sexta-feira, 3 de março de 2017

Madureira e Oswaldo Cruz


Com a dobradinha campeã do Carnaval, Portela e Império Serrano, dois bairros vizinhos, de histórias parecidas e de mesma origem, vêm à tona: MADUREIRA  e OSWALDO CRUZ. Localidades bucólicas do século XIX, com propriedades simples, acolhedoras e enfeitadas por mangueiras e abacateiros, que se transformaram em  expoentes do subúrbio carioca.

Foto Augusto Malta
Parte do pátio da estação de Madureira em 1909.


No início do século XIX, o Rio de Janeiro, recém alçado à condição de sede do Reino, era fracamente povoado em seu interior, o chamado “sertão carioca”. Esta região era composta por grandes propriedades rurais.
“Sertão carioca” é como era chamada a Zona Oeste do Rio até os anos 1950. Foi esse o título de um livro publicado em 1936 pelo ilustrador Magalhães Corrêa, um retrato geográfico da antiga zona rural carioca, onde se vivia em casas de pau a pique feitas com bambu e barro em sua estrutura, e uma madeira mais sólida no esteio, a base da casa. Inúmeras ilustrações do autor – que se encantou com a região de tal maneira que, mais tarde, mudou-se para um sítio escondido por lá – são muito atuais.
O local onde hoje estão os bairros de Madureira e Oswaldo Cruz eram originalmente parte da Fazenda do Campinho , na Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá -  corruptela de termo tupi yra-yá, ou o "lugar de onde brota o mel" -  concedida a Dona Maria de Oliveira em 1617, e que passou às mãos do capitão Francisco Inácio do Canto, em 1800.

No vale do Rio das Pedras, mais a oeste da Freguesia do Irajá, situava-se a fazenda do português Miguel Gonçalves Portela - um grande engenho de cana-de-açúcar que produzia aguardente e rapadura. Conhecido como Engenho do Portela, a região passaria a chamar-se, já no século XVIII, Fazenda do Portela. O Engenho fazia limite com a propriedade de Lourenço Madureira,que tinha uma roça de mandioca e milho, fazendo prosperar as terras que arrendou do Capitão Inácio do Canto, o poderoso proprietário da Fazenda do Campinho.

Lourenço conquistou o respeito e a admiração da população local pelo grande desenvolvimento que levou para a região. A fama do boiadeiro também cresceu por conta do posterior litígio com a viúva de Inácio do Canto, Dona Rosa Maria dos Santos, falecida em 1846. A disputa transformou Lourenço no protagonista do primeiro processo legal por posse de terras no Rio de Janeiro, o que certamente granjeou alguma simpatia popular. 

Lourenço Madureira deteve a propriedade do imóvel até falecer, em 16 de fevereiro de 1851.Sua fazenda foi dividida em glebas que, mais tarde, deram origem à Madureira, fora ocupada por muitas chácaras, situadas entre os Engenhos do Portela e o Engenho de Fora.

Justamente numa dessas chácaras, pertencente à Dona Clara Simões, filha de Domingos Lopes - inventariante de D. Rosa - seria construída, em 1896, a estação de trem que recebeu o nome da benfeitora, pois Dona Clara cedera parte das terras para que se erguesse a estação, bem próxima da atual Estação Madureira. 

Lourenço Madureira deteve a propriedade do imóvel até falecer, em 16 de fevereiro de 1851.
Até essa época, o acesso àquelas paragens era feito a cavalo. Somente em 1858 é que os trilhos da Central do Brasil chegaram à região, mas a estação mais próxima era a do bairro vizinho, Cascadura. 
Foi preciso esperar até 1896 para que se construísse uma estação no local, a qual recebeu o nome de Madureira em homenagem ao boiadeiro, e que acabou originando o bairro de Madureira.



O bairro de Oswaldo Cruz também fez parte da Freguesia de Irajá, criada em 1644.

Em fins do século XIX e inícios do século XX, a economia de região, amparada pelo trabalho escravo, entra em crise e os antigos latifúndios começam a ser repartidos pela população pobre, em sua grande parte formada por pessoas marginalizadas pelas reformas urbanas que eram realizadas no centro da cidade, na gestão Pereira Passos.

Em 17 de abril de 1898, é inaugurada a Estação Rio das Pedras de trens, oito anos após a Estação Madureira, e um ano após a Estação Dona Clara. Essa estação foi construída na antiga chácara de Dona Clara Simões, daí o nome.

A Estação de Dona Clara foi inaugurada em 1897. Ficava num curto ramal que tinha a forma de um círculo, retornando à linha principal  - Linha do Centro -  percorrendo cerca de um quilômetro apenas. Esse ramal não existe mais, pois em 1937, com a eletrificação da Estrada de Ferro Central do Brasil, a Estação de Dona Clara foi desativada, já que os trens elétricos não precisavam dar a volta.

A partir daí, a história do bairro se confunde com a da estação ferroviária. Após a morte do médico e sanitarista Oswaldo Cruz, em 1917, a estação ganhou seu nome, e com o tempo este, acabou sendo atribuído também ao bairro ainda nascente. Ainda em 1917 os primeiros logradouros do bairro foram oficializados.

Madureira recentemente foi tema de samba de Arlindo Cruz, que a cantou em versos...


"O meu lugar,

tem seus mitos e seres de luz,

é bem perto de Oswaldo Cruz,
Cascadura, Vaz Lobo, Irajá...
...Ah meu lugar,
quem não viu a Tia Eulália dançar,
Vó Maria o terreiro benzer,
e ainda tem jongo a luz do luar...
...Em cada esquina um pagode um bar,
em Madureira.
Império e Portela também são de lá,
Em Madureira...
...E no Mercadão você pode comprar,
por uma pechincha você vai levar,
um dengo, um sonho pra quem quer sonhar,.
Em Madureira."




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