domingo, 26 de maio de 2013

Tristão e Isolda... inspiração carioca?

Nesse mês de maio de 2013 se comemoram 
os 200 anos de nascimento de Richard Wagner, 
o genial e controvertido intelectual do século XIX, 
o grande compositor que reinventou a ópera.

E aí recordamos uma antiga dúvida que  fez surgir uma lenda : 

a ópera Tristão e Isolda teria sido composta, 
por inspiração carioca 
e a pedido de D. Pedro II.

A existência de uma partitura de Tristão e Isolda, em uma edição italiana antiga da editora Ricordi, em formato grande e pesadíssima, a qual continha, na página que se seguia ao titulo da obra, uma dedicatória a Sua Majestade O. Pedro II, Imperador do Brasil, e o brasão imperial do Brasil, ambos impressos, é uma das responsáveis por essa história  que continua em aberto.

Relatos e cartas nos dão conta de que D. Pedro II, através do cônsul brasileiro em Leipzig, encomendara ao grande compositor alemão, que já admirava há muito, uma ópera de cunho romântico latino, de execução não muito difícil, para ser encenada no Rio de Janeiro. Wagner teria aceito a incumbência, recebeu urna
soma substancial do cônsul brasileiro para tal fim e escolheu o tema de Tristão e Isolda para a ópera que iria compor para o imperador brasileiro.

À medida que Wagner compunha a partitura, a obra se tornou tão complexa que decidiu escrever ao cônsul brasileiro explicando o problema e duvidando da possibilidade de um teatro sul-americano poder encená-la. Wagner, tão avaro em questões de dinheiro, teria até chegado a oferecer a devolução da quantia adiantada, mas D. Pedro II galantemente lhe teria respondido que estava contente por havê-lo estimulado a compor um aobra tão importante, a qual esperava algum dia poder ouvir.

Essa agradável história ou lenda tem várias vertentes. Uma delas, uma carta de Wagner

"Na mesma época recebi uma carta surpreendente de um indivíduo chamado Ferreiro, que pretendia ser cônsul do Brasil em Leipzig. Esse correspondente me anunciava que o imperador do Brasil tinha uma grande simpatia pela minha música e, como expressei algumas dúvidas na minha resposta, ele me explicou que seu soberano gostava muito da língua alemã e desejava muito receber minha visita no Rio de Janeiro, onde eu mesmo poderia dirigir minhas óperas. Somente que lá só se cantava em italiano - seria então necessário fazer traduzir os textos, mas isso seria coisa fácil e mesmo vantajosa para meus poemas. O que é curioso é que essa proposta me agradou surpreendentemente - parecia-me que eu conseguiria sem dificuldade compor um poema apaixonado que cairia muito bem em italiano, e eu então pensei com n'ais amor do que nunca na história de Tristão e Isolda. Para começar e para pôr à prova a generosa simpatia do imperador do Brasil, expedi ao sr. Ferreiro três arranjos para piano, ricamente encadernados, de minhas três óperas mais antigas, e esperei longamente ia agradável carta anunciando-me a recepção brilhante que haviam feito àquelas partituras no Rio de Janeiro. Mas nunca mais ouvi falar nem das minhas músicas, nem do imperador do Brasil, nem do seu cônsul Ferreiro...
...A construção de uma nova ópera tinha sido anunciada no Rio de Janeiro, com a abertura de um concurso, e meu amigo experimentou a sua chance, desenhando planos magníficos que nos interessam muito. O doutor Wille considerava uma novidade construir um teatro para o público negro. Não sei se as relações de Semper com o Brasil foram mais satisfatórias do que as minhas, mas o certo é que ele não construiu lá teatro algum..."
 Dom Pedro II e Wagner, Vasco Mariz


Wagner pensou que  um tema romântico não germânico cairia muito bem em italiano, e aí aceitado a ideia de vir dirigir essa ópera, e outras, no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, e essas óperas seriam cantadas em italiano e não em alemão. Também, nessa época Wagner estava exilado em Zurique, após haver-se comprometido em tramas políticas republicanas, e portanto teria tido tempo para passar alguns meses no Brasil, e, aqui arrecadar polpuda renda com o patrocínio do imperador.

No entanto, Wagner tinha uma ideia muito vaga do Rio de Janeiro e do Brasil e julgava que se iria construir um teatro no Rio de Janeiro para um público negro.Certamente se surpreenderia, pois jamais encontraria um só negro para aplaudi-lo no público do Teatro Lírico do Rio de Janeiro. Eles não tinham essa chance.

As relações entre Pedro II e Wagner eram praticamente desconhecidas no Brasil até que Thales Martins, em artigo em O Jornal, de 4 de março de 1923, comentou o espetáculo inaugural do Teatro de Bayreuth, com especial referência ao nosso imperador

Ainda em março de 1857 o embaixador brasileiro em Leipzig apareceu inesperadamente em Zurique trazendo uma mensagem para Wagner: Sua Majestade Imperial Dom Pedro II, estava muito interessado no trabalho de Wagner, e queria que ele fosse para o Rio de Janeiro. 

Wagner ficou tão surpreso, ele não podia acreditar. 

Ele mandou partituras ricamente encadernadas e autografadas de O Navio Fantasma, Tannhäuser e Lohengrin para o Brasil, e ficou aguardando uma resposta. Passaram-se muitos meses, e a resposta não veio. Wagner pensou que tinha sido alvo de uma brincadeira.

Pedro II, imperador do Brasil, até teria oferecido ajuda e um local para a construção do teatro, mas Wagner acabou escolhendo Bayreuth, onde organizou festival para inaugurá-lo.

Só muitos anos mais tarde, quando o próprio Pedro II compareceu para cumprimentá-lo pessoalmente no primeiro Festival de Bayreuth, é que Wagner ficou sabendo que o interesse do imperador na sua obra era verdadeiro.

Em uma carta de Wagner a Liszt, de 8 de maio de 1857, um trecho diz:

"O imperador do Brasil acaba de convidar-me para ir ao Rio de Janeiro.
Há promessas de maravilhas. Assim, para o Rio em vez de Weimar!"

Tenho um projeto interessante acerca de 'Tristão e Isolda'.
Penso na versão para o italiano e oferecerei a estréia ao teatro do Rio de
Janeiro, onde provavelmente será precedido pelo 'Tannhãuser'. Vou dedicá-lo
ao imperador do Brasil "
Entre os papéis pertencentes ao mordomo da Casa Imperial, o conselheiro Paulo Barbosa da Silva, um bilhete a lápis de D. Pedro II, dizia

"É preciso responder ao Ricardo Wagner que recebi as suas óperas e o
seu livro e que, agradecendo-lhe a oferta, não posso desde já manifestar o
apreço que faço de seus trabalhos, pois que não houve tempo de examiná-los.
Quem me mandou a carta de Wagner e os livros foi o filho de Ernesto
França, que se achava em Dresden".
A conhecida minúcia e a atividade proverbiais do mordomo de Pedro II, deixam a certeza que a resposta deve ter sido expedida, afirmam os historiadores.

É de se especular por que Wagner ficou esperando uma resposta e não obteve nenhuma.

Por Wagner na época ser considerado um revolucionário criminoso? Procurado pela polícia na própria Alemanha? Falta de recursos? As partituras não teriam chegado às mãos do imperador? Ou outros os motivos políticos ou diplomáticos da interrupção das negociações  porque a carta resposta jamais chegou às mãos de Wagner? Sabe-se lá.

Tristão e Isolda , descrita como um marco do início da música moderna e é a maior ópera do compositor, só foi apresentada no Rio em 1883.

Vale ouvir um pouco...


Prelude, Wilhelm Furtwangler  Philharmonia Orchestra



 Liebestod(Dolce e Calmo) , Maria Callas








Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente! Seja bem-vindo!