domingo, 1 de janeiro de 2012

1° de janeiro e o telégrafo submarino em Copacabana



Em tempos de internet e a velocidade da informação, a data de hoje nos lembra o telégrafo, que foi a primeira tecnologia de informação utilizada em rede mundial.

Em 1° de janeiro de 1874 era inaugurado o telégrafo submarino entre Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Pará, partindo de Copacabana.

Pedro II saudou, via telégrafo, esse "tão fausto acontecimento", salientando a importância da "eletricidade [que começava] a ligar as cidades mais importantes deste vasto Império, como o patriotismo reúne (sic) todos os brasileiros no mesmo empenho pela prosperidade da nossa majestosa Pátria". 

Assim era Copacabana a esse tempo.





Foi Dom Pedro II, em 1873, quem deu a concessão para que a empresa inglesa se instalasse no Brasil. A Western pertencia ao grupo Cable and Wireless, com sede em Londres. A autorização foi para um prazo de cem anos.

O lançamento do primeiro cabo submarino no Brasil envolveu negociações entre o imperador Dom Pedro II, os reis de Portugal e da Itália, o presidente do Haiti e o Barão de Mauá.

No Natal de 1873, chegava ao Rio o cabo de telégrafo submarino. O navio Hopper precisou ser rebocado até a Praia de Copacabana, onde se encontrava o imperador com sua comitiva.

Sua difusão e seu desenvolvimento criaram uma cultura própria, com vocabulário, linguagem, ritmo e formas de comunicar compartilhados por milhões de pessoas em todo o mundo. Ao longo de um século e meio, o telégrafo incorporou-se ao cotidiano ao lado de outros sistemas tradicionais de comunicação ainda hoje em uso, como o telefone e o rádio, por exemplo. 

Acima de tudo, o telégrafo transformou a forma de comunicar e informar, acelerou o tempo vivido, apressou a circulação das notícias e, principalmente, mudou o modo de descrever os acontecimentos. Após sua apropriação pela imprensa empresarial — por meio de seções para notícias telegráficas, a colaboração de correspondentes e a compra de informações via agências internacionais de notícias —, os leitores de periódicos não teriam mais paciência ou interesse para longos relatos, dados minuciosos sobre local, personagens, sentimentos, etc.

 Depois do telégrafo, a notícia seria breve, seca, rápida, telegráfica.


No mesmo dia, os primeiros sinais foram transmitidos para a Bahia. Seis meses depois, o Brasil fazia a primeira ligação para a Europa. Tratava-se de uma mensagem do imperador para a rainha Vitória e ao rei Dom Luís, de Portugal.

Em 1853, dentre as propostas recebidas para a instalação de um cabo submarino no Brasil, estava uma que faria a ligação do Rio de Janeiro, Recife e Belém com a Europa.

Depois de muitas concessões que não foram a frente, a 16 de agosto de 1872, o Decreto 5.058 concedeu ao Barão de Mauá o privilégio, por 20 anos, para lançar cabos submarinos e explorar a telegrafia elétrica entre o Brasil e a Europa. Finalmente, a 22 de junho de 1874, o Brasil era ligado à Europa pelo cabo submarino. Nesse dia, por seus serviços prestados, o Barão de Mauá foi elevado a Visconde.

A primeira linha de telégrafo elétrico, concluída em 1852, ligou a Quinta Imperial ao Quartel General do Exército e foi justificada pela necessidade de expedir ordens rápidas para a repressão ao tráfico de escravos. Sua construção utilizou materiais e aparelhos adquiridos em Londres e formas compulsórias de trabalho, lançando mão dos presos da Casa de Correção. 

Portanto, as primeiras iniciativas para a instalação do telégrafo elétrico no Brasil surgiriam da associação entre a curiosidade de alguns poucos engenheiros e professores das Academias da Corte e as necessidades do governo imperial em agilizar o controle sobre o desembarque de escravos, que acontecia sem maiores atropelos até mesmo nas vizinhanças da Corte.

Durante os primeiros anos, o destino e a aplicação do telégrafo elétrico foi exclusivo do serviço de polícia da Corte, encarregado de analisar os lugares convenientes para a instalação de estações, bem como os locais onde "será colocada a administração do Telégrafo, e a força pública com o duplicado fim de prestar-se à guarnição da estação e serviço de polícia nesses lugares". Em seus primeiros passos, portanto, coube ao telégrafo uma função auxiliar ao serviço de policiamento da Corte, interligando através de suas linhas e estações, a Central de Polícia e todos os quartéis, arsenais da Guerra e Marinha, além do Paço da Cidade e os palácios de São Cristóvão e Petrópolis.

Somente cinco anos depois de instalada essa primeira linha o serviço telegráfico seria franqueado a particulares — com a regulamentação do serviço de telegramas pagos —, tendo início a exploração comercial do telégrafo no Brasil.

Por mais uma década ainda a comunicação telegráfica não mereceria a confiança dos habitantes da Corte, que mantiveram inalterado o hábito secular de remeter os recados através de mensageiros. Vítima de preconceitos e reclamações sobre sua ineficiência e até de descrença sobre a possibilidade de trocar mensagens através de um fio eletrificado, o telégrafo não passaria, para muitos, de truque, ilusionismo e efeito de mágica. Estas desconfianças justificariam o pequeno volume de correspondência telegráfica, chegando a ameaçar o fechamento de algumas estações telegráficas.

A utilidade do telégrafo só seria comprovada no "teatro da guerra" com o Paraguai, onde as linhas telegráficas montadas para a campanha mostrar-se-iam eficientes para orientar o rápido avanço das tropas e para a redefinição das estratégias militares. Aqui, ao contrário do que ocorreu na Europa, foi a experiência extrema da guerra que tornou evidente a necessidade de comunicações ágeis para a administração do território. A experiência da guerra evidenciou a precariedade das comunicações com o centro-sul do país, a fragilidade da defesa das fronteiras imperiais e, principalmente, quanto o telégrafo poderia auxiliar na solução desses problemas.

A conquista da "telegrafia transatlântica" através de cabo submarino uniu, em 1866, a América à Europa e permitiu que o velho e o novo mundo pudessem conversar, ainda que separados pela imensidão do oceano. 

No Brasil, esse acontecimento foi apresentado como uma possibilidade para a sua emancipação política e econômica, na medida em que o telégrafo poderia torná-lo "vizinho da Europa", modificando todas as suas relações com o exterior, além de favorecer a "direta comunicação" do governo com seus auxiliares e dos produtores com os consumidores, auxiliando eficazmente o desenvolvimento do país.

Decorridos pouco mais de dez anos da introdução do telégrafo elétrico no Brasil, cujas linhas estendiam-se pouco além dos arredores da Corte, já se sonhava com a comunicação rápida e direta entre as províncias brasileiras e destas com a Europa e a América.

Fonte: Museu Imperial

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