quarta-feira, 22 de julho de 2009

Cidade Mulher

Alvaro Moreyra poeta, cronista e jornalista brasileiro, nasceu em Porto Alegre mas escolheu o Rio de Janeiro para viver. Aqui modificou voluntariamente o longo nome de família para Alvaro Moreyra, com y, para que esta letra "representasse as supressões" destes nomes.
Fundou no Rio, em 1927, o "Teatro de Brinquedo", o primeiro movimento estruturado no país para a renovação do teatro.
A partir de 1942, teve destacada atuação no rádio brasileiro, onde escrevia crônicas e as interpretava.
Era casado com Eugênia Moreira, uma líder feminista, e sua residência em Copacabana era ponto de encontro de escritores e intelectuais.

Abaixo, o belo texto de Alvaro Moreyra sobre a cidade do Rio de Janeiro, que vale a pena reproduzir!

Cidade mulher... Mas, mulher, por que?... Por isso mesmo....
Porque a terra carioca quebra o corpo a qualquer definição, nenhum julgamento a apanha, nãose pensa sobre ela, sobre ela não se têm idéias...
Cidade mulher.
Bonita. Sem a teimosia do tempo, que desmancha todos os prazeres... Cada vez mais moça.
Os dias passam e não se parecem. Os dias. As noites não contam. As noites do Rio são escandalosamente iluminadas, continuam, com menos barulho, as anedotas das horas de sol. As noites do Rio são dias de portas fechadas, dias fazendo a sesta...
Cidade mulher... Sentimento solto, das florestas aos centros atropelados, dos morros coloridos às praias...
Os atores se confundem com os cenários. É tudo uma coisa única. Gente e paisagem. Unia coisa única, a melhor do mundo: - Mulher...Deram-lhe um patrono do céu: São Sebastião. Mártir. Patrono de mulher. Destino de Santo. Vão perguntar a São Sebastião se ele quer outra vida...
Um sorriso desce das nuvens. Sobe um sorriso das ondas. O ar está sempre sorrindo...
Às vezes, faz frio, por acaso. De propósito, faz calor, às vezes. Tal qual na primavera. A primavera é a estação da Cidade Mulher. A estação onde a Cidade Mulher desceu e de onde nunca mais partiu. A culpa não foi dela...
Chegam, de quando em quando, uns ventos malucos do mar. De quando em quando, lá em cima. a claridade se fecha. As chuvas desabam como lágrimas. Desabam raios como desaforos. Histerismo. O vago e o simpático que deixam de ser assim... Sem importância. A calma não tarda. A saúde volta, volta a alegria. Despreocupada, contente, a Cidade Mulher abre os braços...
E de braços abertos espera os turistas com a velha hospitalidade brasileira, a ultima tradição que sobrou de tantas tradições que não adiantaram nada..

2 comentários:

  1. Que maravilha, Elizabeth.
    Em Portugal, temos uma linda música sobre Lisboa e há tempos que queria ver algo assim, sobr eo RJ. Adorei.
    Beijinhos

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  2. Beleza, Elizabeth. Obrigado !

    Gil

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