quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Anos 60...Rua Jaceguai, 27, onde nasceu boa música!


A Rua Jaceguai, 27, perto da Praça Varnhagen, 
no tradicional bairro carioca da Tijuca, 
abrigou um imóvel de dois andares 
que se tornaria importante para a MPB.





Foi por lá que nasceu -  na casa do médico psiquiatra Aluízio Porto Carreiro de Miranda  e sua esposa Maria Ruth -  um movimento artístico-cultural no final dos anos 60:  o MAU, MOVIMENTO ARTÍSTICO UNIVERSITÁRIO.

Em torno de 1961, Aluízio -  instrumentista do Cassino da Urca (década de 1940) e da Rádio Mayrink Veiga, na década de 1950 -  começou reunindo antigos companheiros e a partir daí a fama da boa música foi-se estendendo.  O casal começou a fazer rodas de violão e de bate-papo, frequentadas por Bororó, Cartola, Donga, João do Vale e Nássara.

Não demorou muito para que as filhas adolescentes, Regina e Angela, passassem a convidar os amigos. E assim, a nova geração passou a se encontrar  por lá, tendo o próprio Aluizio ao violão.

A casa foi ficando superlotada, os violões passando de mão em mão, enquanto era servida batida de maracujá feita num panelão e distribuída pelos copos com concha de feijão. Em ambiente de descontração, as pessoas cantavam em coro, até mesmo músicas proibidas na época, como "Guantanamera" e "Canção do subdesenvolvido".


As reuniões, sempre às sextas-feiras. 




Eram saraus, com violões e cantoria espontânea, nas quais os compositores mostravam suas músicas uns aos outros, em clima de incentivo à criatividade. O movimento gerou os Festivais Jaceguai, do Instituto de Educação. 

Seus principais integrantes, à época ainda universitários, foram

Ivan Lins, Gonzaguinha, Aldir Blanc, César Costa Filho, Sílvio da Silva Júnior, Sidney Mattos, Cláudio Cartier, Otávio Bonfá, Márcio Proença, Paulo Emílio, Cláudio Tolomei, Marco Aurélio, Sidney Matos e Ivan Wrigg. 
 Costumavam aparecer também
Nelson Panicali, Eduardo Lages, Ricardo Pontes, Wanderley Cunha, Darcy de Paulo, Wagner, Paulo Assis Brasil, José Mauro, Rolando Begonha Faria, Lucinha Lins, Flávio Faria, Luna Messina, Suzana Machado, Célia Vaz, Léa Penteado,  Omar, Adilson Godoy e Sílvia Maria. 

Os principais nomes do movimento participaram do Festival Universitário (que no início estava associado à TV Tupi do Rio de Janeiro), no final dos anos 60, e que foi vitrine do movimento.

Desde o início, as composições dos membros do MAU não estavam presas a um estilo fixo, ou seja, havia uma independência entre os seus membros tanto nos campos da estética quanto da política.

No I Festival Universitário da Canção Popular,  da Tupi, as 3 canções classificadas dos membros do MAU refletiram esta diferença.


  • Uma toada  - “Pobreza por Pobreza” (Gonzaguinha), defendida pelo próprio autor, continha todos os principais elementos da canção de protesto, pois tratava das dificuldades do sertanejo nordestino.
  • Um samba - “Meu Tamborim” (César Costa Filho e Ronaldo Monteiro dos Santos), conseguiu o 3º lugar, defendida por Beth Carvalho


  • Um partido alto  -  “Até o Amanhecer” (Ivan Lins e Waldemar Correia dos Santos)  que obteve o 5º lugar , defendida por Ciro Monteiro. 


Apesar das 4 edições do festival da Tupi (1968-1971) obterem pouca penetração popular e serem alvo de comentários que questionavam a qualidade musical dos mesmos, o seu papel para a divulgação dos membros do MAU foi vital.

Na segunda edição, em 1969, Gonzaguinha obteve a primeira colocação com “O Trem”, uma toada de protesto que retrata o sofrimento dos trabalhadores rurais e urbanos e dos desempregados, mas que enfrentou uma vaia estrondosa quando foi anunciada como a vencedora.



A favorita foi  a vibrante ( e para a qual eu torci!) "Mirante" , de Cesar Costa Filho e Ronaldo Monteiro de Souza, defendida por Cesar Costa Filho e a cantora Maria Creuza.





Ainda em 1969, o MAU desponta no IV FIC, Festival Internacional da Canção, realizado pela Rede Globo. Silvio da Silva Jr. e Aldir Blanc concorreram com “Serra Acima”, interpretada pelos Três Morais, que chegou à final.

Todavia, César Costa Filho conquistou o 3º lugar com “Visão Geral”, composta em parceria com Ruy Maurity e Ronaldo Monteiro de Souza.

“A rosa prosa bela
vem na primavera
e o jornal da tela
noticia a guerra” 





No Festival Universitário da Tupi de 1970, segundo Aldir Blanc e Silvio da Silva Junior, surge a canção-síntese do MAU: “Amigo é para essas coisas”, na interpretação do grupo MPB 4 e 2º lugar no Festival.


Também, os grande intérpretes da nossa MPB passaram a defender músicas do MAU nos festivais e a gravar essas e outras composições inéditas do grupo. 

Além do Soul e do Pop, a grande sensação do V FIC, em 1970,  foi o MAU. Premiados com o 2º lugar  - “O Amor é o Meu País”, de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza -  e com 4º lugar  - “Um Abraço Terno em Você, viu Mãe” , de Gonzaguinha -  e da classificação de “Diva” , de Aldir Blanc e César Costa Filho, o MAU chamou a atenção da TV Globo e das gravadoras.


Rapidamente a Rede Globo tentou recuperar o gênero musical na televisão brasileira, que estava desgastado desde o final da década de 1960. A nova empreitada global, se chamaria “Som Livre Exportação”, com a produção e direção de Solano Ribeiro, Walter Lacet e Eduardo Athayde.

Em 03 de dezembro de 1970, “Som Livre Exportação” estreava no horário nobre das quintas-feiras.

Contudo, os índices de audiência dos 4 primeiros programas desanimaram. Focar o MAU e os novos nomes não foi o suficiente para garantir uma espetacular audiência.  O principal patrocinador, a SHELL, sugeriu a contratação de Elis Regina como apresentadora fixa ao lado de Ivan Lins.

No início de 1971, a Rede Globo e a CBD (Companhia Brasileira de Discos) passam a dar uma maior atenção a Ivan Lins em relação aos outros membros do MAU e ele se tornou a imagem do programa e  alvo dos críticos, que o acusavam de “produtor musical de massa”.  Ivan Lins tornou-se um músico calcado na televisão, principalmente com a introdução de suas composições nas novelas globais.




Seu primeiro Lp “Agora” (Forma, 1971) chegou ao primeiro lugar no IBOPE, atingindo a marca de 70.000 cópias vendidas e




“Madalena”, (Ronaldo Monteiro de Souza e Ivan Lins) interpretada por Elis Regina, despontou.



Na renovação de contratos, somente Ivan Lins, César Costa Filho e Gonzaguinha foram mantidos. Com isso, o desaparecimento do MAU era previsível. No final de fevereiro, Ivan Lins anunciou a sua saída do MAU. Além de alegar falta de tempo, Ivan Lins justificou a sua saída através de criticas ao posicionamento do MAU em relação ao repertório e ao sucesso comercial.

Mas não demorou muito : o “Som Livre Exportação” foi cancelado em agosto de 1971, após o rompimento do contrato entre a emissora e Ivan Lins.

Pouco mais tarde Aldir Blanc fez a mesma trajetória e vários outros. Saíram do MAU. Estava decretado o fim do movimento, dos jovens egressos da Jaceguai  que vestiam coletes azuis( como podem ver no vídeo acima com todos em torno do piano de Ivan Lins, no Maracanãzinho,  no FIC de 1970).



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