sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

E assim nasceu um sucesso!



Essa história já é conhecida de muitos. Mas vale a pena repetir. É curiosa e marca o nascimento de um grande clássico da MPB.



Carinhoso , música de 1917, de Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana) só ganhou letra em 1937, de Braguinha (Carlos Alberto Ferreira Braga). A melodia foi mantida inédita por mais de dez anos. Assim Pixinguinha justificou o fato, no depoimento que deu ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, em 1968 :

Resultado de imagem para pixinguinha- " Eu fiz o 'Carinhoso' em 1917. Naquele tempo o pessoal nosso da música não admitia choro assim de duas partes (choro tinha que ter três partes). Então, eu fiz o "Carinhoso" e encostei. Tocar o 'Carinhoso' naquele meio! Eu não tocava....ninguém ia aceitar".

O jovem Pixinguinha, então com 20 anos, não se atrevia a contrariar o esquema adotado nos choros da época. No depoimento ele diz ainda que a música era uma polca lenta.

-"O andamento era o mesmo de hoje e eu classifiquei de polca ou polca vagarosa. Mais tarde mudei para chorinho".

"Carinhoso" foi gravado, apenas instrumentalmente, em 1928 pela orquestra Típica Pixinguinha-Donga. Sobre essa gravação, o crítico Cruz Cordeiro publicou o seguinte comentário na revista Phonoarte (nº 11, de 15.01.1929):

- "Parece que o nosso popular compositor anda sendo influenciado pelos ritmos e melodias do jazz. É o que temos notado, desde algum tempo e mais uma vez neste seu choro, cuja introdução é um verdadeiro fox-trot e que, no seu decorrer, apresenta combinações de música popular yankee. Não nos agradou".

Essa crítica se tornou polêmica e atravessa décadas como alvo de outras discussões. Leia mais sobre isso e a íntegra da crítica em http://www.revistaphonoarte.com/ .

Ainda sem letra, 'Carinhoso' teria mais duas gravações apenas instrumentais. Apesar das três gravações e execuções em programas de rádio e rodas de choro, continuava até meados dos anos trinta ignorado pelo grande público.

Em outubro de 1936, um acontecimento iria contribuir de forma acidental para uma completa mudança no curso de sua história.

Encenava-se naquele mês no Teatro Municipal do Rio de Janeiro o espetáculo "Parada das Maravilhas", promovido pela primeira dama, Darcy Vargas, em benefício da obra assistencial Pequena Cruzada.

Convidada a participar do evento, a atriz e cantora Heloísa Helena pediu a seu amigo Braguinha uma canção nova que marcasse sua presença no palco. Não possuindo nenhuma na ocasião, o compositor aceitou então a sugestão da amiga para que pusesse versos no choro "Carinhoso".

-"Procurei imediatamente o Pixinguinha que me mostrou a melodia num dancing (o Eldorado) onde estava atuando. No dia seguinte entreguei a letra a Heloísa, que muito satisfeita, me presenteou com uma gravata italiana". 

Surgiu, assim, escrita às pressas a letra de "Carinhoso", que se tornaria um clássico e recebeu mais de duzentas gravações, desde a primeira em 28 de maio de 1937, lançada em disco RCA Victor, cantada por Orlando Silva, o cantor das multidões .


2 comentários:

  1. Boa Tarde Para todos do "Rio que Mora no Mar".

    A critica feita na Revista Phono-Arte, pelo articulista Cruz Cordeiro, sobre a primeira gravação instrumental de "Carinhoso", de Pixinguinha",fez com que o competente crítico ficasse conhecido como "um crítico pouco versado em jazz".

    A afirmação injusta e equivocada, decorre do simples fato de que a crítica quase sempre é transcrita de forma incompleta e fora do contexto em que foi escrita.

    Lancei na internet o site www.revistaphonoarte.com., sobre o crítico Cruz Cordeiro e a sua Revista Phono-Arte (1928-1931).

    Atenciosamente

    Antônio José Silva da Cruz Cordeiro - filho de Cruz Cordeiro e organizador do site acima.

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  2. Prezado Antonio,

    Retorno aqui, pois não tenho seu e-mail.
    Gostei de receber esse comentário e a explicação maior no seu site.
    Muitas vezes as informações completas se perdem e detalhes capengas acabam prejudicando histórias. A internet por isso é cada vez mais democrática e amiga e nos auxilia a refazer, repensar, corrigir. E é isso que o blog está fazendo no trecho referente à citação da crítica.
    Obrigada pela atenção.
    Elizabeth

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