O
primeiro recolhimento feminino sediado na cidade do Rio de Janeiro foi o
de Nossa Senhora da Ajuda, que teve sua fundação solicitada à realeza
portuguesa por representantes da elite colonial. O principal agente nesse processo foi uma mulher: D. Cecília Barbalho, que teria oferecido recursos do seu próprio bolso às autoridades eclesiásticas locais, para a construção da instituição que seria destinada a abrigar mulheres influentes
da cidade.
Assim,
em 1678, junto à ermida da Ajuda, localizada no Largo da Mãe do Bispo,
atual Cinelândia, ergueu-se a casa da recolhimento que, inicialmente
abrigou Cecília, suas três filhas e outras duas meninas de famílias
igualmente importantes da cidade.
Em 1750, a casa de recolhimento seria transformado em mosteiro, por autorização da Coroa.
" D. Cecília Barbalho desejava
retirar-se do bulício do mundo."
(Convento da Ajuda, por Vieira Fazenda)
À direita, o prédio do antigo Convento da Ajuda,
no local onde, hoje, fica a Cinelândia.
Infelizmente, as casas de recolhimento serviram, também, como mais um instrumento de pressão social contra a mulher, durante o longo período que se estende da colônia até fins do século XIX. A ameaça de recolhimento lançada às mulheres, brancas ou negras, em caso de qualquer desobediência doméstica, foi uma constante até o pensamento liberal-iluminista aqui chegar, com sua crítica à vida religiosa em clausura e à condição social parasitária da mulher, o que levou os conventos e recolhimentos à acentuada decadência, sobretudo na capital. Foi o lado sombrio do convento, usado como prisão para filhas
desobedientes esposas que se rebelavam contra o marido.
No entanto, em resposta a essa condição de confinamento obrigatório, o Convento da Ajuda ficou famoso por suas transgressões às regras
monásticas de recato e austeridade. Lá as monjas revertiam a situação
em que se encontravam por decisão familiar. Não deixavam, contudo, de
sofrer represálias pela conduta desafiadora.
Como essas monjas vinham dos altos
extratos da sociedade colonial, elas reproduziam no convento os hábitos de suas vidas : eram servidas por escravas, vestiam jóias e roupas
luxuosas e mantinham longas conversações com visitantes nos locutórios,
muitas vezes contando com apresentações de peças de teatro e números
musicais para entretê-las.
Com o passar do tempo, as freiras da Ajuda ficaram conhecidas pelos seus
dotes culinários, especialmente os doces, encomendados por ocasião dos
mais diversos festejos, principalmente no século XIX.
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