segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Um ano com dois carnavais.


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CARNAVAL 2015


Não é de hoje que o carioca transforma adversidades em mote para exercitar sua vocação para a festa. 

Em 1912, a morte de um homem público querido de verdade – o barão do Rio Branco – teve um efeito dos mais inesperados:

um ano com dois carnavais.

 O inusitado fato foi cantado numa marchinha que ainda por cima serviu para a população se vingar de um governante não exatamente dos mais amados na capital da República, o marechal presidente Hermes da Fonseca:

Com a morte do Barão
Tivemos dois Carnavá;
Ai! Que bom! Ai! Que gostoso!
Se morresse o Marechá!

Na manhã de sábado, 10 de fevereiro de 1912, o Barão, que era ministro das Relações Exteriores havia dez anos, deu seus últimos suspiros no Palácio do Itamaraty, na rua Marechal Floriano.

 Barão do Rio Branco

O luto depressa tomou conta da capital. O comércio foi fechado e a população, consternada, se preparou para os funerais do diplomata que garantiu o Acre e muitos outros territórios para o Brasil. A Gazeta de Notícias informou que “toda a cidade estava assim: triste, triste de fazer chorar”.

Na terça-feira, o ministro foi enterrado, com todas as honras de Estado. Nesse dia, um boato corria a cidade: o carnaval, que começaria no domingo seguinte, seria adiado em respeito ao luto pelo Barão.

Os muitos jornais que circulavam pela capital se dividiram; autoridades se manifestaram; os presidentes de clubes e sociedades carnavalescas opinaram… A maior parte considerava um absurdo que os festejos de Momo se dessem sobre o túmulo ainda quente do herói brasileiro e defendiam o adiamento para abril. Outros contemporizavam, dizendo que o carnaval só começaria depois do luto oficial; assim, o adiamento era desnecessário. Um grupo, mais severo, ou doente do pé, dizia que o carnaval sequer deveria ser festejado naquele ano.

Durante toda a semana, houve incerteza em relação ao adiamento ou não da festa. Chefes de repartição disseram que iriam cobrar o ponto na segunda e na terça-feira. Presidentes de sociedades declararam que não iriam desfilar em respeito ao barão. Questionado, o presidente declarou para A Noite que o carnaval é “uma festa do povo; e ao povo que cabe adiar ou não”.
 
Quando chegou o domingo, o Centro estava cheio de foliões, muitos deles mascarados – que circulavam sobretudo na avenida que, apenas três dias antes, tinha ganhado seu nome atual, justamente em homenagem ao falecido: Rio Branco. Os bailes elegantes, os desfiles de carros das grandes sociedades – os Fenianos, os Democráticos e os Tenentes do Diabo – não aconteceram, mas a população não se absteve de seus três dias de festa em fevereiro. Os ranchos Pombinhos de Ouro e Heróis da Conceição, entre outros, desfilaram com garbo e elegância.

Os jornais reagiram com surpresa. O Jornal do Brasil declarou que tinha acontecido uma festa “absolutamente popular”. Diante disso, quem não brincou em fevereiro quis se vingar em abril.

O chefe de polícia, Belizário Távora, concedeu quase 300 licenças para desfiles de grandes e pequenas sociedades. Os bailes foram programados. Os ranchos que não saíram se prepararam para ir à avenida; os que saíram, para voltar. E, no sábado de aleluia, recomeçou a festa, com desfiles de agremiações como os Pingas Carnavalescas e os Resistentes da Piedade.

 O Correio da Manhã declarou sobre a movimentação na noite de segunda-feira:

“A Avenida! Que sonho! Que delícia! Que maravilha! Como era doce gozá-la na sua policromia de luzes, toda ela a vibrar apoteoticamente em honra a Momo!”.

E na terça-feira os Tenentes do Diabo encerraram a festa com um desfile de gala, com cerca de 15 carros, com destaque para uma alegoria em homenagem… ao Barão do Rio Branco.


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