domingo, 11 de janeiro de 2015

A partir de hoje, nessa semana do nosso Padroeiro,
vou compartilhar também
com vocês algumas histórias da nossa cidade 
pelo olhar de amigos do blog, amigos da cidade do Rio, 
que nos dão, nos dias de hoje, relatos cariocas de fatos e sentimentos 
ligados à cidade do Rio 
e nos fazem ver, conhecer, compreender e saborear o ontem 
e do porque essa cidade é
a Cidade Maravilhosa.

"BOSSA NOVA, finalmente, apagará velinhas
no DIA DE SEU ANIVERSÁRIO  


Carlos Alberto Afonso, em 6 de janeiro de 2015

www.facebook.com/carlosalbertoafonsotoca
 


Um dos rascunhos que nossa geração precisava passar a limpo diz respeito, exatamente, a sua última formulação cultural (até o momento), que se deu no âmbito da linguagem musical e atende pelo convencionado nome de BOSSA NOVA. Aliás, eu jamais vi, seu idealizador utilizar-se da expressão BOSSA NOVA.

"Eu sou Músico de Samba !" tem sido minha experiência máxima como revelação de JOÃO GILBERTO, talvez, até, por medida corretiva da habitual denominação deste comportamento musical formulado com o objetivo de ser alternativa execucional do SAMBA.

Quem sabe os cuidados sempre cirúrgicos embutidos na discrição de JOÃO GILBERTO prevenissem a sempre indesejada intervenção do mercado ? Mas o fato é que, como adverte TOM JOBIM - o TOM NOSSO DE CADA DIA - entre charmosas gaguejadas em depoimento (não me lembro se ao Roda Viva com Maria Luiza Kfouri) " Quem inventou esse esse negócio de de BOSSA NOVA foi o JOÃO GILBERTO "

 Uma canção parecida prédestinada aos pioneirismos da BOSSA NOVA : Chega de Saudade.
Poderia até ser qualquer outra, visto que BOSSA NOVA não é uma propriedade das canções, mas o comportamento musical em suas execuções, como nos ensinou (fazendo, sem discurso) seu Arquiteto nº 1, gravando ARY BARROSO e NOEL ROSA, além de canções estrangeiras previamente escorregadas para o samba ou samba canção, lembrando-nos que, para a BOSSA NOVA não importa 'onde' ou 'quando' nasceu a canção, pois, se, por um lado, é a canção quem materializa a música, BOSSA NOVA é sua forma de execução ( como o são o Choro e o Jazz).
Dolores Duran não pode atender ao convite para gravar o LP Canção do Amor Demais, reunindo parcerias de Tom e Vinicius e... lá está a Divina Elisete (Sérgio Cabral em sua biografia nos ensina esta grafia), cantando, entre outras, "Chega de Saudade", Samba Choro de canto convencional, voz acentuada e distante do padrão estético do samba bossa nova. Entretanto, um primeiro vagido da Bossa pintou naquela gravação e se repetiu em (sem trocadilho) OUTRA VEZ, no mesmo álbum.

É que o VIOLÃO desses dois registros era o mesmo e atendia pelo nome de JOÃO GILBERTO, que, ao invés da batida contínua convencional no acompanhamento do samba clássico, introduzia uma novidade : A PAUSA. E eis a contribuição de JOÃO no disco de Elisete : o primeiro vagido anunciando trabalhos de parto, que só viria a se consolidar alguns meses mais tarde, quando, aí, sim, o próprio JOÃO GILBERTO cantava, tocava e materializava o quadro estético durante anos por ele formulado, contando com a co-arquitetura de TOM JOBIM.

Este documento tem gravadora, tem número e tem data. 

E este DOCUMENTO FONOGRÁFICO marca factualmente o nascimento da BOSSA NOVA em exercício pleno de rebento formado. Dali para diante, engenheiros geniais como Carlos Lyra, João Donato, Roberto Menescal, Durval Ferreira, Oscar Castro Neves além de outros músicos - sempre músicos, forma de execução que é - construiriam a BOSSA NOVA segundo Projeto e os planos arquitetônicos de seu idealizador e seu co-formulador : JOÃO GILBERTO e TOM JOBIM.

Pois tenho o prazer de informar aos amigos que, no último dia 22 de dezembro, às 20h30, antes de comprar as castanhas, solicitei à Câmara de Vereadores de nossa amantíssima Cidade, o reconhecimento de 10 de julho como o histórico aniversário da BOSSA NOVA.

 A iniciativa só abrange a instância local e estimo que, a partir desta histórica e universal verdade, outros legislativos possam fazer o mesmo com vistas ao instrumento educacional da MONUMENTALIZAÇÃO, pois se as ESTÁTUAS SÃO AS DATAS NO ESPAÇO, AS DATAS SÃO AS ESTÁTUAS NO TEMPO.

Em 1993, para engajar o poder público nos âmbitos da Educação e da Cultura, conseguimos que o então Prefeito Cesar Maia insituísse o Ano Vinicius de Moraes na Cidade do Rio de Janeiro ; mais tarde, conseguimos que o novamente Prefeito do Rio Cesar Maia, com os mesmos objetivos institucionais, reconhecesse, por Decreto, 2008 ANO DA BOSSA NOVA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO (era o cinquentenário da Linguagem) e, ainda em 2007, conseguimos do mesmo Prefeito o reconhecimento justo - apesar do natural sentimento local - da BOSSA NOVA PATRIMÔNIO CULTURAL CARIOCA.

Em 22 de dezembro último, batemos na porta do agora Vereador Cesar Maia, que, já conhecedor de nossa trajetória e de nossos cuidados, acolheu, imediatamente, nosso pleito e deu início ao seu exame.

Eis aí, portanto, um presente de porte histórico para o Rio 450, que, apesar de tão importante quanto o Rio 449 ou que o Rio 451, crescerá em importância mais lá adiante, na hora em que a história peneirar os acontecimentos e, muito naturalmente, selecionar as substâncias.

Aos 57 anos de idade, a BOSSA NOVA apagará velinhas, pela primeira vez, no próprio dia em que nasceu.

Viva o Rio de Janeiro, 
Viva a Bossa Nova, 
Viva Tom Jobim, 
Viva João Gilberto, 
todos os demais músicos 
e, também, compositores e letristas, 
que compuseram algumas das canções 
mais frequentemente executadas 
pela forma BOSSA NOVA 
 de executar o SAMBA."

Carlos Alberto Afonso é idealizador da Livraria de Música
Toca do Vinicius
fundada em 27 de setembro de 1993 -  e dos projetos culturais Museuzinho Bossa Nova Ipanema RIO e da Calçada da Fama de Ipanema, com sede na rua Vinicius de Moraes, 129 C, no bairro carioca de Ipanema.



FOTOS: 

Acervo Museuzinho BossaNova-Ipanema Rio - Reprodução
  78 rpm Chega de Saudade / BimBom ,de 10 de julho de 1958

Carlos Alberto Afonso com o
Master de Canção do Amor Demais, doação Ruy Castro

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