Rua Carmen Miranda em 1936
Três dias após a morte de Carmen Miranda, o vereador do Rio, Geraldo Moreira, solicitou à Camara, através de requerimento, que fosse dado o seu nome à Travessa do Comércio, rua da hospedaria da família Miranda da Cunha - sua família - como justa homenagem da cidade àquela que " internacionalizou a música popular brasileira, contribuindo igualmente para o engrandecimento do nome do Brasil no exterior". Não houve concordância com o vereador, a proposta não foi concretizada e o nome de Carmen Miranda foi parar em uma rua no bairro do Jardim Guanabara, na Ilha do Governador.
Em 20 de setembro de 1960, um busto de Carmen Miranda trajando bata de baiana em babados e colares e com um turbante tutti-frutti, foi inaugurado no Largo da Carioca. No entanto, com a reforma do local na década de 70, o busto também foi transferido para a praça, na Rua Carmen Miranda.
Ah! Rua Carmen Miranda...
Pra ali me mudei aos 14 anos. Rua linda, cheia de verde. Uma ladeira íngrime e sinuosa, no final da Praia da Bica, ligando o Jardim Guanabara ao Cacuia.
Hoje, provavelmente não é mais assim, mas era uma rua só de casas e muitos terrenos vazios. Logo na subida tinha a casa da árvore. Sim, ela era dentro da casa. O projeto a incorporou, para aproveitar o terreno, e deu o toque diferente que marcava a construção. Aí a rua começava uma curva ascendente à direita e depois reta para cima e bem lá no final começava a descer.
Ufa! Como era difícil subí-la, a pé - e como fazíamos isso - na volta da praia com o sol a pino. No tempo em que não se bronzeava, mas sim se torrava com óleo Johnson e muito iodo - ou com o Rayto del Sol - pra ajudar. Tempos de uma Praia da Bica, como praia, e muitas conchinhas e cascalhos na sua areia. Tempos do encontro com as pessoas da turma, pra muita conversa fora.
No meio dessa subida íngrime ficava a pracinha, à esquerda, e lá estava o busto da Carmen Miranda, desdenhado pela cidade e orgulhosamente acolhido pela Ilha. Aliás, sempre enchi a boca para falar que morava na Rua Carmen Miranda. Minha casa era enorme, principalmente pra quem vinha de um apartamento.
Tinha caramanchão e até laguinho com chafariz no jardim.
Ah! Rua Carmen Miranda! Da iluminação em estilo de lampiões, que deixavam a rua romanticamente pouco iluminada - sem as preocupações atuais com segurança - e se via, sempre, um céu apinhado de estrelas, onde se procurava constelações. Do guarda noturno que passava à noite e apitava. Das corujas que vinham pousar, serenas, no parapeito do muro e ali ficavam com seus olhares enigmáticos. Do calçamento em paralelepípedos. Andávamos no meio da rua, sem muitos carros ou trânsito, pois faltavam calçadas. Só algumas, em frente às poucas casas que existiam.
Ah! Rua Carmen Miranda! Do lindo amanhecer, que via da janela, dourando o céu e animando o nascer do dia, que começava cedo, ainda de noite, pra pegar o ônibus e dar tempo de chegar na hora, no colégio ou depois na faculdade, apesar do engarrafamento da Avenida Brasil.
Ah! Rua Carmen Miranda! Da fauna curiosa de lagartos e gambás, que atrevidos insistiam em atravessar a rua, durante sua caminhada, ou até invadir a casa , pra sustos e arrepios.
Ah! Rua Carmen Miranda! Do cheiro de mato, dos flamboyants vermelhos e alaranjados, das normas apinhadas de suas flores rosas e do capim alto - e até bonito - que embalançava ao vento!
Ah! Rua Carmen Miranda! Das casas em estilo alemão, ou das varandinhas antigas, e das escadas pelos terrenos inclinados da topografia local; dos atalhos pela Rua Conquista ou pela Rua Porto Seguro, para cortar caminho. Do padeiro que passava pela porta, e sua cesta de pães e pães-doces.
Ah! Rua Carmen Miranda... de tantas recordações e saudades!
Nunca mais passei por lá, desde 1974, quando me mudei. Sei que deve estar tudo muito diferente, mas gosto de guardar as imagens desse tempo. Desses sete anos mágicos que por lá vivi.
Hoje Carmen Miranda faria 100 anos e minha homenagem a ela fica por conta de um tempo maravilhoso que vivi na rua com seu nome, com o mesmo astral animado dela, e com sua bênção, tenho certeza.
VIVA CARMEN MIRANDA!
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Maravilha, Beth!!!! Lindo de morrer!
ResponderExcluirVc vai ter que juntar essas maravilhas todas num livro, logo,logo
Alda Rosa - jornalista-Rio (em estado de graça).
Belo texto. Com um sabor poético
ResponderExcluirvc descreveu a Rua Carmen Miranda. Eu adorava essa cantora e estive no velório dela, na Câmara dos Vereadores.
Prezada Beth, como vai? Moro na Rua Conquista, primeira à esquerda, subindo a Carmen Miranda pela Praia da Bica. Moro em um condomínio construído no local onde ficava aquele casarão da primeira foto. Ainda temos os gambás, os miquinhos, os gaviões, os patos, os biguás, os morcegos etc. A Rua Porto Seguro continua lá também, cortando o caminho! Moro aqui desde que nasci há quase 48 anos atrás! Amo esse lugar! Identifiquei-me sobremaneira com seu texto! Escreva um livro! Ótima sugestão da Sra. Alda Rosa! Bjs carinhosos! Carla Terra.
ResponderExcluirObrigada pelas palavras. Curioso ver que o post de 11 anos atrás ainda é lido. São os caminhos da internet. Se não me engano a casa da esquina era da família Zink, um dos filhos, Erwin, fazia parte de uma turminha de praia que tínhamos. Na Porto Seguro, quase na esquina com a Carmem Miranda morava dona Leda e os três filhos. Rodolfo e a Roseane também faziam parte dessa turminha. Pessoas que ficaram num passado e lembranças. Como naquela época máquina fotográfica era raro, não temos registros dessas pessoas e momentos saborosos.
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