sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Exemplo carioca

Sempre que se inicia o ano, se espera que aconteça isso ou aquilo; se espera que façam isso ou aquilo; se espera que se mude isso ou aquilo. E assim nosso Rio, bonito, mas tão deixado pra lá, vai seguindo sua trajetória de maus tratos, de pouco caso de tantos, de nós mesmos e, infelizmente - e até - dos que chegam que jogam lixo impunemente pelas ruas, como canso de ver aqui pelas ruas da minha querida Ipanema.
Mas enquanto muitos só esperam há gente que faz, há o lugar que faz, como é o caso do Clube de Regatas do Flamengo - que agora, pelo visto, está se firmando, com grandes atitudes na sua real dimensão de nação , e que a jornalista Cora Ronai nos conta, em sua coluna de O Globo. É dela o trecho que reproduzo, abaixo, com alegria e admiração. PARABÉNS MENGO! Exemplo a ser seguido.
  • Vale ler ou reler

    "Como nem só de misérias vive o mundo, às vezes se encontram ótimas surpresas em lugares completamente inesperados. Passo sempre em frente ao Flamengo, ali na Lagoa, e tudo o que vejo é o muro vermelho e preto, ótimo fundo para fotos diversas. No outro dia, por insistência das minhas amigas Heliana e Bernadete, mudei a rotina e entrei. Eu conhecia o Flamengo do tempo em que meus filhos eram crianças: o clube sempre foi simpático, mas não podia ser mais caído.Pois mudou muito! Achei-o animado e bem cuidado. No terreno lá atrás onde havia um lixão tenebroso, com entulho e despejos de toda sorte, encontrei um viveiro de plantas vistoso, com horta e várias espécies de plantas ornamentais. O Braga, sócio que “assumiu” a área, me contou que a beleza do pequeno horto vai além do que se vê: meninos de comunidades carentes vêm sendo treinados como jardineiros, e alguns já conseguiram emprego fora do clube. No momento, sete garotos que antes faziam malabarismo no sinal estão lá, aprendendo, entre outras coisas, a importância das minhocas:— Nós criamos umas minhocas vermelhas da Califórnia que são um espetáculo, — disse o Braga, empolgado, me oferecendo uma rosa perfeita que crescia num pé logo ali. — São alimentadas com restos de comida.

Foto: Cora Ronai - reprodução do blog http://cora.blogspot.com/

Reciclamos tudo. Luiz Paulo Segond, vice-presidente do chamado Fla-Gávea, acrescentou que, para que se abrisse espaço para as plantas, foram retirados de lá 200 caminhões de lixo. Gostei dele, um engenheiro tranqüilo que administra o clube como qualquer bom condomínio deve ser administrado: com a ajuda dos sócios, cada qual na sua especialidade e de acordo com o seu tempo e disponibilidade. Mais tarde, enquanto tomava um café na Boca Maldita, puxei papo com uma senhora a meu lado. Sandra Valéria, mãe da Barbara Lima, uma beldade de 14 anos vice-campeã brasileira de 100m borboleta, conseguiu fazer uma salinha para que as crianças possam deixar suas mochilas enquanto treinam, e para que as mães possam passar o tempo enquanto esperam pelos filhos. Não precisou de muito para isso: apenas um pequeno espaço, meia dúzia de cadeiras, uma televisão. E, ingredientes principais, boa vontade e falta de burocracia. Há muitas idéias brotando por trás do muro que, hoje, olho com mais interesse. Quando os sócios se envolvem com um clube daquele tamanho e encontram estímulo para isso, há motivo para comemorar. Afinal, o que está acontecendo no Flamengo é, no fundo, um belo exercício de cidadania. (O Globo, Segundo Caderno, 8.1.2009)"

Em tempo: Gosto sempre do texto inteligente da jornalista Cora Ronai, suas dicas de informática, seu amor especial pelos bichos, com o qual muito me identifico.

Um comentário:

  1. adorei a crônica de Cora Ronai. Sobre o Flamengo, volto no meu tempo de criança, quando morava no prédio ao lado da antiga sede, na Praia do Flamengo. Eu era frequentador assíduo da rampa localizada em frente ao clube e que dava acesso ao mar. Os remadores do Flamengo a usavam para colocar o barco na água. Muitos pulos dei do trampolim, nas brincadeiras de pegar. Já adolescente, participei da prova patrocinada pelo jornal "A Noite", que consistia na travessia Urca-Flamengo. Bons tempos.

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