segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O casarão do Leme



Em uma das esquinas do charmoso Leme, ao fundo, bem ao fundo, avista-se uma casa que poderia servir de protagonista para um enredo sobre arquitetura, sobre as várias gerações de uma família e sobre o mercado imobiliário do Rio.

E serve. O casarão foi escolhido como cenário principal da comédia “Vendo ou alugo”, que estreou este mês em circuito nacional.

Trata-se da primeira casa de concreto armado do Brasil, construída em 1905, e está dividida hoje em três confortáveis apartamentos dúplex.

Vendida para um belga, em 1942, continua nas mãos da família dele, sendo que a matriarca local é sua filha, Danielle Carlier Pirmez.


Enorme e suntuosa, com uma longa escadaria até a porta principal e uma coluna imensa em formato piramidal. E na parte interna da casa de estilo eclético está o mais interessante: cômodos espaçosos, invadidos pela luz de fora, que realça móveis de mogno e jacarandá dos anos 1940 e 1950.

Aliás, a maioria dos móveis veio da Bélgica, como a sala de jantar que é toda original, com mesa, lustres, cadeiras e pratos que levam o brasão da família.

Construída por um dinamarquês que queria testar o concreto armado no Brasil, a ideia era ter a floresta como quintal e a vista da praia como varanda — o que deu certo... por um tempo. Emily conta que, com a verticalização de Copacabana, entre os anos 40 e 50, a vista foi diminuindo e os prédios aumentando em quantidade e altura.

Hoje, sufocada por essas construções e com a frente quase fechada por dois grandes prédios, sua única ligação para a rua é um estreito corredor que passa pela garagem do edifício vizinho. Foi em meio às mudanças no cenário imobiliário do Rio e durante a Segunda Guerra que o dono quis vender às pressas o imóvel, e assim, o diretor de um banco, o belga Daniel Carlier, comprou e instalou-se lá com seus seis filhos.

— No primeiro andar, havia sala de música, biblioteca e cinema, que não era comum na época. Eu e Emily casamos aqui — conta Danielle, sentada em uma das duas poltronas costuradas à mão, vindas da Bélgica, que decoram a sala.
Fizemos também muitas festinhas de “twist” aqui — brinca a diretora de arte de “Vendo ou alugo”.

Apesar de várias mudanças sofridas dentro e fora do imóvel, alguns detalhes mantém a essência da casa, como o banheiro de onde, do chuveiro, ainda se vê a parte verde do morro. Além, é claro, do notório requinte deste casarão que expressa bem o Rio de Janeiro, de ontem e de hoje, e suas nuances.

Antes da chegada da UPP, valia entre R$ 6 milhões e R$ 7 milhões, mas agora, apesar de sufocada por prédios vizinhos e pelo crescimento, aos fundos, de casas dos morros Chapéu Mangueira e Babilônia, já recebeu ofertas de até... R$ 18 milhões. Com a pacificação e os grandes eventos, a casa voltou a se valorizar. Alguns membros da família querem vendê-la inteira, outros só em parte e há quem queira deixar como está. Então, vai ficando assim.



É o mercado imobiliário do Rio.


Por dentro do casarão no Leme









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