Visitar Ipanema é bom, mas nela viver é especial. Como um dia disse Carlos Lyra,
É mais que um pedaço
É um braço do Rio
Tão carioca
Que desemboca no mar,
Os índios tamoios foram os primeiros moradores desse local a que deram o nome de Y-panema - água imprestável, ruim para a pesca.
Mas foi um certo barão, o de Ipanema, José Antônio Moreira Filho, que ao herdar do pai, em 1886, um desvalorizado areal da Fazenda Copacabana, decidiu explorar a área, comercialmente, lançando, em 1894, um empreendimento imobiliário, com o coronel José da Silva, seu sócio. Com 19 ruas e duas praças, surgiu, então, o loteamento Villa Ipanema.
Algumas ruas tiveram seus nomes dados em homenagem à família do Barão , como a Alberto de Campos e a Montenegro - atual Vinícius de Moraes – seus genros .
Num primeiro momento, ninguém quis morar no local, considerado longe demais, pois até lá só era possível ir de canoa ou a pé. A partir da chegada dos bondes, o bairro chamou a atenção, o negócio deslanchou e o barão começou a vender suas terras, principalmente a imigrantes.
Em 1927, as ruas Vieira Souto, Maria Quitéria e Prudente de Morais foram iluminadas com luzes incandescentes, atraindo ainda mais a atenção para a região. A partir daí, não demorou a acontecer o boom do bairro: foram inaugurados colégios (como o Notre-Dame e o São Paulo) e construído o prédio Issa, o primeiro com dois pavimentos.
Criar modismos sempre foi a principal marca do bairro. Muito antes da Rose di Primo - a criadora da tanga - e da revolucionária Leila Diniz, ao desfilar sua barriga de grávida, já em 1915, a bailarina americana Isadora Duncan nadava nua em suas águas.
Na década de 30, a chegada dos grandes cinemas – Cine Ipanema, Cine Pirajá, o Pax e o Cine Astória e o surgimento dos bares Jangadeiros, Zeppelin e Berlim (depois Bar Lagoa), tornaram Ipanema uma das melhores opções para boemia e para o lazer. Vocação confirmada, no final dos anos 60, pela inauguração do Teatro de Bolso e a transferência da atual feira Hippie – Feira de Arte que ocorria no Museu de Arte Moderna (MAM),para a praça general Osório.
Nos anos 60, Ipanema virou objeto de exportação. Foi lá que a bossa-nova se estabeleceu e a Banda de Ipanema passou. As moças do Castelinho acabaram descobrindo que bom mesmo era dividir o maiô no meio, se lambuzar com Rayto de Sol, jogar frescobol na beira da água, catar tatuí na areia e acompanhar os meninos de cabelo comprido, que seguiam para surfar as ondas.
O Castelinho era uma construção, no Arpoador, em estilo mourisco feia pra dedéu – gíria ipanemense - construído em 1904 pelo cônsul da Suécia, Johan Edward Jansson, que acabou virando restaurante, um autêntico pé-sujo, onde o chope era mais barato, os pastéis mais crocantes e o papo muito mais animado. No Mau Cheiro, outro bar do Arpoador, a nata da intelectualidade se reunia para beber e discutir a política cultural do país.
No verão 68/69, diante de um pôr-do-sol daqueles, o jornalista Carlos Leonam não se conformou e disse: “Essa tarde merece uma salva de palmas!”. Imediatamente, o grupo em que estava na altura do Posto 9 - Glauber Rocha, Jô Soares, João Saldanha, entre outros - deu início aos aplausos. Repetido e consagrado, mais tarde, em comercial de TV.
A praia dos anos 70 viu as dunas do barato , o local de encontro da geração desbunde, e dos 80, nascer nas suas areias o Circo Voador e o jornalista Fernando Gabeira chocar o Posto 9 usando uma tanga de crochê da sua prima, a jornalista Leda Nagle.
Ipanema ainda teve verões marcantes como o da lata e o do apito. E se tornou o maior pólo de moda do Brasil, com lojas, que ficaram para a história como Bibba, Blu Blu, Lelé da Cuca , Yes Brazil, Ethel e Company.
Aí surgiu uma canção, inspirada numa moça que passava freqüentemente em frente ao Bar Veloso, na esquina da rua Montenegro e Prudente de Moraes. Ela encantou Tom Jobim e Vinícius de Moraes que estavam sempre no bar e surgiu Garota de Ipanema, música que ganhou o mundo. Quem era a garota? Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, que morava na rua Montenegro, nº 22 – próximo ao bar - e somente dois anos e meio depois, já com namorado, ficou sabendo que era a inspiração do sucesso. Quando se casou, Heloísa convidou Tom Jobim e sua esposa Thereza para serem padrinhos.
Essa província independente que influenciou hábitos e costumes, foi referência e unanimidade. Não há hoje, no Brasil, uma praia habitada que não tenha biquíni, surfe ou vendedor de sanduíche natural. Graças a Ipanema.
Hoje não tem mais tatuís . As dunas do Píer também não. Nem as empadas do Mau Cheiro, o bonde 12, nem a rua Montenegro, nem o Veloso. Nem a Churrascaria Carreta , a Sorveteria do Moraes e os cinemas de rua. Mas ainda estão em Ipanema a Casa Reis, a padaria Eldorado, a Chaika, o Honório e tantas outras novidades , que Ipanema inventa a cada dia, recriando suas esquinas, suas calçadas e sua praia.
Que continuam a ser, como nos versos de Tom Jobim, cenário de cinema...poema à beira-mar.
Muito bom! Pesquisa Nota 10.
ResponderExcluirEu vivi praticamente tudo q está escrito nesta edição do Rio q mora no Mar, pois nasci(1954)em Ipanema.
Detalhe, na Rua Nascimento Silva.
Parabéns! mais uma vez Beth.
Beijos Tininha
Adoreiiiiiiii
ResponderExcluirTeu blog é show, amiga.
Olha, achei umas fotos do RJ e te repasso o link:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=329317
Beijocasssssssssssssssssss
Gisele
adorei as informações sobre Ipanema. Em 1963/64, com poucos anos de casado, morei em Ipanema, na Rua Gomes Carneiro, em frente ao Supermado Disco. Nesse época ocorreu uma das maiores enchentes na cidade. Da Praça General Osório eu avistava o deslizamento do Morro Cantagalo e os barracos sendo arrastados. Meu primo morava na Barão da Torre e a lama que desceu do morro passou para o lado oposto da rua entrando nos prédios que tinham pilotis, inclusive onde ele morava. bloqueando a saída dos moradores. Eu havia pedido a transferência do meu telefone da Rua Barata Ribeiro e apesar de ter morado uns 2 ou 3 anos em Ipanema. o telefone não foi instalado, por falta de linha. Quando eu precisava fazer interurbano para Campo Grande, Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, me dirigia para o Posto Telefônico situado na Praça Gal. Osório. Fornecia à telefonista o número do telefone e a espera era de no mínimo 2 horas. Como as coisas evoluiram... Sinto saudades tempos de ipanemense. As suas msgs sempre me trazem boas recordaçoes. Abrs. Aristóteles
ResponderExcluirminha cara
ResponderExcluiro restaurante Renania virou Jangadeiros por causa da guerra em 1937
o Astoria é dos anos 40 e o Pax dos anos 50
esqueceu das batidas do bip bip
não é correção apenas imformação
um grande abraço