A QUESTÃO DOS TELEFONES
Crônica de Lima Barreto publicada em
1921
Andam sempre os jornais com uma
birra, uma briga por causa do serviço telefônico desta cidade. Implicam sempre
com a Light, mas creio que esta poderosa companhia é simplesmente pseudônimo de
uma outra que tem um nome alemão.
Das muitas inutilidades que, para mim, está
cheia esta vida, o telefone é uma delas. Passam-se anos e anos que não ponho um
fone ao ouvido; e, de resto quando me atrevo a servir-me de um desses aparelhos,
desisto logo.
Entre as razões está a que não compreendo absolutamente a
numeração das moças do telefone. Se digo seis qualquer coisa, a telefonista
imediatamente me corrige: meia dúzia qualquer coisa. Não quero expor a minha
sabedoria em elementos de aritmética; mas meia-dúzia é uma coisa, pois nunca vi,
dizer meia dúzia vinte e sete e sim seiscentos e vinte e sete.
Esta é uma das
minhas quizílias com o telefone. Uma outra é a tal história: “está em ligação”;
e há mais.
De forma que muito me surpreende esse interesse dos jornais por esse negócio de telefones.
Observei, porém, que as moças gostam muito de falar no aparelho.
Não se entra numa casa de negócio de qualquer ordem que não se encontre uma dama a falar ao fone:
– Minha senhora, faz favor?
De forma que muito me surpreende esse interesse dos jornais por esse negócio de telefones.
Observei, porém, que as moças gostam muito de falar no aparelho.
Não se entra numa casa de negócio de qualquer ordem que não se encontre uma dama a falar ao fone:
– Minha senhora, faz favor?
– Sete meia dúzia três,
Vila.
– ?
– Sim, minha
senhora.
Durante cinco minutos a dama troca com a invisível Alice frases ternas e dá risadinhas. Perguntei a um negociante da minha amizade:
– Que querem essas moças tanto com o telefone?
– Não sei. Há dias que é um
nunca acabar... Formam uma fileira que nem em bilheteria de teatro em dia de
espetáculo... Na semana passada, quase perdi um negócio urgente e do meu
interesse, porque tive de esperar que mais de vinte “freguesas” dessas, dessem o
seu recadinho ao aparelho... Levaram, todas, cerca de meia hora ou mais.
– Então é por isso que os
jornais tanto nos atazanam com essa questão do telefone, de Líght? Servem as
senhoras ...
– Qual o que! fez o negociante.
– Então, porque é?
– A questão é o preço do aluguel
dos aparelhos e essas meninas são freguesas de graça que, às vezes até, nada
compram na casa.
Fica, para mim, ainda insolúvel essa questão de telefone.
Cara Elizabeth,
ResponderExcluircheguei até você através do seu blog : "É o Rio que mora no mar", bem gostaria da sua colaboração no meu livro:Logos Cariocas da Gema. Preciso tirar algumas dúvidas numa parte da história sobre alguns logos utilizados pela prefeitura do Rio.
Meu email: betollima@yahoo.com.br
Grato,
Beto Lima