O ano de 1808 marca o início da imprensa no Brasil, mas até meados do
século XIX só surgiam, pelo país, jornais organizados por homens com conteúdo,
em geral, voltados ao público masculino.
Apenas em 1852 surgiu o JORNAL DAS SENHORAS, periódico organizado
e dirigido por mulheres no Brasil, publicado na cidade do Rio de Janeiro entre
os anos de 1852 e 1855.
A
Corte, capital do Império, em meados do século XIX, passou por um remodelamento
espacial. Com o excedente de capital resultante do fim do tráfico negreiro,
houve a implantação do sistema de esgotos e da iluminação a gás e, com isso,
surgiram novas formas de sociabilidade para as mulheres e crianças. As famílias
de elite passaram a frequentar o Passeio Público, a rua do Ouvidor, onde havia
confeitarias e lojas elegantes. Nesse contexto, o Jornal das Senhoras,
propiciava às mulheres lerem folhetins franceses, como "A Dama das Camélias", de
Alexandre Dumas, tocar partituras de piano, ter acesso a figurinos de moda
franceses e debater a emancipação moral da mulher mediante a
educação.
A criadora e primeira diretora do JORNAL DAS SENHORAS foi a
argentina Joanna Paula Manso de Noronha, que permaneceu seis meses na
direção e depois a deixou para Violante Atalipa Ximenes de Bivare
Vellasco, sua colaboradora. Defensora da inteligência feminina, Joanna queria convencer a todos de que "Deus deu à mulher uma alma e a fez igual ao homem e sua companheira".
Apesar de não ter atingido toda a sociedade carioca o JORNAL DAS
SENHORAS deixou sua marca. A marca de redatoras
que contestavam o domínio masculino na direção dos veículos de imprensa, com
linguagem intimista buscando a aproximação das leitoras, e que embora ainda receosas
com a liberdade imposta pelo jornal, a marca de mulheres que participavam do jornal
mandando artigos anônimos ou usando nomes falsos.
Pioneiro o JORNAL DAS SENHORAS sofreu oposição mesmo na capital do país.
Foi alvo de críticas de ambos os sexos e encerrou suas edições em 1855, três
anos após a sua fundação.
A última edição do JORNAL DAS SENHORAS foi em 30 de dezembro de 1855, que tinha o informe
A última edição do JORNAL DAS SENHORAS foi em 30 de dezembro de 1855, que tinha o informe
“ apenas uma parada, que julgamos necessaria,
no próximo anno de 1856;
e com o favor de Deus
o Jornal das Senhoras reapparecerá em 1857"
O jornal não voltou e apesar do pouco tempo de duração foi significativo
para a sociedade carioca, influenciando os costumes, com características
culturais de outros países e possibilitando novas experiências. As redatoras buscaram questionar o papel das mulheres em
sociedade e ao mesmo tempo expor valores que eram entendidos como os melhores a
serem vivenciados no país.
O JORNAL DAS SENHORAS esteve à frente do seu tempo propondo uma emancipação
moral e intelectual da mulher, destacando a importância da sua educação e
criticando a ideia de que a mulher era propriedade masculina.
Vale muito a pena passear pelas edições, que estão disponibilizadas na Hemeroteca da Biblioteca Nacional.
EM TEMPO: agradecemos ao amigo leitor do blog Vitor Floresta de Miranda. que sugeriu o tema.
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