti-me numas calças velhas e esperei a chegada daquela burrice calma que nos dá nove horas de sono sem sonhos. O mau tempo e o barro mantinham a todos presos em casa. Bom era quando odia amanhecia melhorzinho e eu e meu filho, ainda de pijama, íamos ver o trabalho das formigas cortando as roseiras do jardim. Mas qual! Quando o sol começava a querer esquentar vinha logo a chuva e nós corríamos para dentro. Uma noite, já ia apagar os lampiões, quando ouvi o motor de um carro que pelejava para subir a rampa. João Gilberto e Sra. estavam chegando. Tínhamos combinado que ele viria, mas, devido ao mau tempo já não acreditávamos que Joãozinho chegasse, e logo de taxi! Depois ele me contou que, atolado na lama, esperou um trator puxar o carro. Vinha cansado e descansou uns dois dias.
Então começamos a trabalhar. Fugíamos da sala onde brincavam as crianças prêsas pela chuva. Íamos para um dos quartos vazios, com fôrro de madeira, que aliás dão boa acústica. Lá, longe da cidade e do telefone, trabalhamos sossegados uns dez dias. De vez em quando o trabalho era interrompido pelas crianças que irrompiam no quarto trazendo algum filhote de tico-tico ou de coleiro "caído" do ninho. Nessa época do ano a trepadeira da varanda fica cheia desses ninhos de passarinhos pequenos. Às vêzes também as patroas entravam com um café cheiroso, biscoitos, e ficavam alí um pouco. Quando o tempo melhorava vinha o sol quente. Tomávamos banho de cachoeira e íamos flanar um pouco pelas redondêzas. Aí Joãozinho partiu. Dias depois recebo um recado; o disco estava atrazado e o Aloysio havia marcado a gravação. Desci também e começou a correria: estúdio, cópias, músicos. E tudo foi feito num ambiente de paz e passarinhos.
P. S. - As criancas adoraram "O Pato".
João Gilberto finalizou o evento cantando "Meditação", cujos versos inspiraram o nome desse primeiro festival de bossa nova...
Meditação
Tom Jobim
No amor, no sorriso, na flor
Entao sonhou, sonhou...
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais
Quem, no coraçao
Abrigou a tristeza de ver tudo isto se perder
E, na solidao
Procurou um caminho e seguiu,
Já descrente de um dia feliz
Quem chorou, chorou
E tanto que seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
E a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou
Naquela época, gravadores de som não eram muito comuns nas mãos de não-profissionais. Uma das poucas pessoas que possuíam gravador era Jorge Karam, amigo de toda a turma da Bossa Nova e um apaixonado por música. Graças ao hobby de Karam ficaram preservados importantíssimos momentos da vida do movimento e de seus participantes. Do show da Arquitetura e da Escola Naval, como tantos outros, o único registro que existe são as preciosas gravações de Karam a quem a história da Bossa Nova muito deve.
Pra ouvir o registro dessa noite antológica é só clicar abaixo.
Lembro também do Vin´´icius e da Elza Soares!
ResponderExcluirPor favor mande me o documento sonoro desta noite o link néao existe mais hà tempo .... Obrigado : Christophe Rousseau crisdobrasil2005@gmail.com
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