Com um estilo de orquestração meio parecido com o de Quincy Jones, esse paulista com jeito carioca e influência de soul-jazz foi fundamental para o pessoal dos metais no Brasil .
Erlon Chaves é uma referência da black music brasileira e obteve respeito e admiração de tantos com uma obra vasta, que inclui trilhas para novelas e filmes, arranjos para alguns dos maiores cantores brasileiros , dentre eles Elis Regina e Wilson Simonal.
Foi o maestro e arranjador da orquestra do Programa Flávio Cavalcanti , na TV TUPI, autor da linda vinheta de abertura
Foi o criador da Banda Veneno, patrimônio da música dançante brasileira.
Mas esbarrou em preconceitos num Brasil racista, camuflado, principalmente há mais de 40 anos.
Certa vez em um baile, num clube da elite carioca, nos anos 1970, uma banda é afinada e suingada, tocava sucessos internacionais. O crooner era Gerson King Combo e o maestro Erlon Chaves. Um sujeito do público,bêbado, começa a reclamar alto - várias vezes - enquanto Gerson avança por “By the time I get to Phoenix”: “Ô, negão, tu tá enrolando no inglês!” . Na quarta vez, o maestro — também negro, enfurecido — deixa a pompa de lado e por pouco não sai no tapa com o bebum.
UMA CURIOSIDADE
Poucos sabem, mas foi Erlon Chaves quem fez o jingle clássico dos Cobertores Parahyba.
O EPISÓDIO DA CENSURA
Era a final do V Festival Internacional da Canção, no qual Erlon Chaves era presidente do júri internacional. Escreveu Boni - José Bonifácio Sobrinho, em sua autobiografia lançada recentemente, o fato:
Junto com a Banda Veneno, o maestro ia apresentar a música “Eu quero mocotó”, de Jorge Ben. E avisou: “Antes, vamos fazer um número quente. Vou ser beijado por lindas garotas.” E protagonizou um happening, enroscado em dançarinas brancas e louras, em trajes cor da pele.
No Brasil da ditadura, foi demais!
Erlon acabou levado à Polícia Federal, junto com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni - diretor da transmissão - para prestar depoimento. Depois, ganhou uma suspensão por ordem da Censura e lhe recomendaram que fosse embora do Brasil. O Erlon não foi, mas sofreu demais e quase morreu de tristeza porque ficou proibido de exercer suas atividades profissionais em todo o território nacional por 30 dias.
O pior golpe, porém, se deu em 1974, quando Wilson Simonal foi preso pela acusação de extorsão mediante sequestro de seu contador. Erlon ia visitar o amigo no presídio de Água Santa, quando, numa galeria comercial do Flamengo, reagiu a provocações de um passante.
Ela achava que o que estava acontecendo com o Simonal poderia vir a acontecer com ele e seus pares negros.
Três mil pessoas compareceram ao seu enterro, inclusive Simonal, sob escolta policial.
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