Soneto de Natal
Machado de Assis
Um homem, — era aquela noite amiga,Noite cristã, berço no Nazareno, —Ao relembrar os dias de pequeno,E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e amenoAs sensações da sua idade antiga,Naquela mesma velha noite amiga,Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha brancaPede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,Só lhe saiu este pequeno verso:"Mudaria o Natal ou mudei eu?"
Natal
Olavo Bilac
No ermo agreste, da noite e do presepe, um hino
De esperança pressaga enchia o céu, com o vento...
As árvores: "Serás o sol e o orvalho!" E o armento:
"Terás a glória!" E o luar: "Vencerás o destino!"
E o pão: "Darás o pão da terra e o pão divino!"
E a água: "Trarás alívio ao mártir e ao sedento!"
E a palha: "Dobrarás a cerviz do opulento!"
E o tecto: "Elevarás do opróbrio o pequenino!"
E os reis: "Rei, no teu reino, entrarás entre palmas!"
E os pastores: "Pastor, chamarás os eleitos!"
E a estrela: "Brilharás, como Deus, sobre as almas!"
Muda e humilde, porém, Maria, como escrava,
Tinha os olhos na terra em lágrimas desfeitos;
Sendo pobre, temia; e, sendo mãe, chorava.
Outra pérola do insólito Machado de Assis e do Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac.
ResponderExcluirParabéns pelos textos escolhidos.