Carioca da Rua da Estrela - que mereceu uma poesia sua - desde cedo mostrou seu talento , e Olavo Bilac, que tinha bons olhos, como Inspetor Escolar do Rio de Janeiro, lhe deu uma medalha de ouro por ter feito todo o curso primário — concluído em 1910, na Escola Estácio de Sá - com "distinção e louvor". Pintura a aquarela , que fiz no centenário de Cecília, em 2001
Nesse dia 7 de novembro, data do seu aniversário,escolhi a prosa de Cecília, num trecho interessante de " Depois do Carnaval"
" ...Neste país tão avançado e liberal — segundo dizem — há milhares de corações imperiais, milhares de sonhos profundamente comprimidos mas que explodem, no Carnaval, com suas anquinhas e casacas, cartolas e coroas, mantos roçagantes (espanejemos o adjetivo), cetros, luvas e outros acessórios.Aliás, em matéria de reinados, vamos do Rei do Chumbo ao da Voz, passando pelo dos Cabritos e dos Parafusos: como se pode ver no catálogo telefônico. Temos impérios vários, príncipes, imperatrizes, princesas, em etiquetas de roupa e em rótulos de bebidas. É o nosso sonho de grandeza, a nossa compensação, a valorização que damos aos nossos próprios méritos...Mas, agora que o Carnaval passou, que vamos fazer de tantos quilos de miçangas, de tantos olhos faraônicos, de tantas coroas superpostas, de tantas plumas, leques, sombrinhas...?
"Ved de quán poco valorSon las cosas tras que andamos Y corremos..." dizia Jorge Manrique. E no século XV! E falando de coisas de verdade!
"Ved de quán poco valorSon las cosas tras que andamos Y corremos..." dizia Jorge Manrique. E no século XV! E falando de coisas de verdade!
Mas os homens gostam da ilusão. E já vão preparar o próximo Carnaval..."
(extraído do livro "Quatro Vozes")
Cecília sempre foi minha poetisa brasileira favorita. Dentre as estrangeiras, sou fã de Elizabeth Barret Browning.
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MOTIVO
Cecília Meireles
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Apenas um reparo, a Rua da Estrela jamais ficou na Tijuca. Elaé uma das principais ruas do bairro do Rio Comprido, onde também fica a Escola Estácio de Sá.
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